No final de 2024, a cotação do dólar em relação ao real entrou em uma trajetória de forte alta, saltando dos R$ 5,42 e batendo o patamar recorde de R$ 6,30. Esse movimento foi impulsionado por fatores externos e internos.
O cenário externo foi a eleição de Donald Trump para seu segundo mandato nos EUA. O republicano tem uma visão mais protecionista da economia, pautada no lema MAGA (Make America Great Again, “Fazer a América Grande Novamente”). A tendência inicial foi uma valorização do dólar em relação a outras moedas, especialmente as de países emergentes, como o real.
No cenário interno, o receio do mercado quanto à sustentabilidade fiscal do governo brasileiro contribuiu para a volatilidade cambial. O anúncio do plano de ajuste fiscal, acompanhado da intenção de isentar do Imposto de Renda aqueles que ganham até R$ 5 mil, levantou dúvidas sobre a capacidade da administração petista de manter o equilíbrio das contas públicas.
Diante desse ambiente turbulento, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, se posicionou sobre a forte alta do dólar. No início de fevereiro, quando a moeda norte-americana ultrapassava os R$ 6, o ministro declarou que “não compraria dólar acima de R$ 5,70”.
Curiosamente, esse patamar foi atingido nesta semana, levando investidores a questionarem se seria o momento certo para dolarizar seus investimentos.
Para analisar o cenário e ver se vale pena “entrar no call de Haddad”, o portal EuQueroInvestir conversou com Alexandre Viotto, head de Banking da EQI Investimentos, que explicou os fatores que levaram à recente queda do dólar e se vale a pena seguir a sugestão implícita do ministro da Fazenda.
Dólar: “Não houve uma mudança estrutural, mas uma antecipação de estratégia”, destaca Viotto
Para Viotto, a recente queda do dólar não representa uma mudança estrutural na economia, mas sim um movimento especulativo impulsionado por fatores políticos e expectativas de mercado. Ele destaca que, até o final de 2024, a forte valorização da moeda americana ocorreu devido à saída de capital do país e à incerteza fiscal.
“Tivemos a intervenção do Banco Central no fim do ano passado para conter uma depreciação maior do real. Mas, em termos de crescimento e trajetória da dívida, o país segue o mesmo“, explicou.
“A única diferença é que agora há uma antecipação dos movimentos eleitorais, e o mercado já está precificando uma possível mudança de governo”, complementa.
O especialista aponta que a recente queda do câmbio tem relação com o aumento da atratividade dos títulos públicos brasileiros, que passaram a pagar IPCA +7% alto, chegando a IPCA +8% em alguns momentos.
“Esse movimento lembra o que aconteceu antes do impeachment da Dilma, quando muita gente comprou títulos públicos esperando um governo mais pró-mercado. Se essa percepção de troca de governo continuar, o real pode seguir valorizando”, argumenta Viotto.
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O impacto da política na cotação
Viotto relata que a principal razão para a recente queda do dólar está na antecipação do mercado às eleições presidenciais de 2026.
“Os investidores estão precificando uma mudança de governo. O presidente Lula enfrenta problemas de aprovação e sua comunicação tem gerado ruídos. Esse ‘trading de eleição’ se reflete diretamente no câmbio“, afirmou.
Além do fator doméstico, ele cita uma certa estabilização no cenário geopolítico externo. “Trump está mais tranquilo em relação às tarifas, o Oriente Médio deu sinais de menor tensão e a guerra na Ucrânia pode estar caminhando para um desfecho nas próximas semanas“, pontuou.
Vale comprar dólares agora?
Com o dólar em queda e testando os patamares vistos antes da fuga de capital no final de 2024, Viotto defende uma estratégia de dolarização contínua.
“Se fazia sentido comprar dólar a R$ 6,30, faz ainda mais a R$ 5,70. Não precisa dolarizar tudo de uma vez, mas ter uma exposição constante é uma boa estratégia“, recomendou.
Quanto ao futuro da moeda americana, Viotto avalia que a tendência de queda pode se manter caso Lula não consiga viabilizar uma reeleição ou precise apoiar um novo candidato.
“Lembra um pouco o que aconteceu com Joe Biden nos EUA, com incertezas sobre sua candidatura. Mas aqui não temos um nome forte como Trump para liderar a oposição“, comentou.
Por fim, ele alerta que a tendência pode se reverter rapidamente dependendo das condições políticas e fiscais. “Não houve mudança estrutural. Se o cenário político mudar, o mercado pode reagir e o dólar voltar a subir“, concluiu Viotto.
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