Gestores globais de fundos de mercados emergentes estão direcionando sua atenção para a América Latina, avaliando que o próximo grande movimento de valorização pode surgir de uma onda de eleições que tem potencial para redesenhar o mapa político regional. A expectativa é de que resultados favoráveis a candidatos alinhados ao presidente americano Donald Trump impulsionem ativos locais, reproduzindo o rali observado recentemente na Argentina.
A vitória legislativa do presidente Javier Milei, acompanhada de um apoio público incomum dos Estados Unidos, tornou-se um marco para investidores. Para muitos fundos, o desempenho argentino passou a ser tratado como um estudo de caso sobre como viradas políticas à direita — especialmente quando vistas como pró-Trump — podem gerar ganhos expressivos em mercados emergentes, de acordo com matéria do jornal Valor Econômico.
Fundos e América Latina: cenário de eleições
Nos próximos 12 meses, Chile, Colômbia e Brasil realizarão eleições presidenciais, cenário que tem elevado o interesse de investidores internacionais. A leitura predominante é que uma possível inflexão à direita nesses três países poderia criar um ciclo de valorização semelhante ao argentino.
“Vocês estão diante de um possível movimento pendular em direção à direita na América Latina”, afirmou Pramol Dhawan, chefe de gestão de portfólios de mercados emergentes da Pimco. “Se houver uma guinada à direita, esses ativos vão disparar — não haverá nada remotamente próximo dos retornos que você obteria nos mercados locais brasileiros ou colombianos.”
Investimento estrangeiro
A América Latina e o Caribe receberam 188,962 bilhões de dólares em investimento estrangeiro direto (IED) em 2024, avanço de 7,1% em relação ao ano anterior, segundo relatório divulgado pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (CEPAL). Apesar da alta, o montante segue abaixo dos padrões da década passada: o IED representou 13,7% da formação bruta de capital fixo e 2,8% do PIB regional, ambos inferiores aos níveis registrados nos anos 2010, quando essas proporções alcançaram 16,8% e 3,3%, respectivamente.
A CEPAL destaca que o crescimento do IED em 2024 foi puxado principalmente pelo reinvestimento de lucros de empresas transnacionais já instaladas na região. Em contrapartida, as contribuições de capital — geralmente associadas à entrada de novas empresas — permaneceram paralisadas, evidenciando menor interesse de novos grupos em se estabelecer no continente. Ao mesmo tempo, anúncios de projetos aumentaram, impulsionados sobretudo por investimentos no setor de hidrocarbonetos. Já as energias renováveis e segmentos de maior intensidade tecnológica perderam participação.
Os resultados foram desiguais entre as sub-regiões. As entradas cresceram no Caribe, na América Central e no México, enquanto a América do Sul apresentou comportamento heterogêneo. O desempenho do Brasil, com alta de 13,8%, e do México, com salto de 47,9%, foi crucial: juntos, os dois países concentraram 62% do IED regional, com participações de 38% e 24%, respectivamente. Colômbia, Chile e Argentina completam a lista dos cinco maiores receptores, embora todos tenham registrado queda frente a 2023.
Setorialmente, houve avanço dos investimentos na indústria manufatureira, que representou 43,6% do total, enquanto o setor de serviços perdeu espaço e respondeu por 40,4%. Os recursos naturais, historicamente relevantes para a região, ficaram com apenas 16%.
No recorte por origem, os Estados Unidos consolidaram-se como o maior investidor, responsáveis por 38% do total aplicado em 2024. A União Europeia — excluindo Luxemburgo e Países Baixos — respondeu por 15%, sua menor participação desde 2012. Já os investimentos originados na própria América Latina e no Caribe atingiram 12%, tornando-se a terceira principal fonte. A China, apesar de sua crescente presença global, respondeu oficialmente por apenas 2% das entradas de IED, número subestimado, segundo a CEPAL, devido ao uso de intermediários e à prevalência de modalidades que não constituem IED tradicional, como concessões e contratos de construção.
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