Durante a edição de 1º de agosto da Money Week, promovida pela EQI Investimentos em Balneário Camboriú (SC), o painel “Retorno com Propósito: O Brasil verde que pode surpreender o mundo” reuniu especialistas para discutir o papel da infraestrutura no desenvolvimento sustentável e na transformação social do país.
Com mediação de Victor Uébe, head de Equities e Infra da EQI Asset, o encontro teve as participações de Miguel Ferreira, CEO da Bocaina Capital, e Gustavo Montezano, CEO da YvY Capital e ex-presidente do BNDES. A conversa reforçou que investimento com propósito vai além do discurso ESG: trata-se de uma necessidade urgente e uma grande oportunidade para investidores atentos ao longo prazo, à previsibilidade e à proteção contra inflação.
Oportunidade única no Brasil: déficit de R$ 300 bi ao ano
Miguel Ferreira abriu sua participação destacando a carência crônica de investimentos em infraestrutura no Brasil. Segundo ele, o país deveria investir entre R$ 500 bilhões e R$ 600 bilhões por ano, mas atualmente não alcança nem metade disso.
Essa lacuna cria uma oportunidade rara para investidores. Ferreira defendeu que a infraestrutura é uma classe de ativos ideal para a pessoa física por suas características: monopólios regulados, longo prazo, tarifas atreladas à inflação e fluxo de caixa previsível.
“Infraestrutura é uma matéria-prima perfeita para produtos financeiros voltados ao investidor comum. E hoje, a pessoa física já é o grande financiador da infraestrutura no Brasil por meio das debêntures incentivadas”, afirmou.
Saneamento como vetor de impacto social
Gustavo Montezano aprofundou o tema ao destacar o papel transformador do saneamento básico. Para ele, investimentos no setor têm retorno direto não apenas financeiro, mas também social, ambiental e patrimonial.
“O programa de privatização do saneamento iniciado em 2020 será, talvez, o maior programa de redução da desigualdade da história do Brasil — comparável ao Bolsa Família. Ele liberta famílias com mais saúde, mais educação e maior valorização imobiliária”, disse Montezano.
O ex-presidente do BNDES citou o caso da praia de Botafogo, no Rio de Janeiro, que foi limpa em apenas um ano após a concessão à iniciativa privada — um exemplo simbólico de como infraestrutura operada com eficiência pode gerar impacto ambiental imediato.
Infraestrutura como ativo financeiro global
Ao longo do painel, os palestrantes defenderam que o Brasil está entrando em um novo ciclo, no qual os projetos de infraestrutura serão estruturados com mais modernidade, regulação eficiente e participação de investidores privados, inclusive internacionais.
Montezano apontou que o movimento global está migrando capital de ativos líquidos para ativos reais e ilíquidos — como rodovias, hidrelétricas, portos e até fazendas — e que o Brasil tem tudo para liderar esse salto.
“O Brasil pode dar um salto geracional (‘leapfrog’) e se tornar referência global em infraestrutura moderna. Estamos falando de ativos com resiliência, duração longa e que contribuem para a descarbonização da economia”, explicou.
Especialização e retorno com propósito
Ferreira detalhou a estratégia da Bocaina Capital, que atua exclusivamente com crédito privado em infraestrutura. Segundo ele, o foco está em projetos médios, fora do radar dos grandes grupos, que oferecem spreads mais atrativos e pacotes robustos de garantia.
“Buscamos operações de R$ 50 a R$ 200 milhões com qualidade técnica e jurídica. Financiamos projetos de PPPs, saneamento, energia e outros com alto impacto e bom retorno ajustado ao risco.”
Ferreira ressaltou que os projetos aparecem em ondas setoriais, conforme o marco regulatório evolui, e destacou que a infraestrutura no Brasil está apenas no começo de um ciclo mais maduro.
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O Brasil como destino do capital verde global
Miguel Ferreira encerrou com uma reflexão sobre o contexto internacional. Em um mundo mais inflacionário, instável e impactado pelas mudanças climáticas, investidores globais estão buscando ativos de longa duração, protegidos da inflação e resilientes — características encontradas na infraestrutura brasileira.
“Nossa desvantagem histórica virou vantagem estratégica. O Brasil, além de precisar de infraestrutura, ainda tem muito a construir. Por isso, somos o destino ideal para quem busca investimento com propósito”, disse.
Infraestrutura é a base da sustentabilidade
Montezano reforçou que sustentabilidade, descarbonização e segurança alimentar só são viáveis com infraestrutura adequada.
“Como você transporta soja para a África a preço competitivo? Como limpa o resíduo da praia de Balneário Camboriú? Como reduz a emissão de carbono no transporte? A resposta é sempre a mesma: infraestrutura”, sintetizou.