A norte-americana Strategy voltou a expandir sua tesouraria em Bitcoin (BTC) nesta semana. A companhia adquiriu US$ 835,6 milhões em BTC, mesmo em um momento de turbulência no setor — uma postura que, embora chamativa, se alinha à visão de seu cofundador e presidente executivo, Michael Saylor, figura recorrente no universo cripto e apelidado no mercado financeiro de “guru cripto”.
A aposta reforça a estratégia que Saylor vem promovendo globalmente: transformar empresas em Bitcoin Treasury Companies, organizações que incorporam BTC à sua estrutura de capital como forma de gerar valor ao negócio e aos acionistas. Durante o evento OranjeBTC Summit 2025, o executivo defendeu que o movimento marca “o início de uma nova era nas finanças globais”, alicerçada em instrumentos financeiros integralmente lastreados no criptoativo.
Para Saylor, as empresas que se consolidarem como “campeãs nacionais” — ou seja, as maiores detentoras corporativas de Bitcoin em seus respectivos países — terão vantagens competitivas estruturais em seus mercados locais. Ele argumenta que o “crédito digital”, como define, representa uma nova classe de ativos, capaz de maximizar o fluxo de caixa para investidores.
Strategy: forte pressão
A ofensiva da Strategy ocorre enquanto a própria companhia vive um período de forte pressão no mercado acionário. Nas últimas semanas, suas ações acumulam queda de 42%, sendo negociadas em torno de US$ 175, superando inclusive a correção recente do Bitcoin. O valor de mercado da empresa caiu abaixo do montante de suas reservas em BTC, dificultando a capacidade de captar recursos.
O cenário acende alertas regulatórios. Em 10 de outubro, a MSCI informou que avalia como classificar empresas cuja atividade de captação de recursos se destina principalmente à compra de ativos digitais, especialmente quando esses respondem por mais de 50% do total de ativos. Historicamente, a Strategy levantou capital emitindo ações ordinárias para adquirir Bitcoin. Com a estratégia menos rentável, passou a emitir ações preferenciais com pagamento de dividendos. A decisão da MSCI sobre sua permanência ou não em índices de referência será anunciada em 15 de janeiro.
Saylor, no entanto, minimiza o risco de exclusão. Em declarações publicadas no X, afirmou que a Strategy “não é um fundo, nem um trust, nem uma holding”, mas sim “uma empresa operacional de capital aberto, com um negócio de software de US$ 500 milhões e uma estratégia de tesouraria única que usa Bitcoin como capital produtivo”. Segundo ele, a classificação em índices “não define” a maior detentora corporativa de BTC do mundo.
Ainda relevante
Mesmo pressionada, a Strategy mantém relevância no mercado financeiro. Atualmente avaliada em US$ 55 bilhões, a companhia chegou a registrar reservas de Bitcoin próximas a US$ 80 bilhões em 7 de outubro, de acordo com o Bitcoin Treasuries.
Seu peso crescente no mercado rendeu sua entrada no Nasdaq-100 no fim do ano passado, o que levou a compras líquidas estimadas em US$ 2,1 bilhões, segundo o analista da Bloomberg, James Seyffart. No S&P 500, embora tenha se qualificado para inclusão em setembro, a empresa não foi selecionada — enquanto Coinbase e, mais recentemente, Robinhood, foram adicionadas ao índice.
Saylor reafirma que o compromisso da empresa com o Bitcoin permanece “inabalável”, defendendo que a estratégia de tesouraria baseada no criptoativo continuará guiando o posicionamento da companhia, mesmo diante de volatilidade, pressão regulatória e incertezas de mercado.
Leia também:






