Após anos de marasmo, o mercado de capitais de Hong Kong volta a ganhar fôlego e protagonismo no cenário global. O entusiasmo renovado de investidores e empresas chinesas levou a Bolsa de Valores da cidade a registrar o seu semestre mais forte em captação de recursos desde 2021, com destaque para uma disparada nas novas listagens.
De acordo com a Dealogic, os volumes de IPO (ofertas públicas iniciais) em Hong Kong cresceram cerca de oito vezes no primeiro semestre de 2025, alcançando US$ 14 bilhões — ante apenas US$ 1,8 bilhão no mesmo período de 2024. O dado desconsidera listagens via SPACs (empresas de propósito específico para aquisições).
Ao todo, foram 43 novas listagens na primeira metade deste ano, com receitas de US$ 13,6 bilhões, segundo a plataforma Wind Information. Em comparação, ao longo de todo o ano de 2024 foram apenas 73 IPOs que levantaram US$ 5,9 bilhões, conforme a HKEX.
Hong Kong: liderança global em IPOs
Com esse desempenho, a cidade chinesa se aproxima da liderança global em captação por IPOs, podendo superar inclusive as tradicionais bolsas dos Estados Unidos, como Nasdaq e NYSE. A PwC projeta até 100 novas listagens na cidade ainda em 2025, com volume total estimado em mais de US$ 25,5 bilhões.
O novo ciclo de otimismo é impulsionado por uma série de fatores. Entre eles, estão as sinalizações favoráveis de Pequim, que tem incentivado empresas chinesas a buscarem capital em Hong Kong, o ritmo mais lento de listagens de ações A no continente, e os receios de restrições e fechamento de capital nos mercados dos EUA.
“A confluência de liquidez abundante, regulação mais favorável e preocupações com acesso ao mercado americano está redirecionando o fluxo de empresas para Hong Kong”, explica Steven Sun, chefe de estratégia de ações da China no HSBC.
A retomada do apetite por IPOs marca uma reviravolta em relação ao cenário recente, quando a pandemia e a desaceleração econômica deixaram o mercado de capitais de Hong Kong em segundo plano. Agora, com o novo impulso, a cidade volta a se posicionar como um dos centros financeiros mais dinâmicos do mundo.
Um exemplo disso é Shein. Esta semana, a empresa protocolou confidencialmente um pedido de IPO na Bolsa de Valores de Hong Kong. A informação foi divulgada pela agência Reuters na terça-feira (1º). A entrega do prospecto, segundo fontes próximas ao processo, deve ocorrer até o início da próxima semana. A estratégia da Shein, pouco comum no mercado asiático, permite que a companhia mantenha em sigilo dados estratégicos e financeiros enquanto aguarda avaliação das autoridades regulatórias. Esse modelo é amplamente utilizado nos Estados Unidos, mas segue raro na Ásia — especialmente para empresas de grande porte.