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ESG e investimentos de impacto ganham espaço entre UHNWIs

ESG e investimentos de impacto ganham espaço entre UHNWIs

Com foco em legado, sustentabilidade e governança, o público de altíssima renda amplia a presença em estratégias de impacto e investimentos ESG

A agenda ESG (Environmental, Social and Governance) ganhou relevância nas últimas décadas, impulsionada por desafios como as mudanças climáticas, a desigualdade social e as crises de governança corporativa. 

Nesse contexto, investidores de altíssimo patrimônio — os chamados Ultra High Net Worth Individuals (UHNWIs) — passaram a integrar esses critérios em suas estratégias patrimoniais, buscando não apenas retorno financeiro, mas também impacto socioambiental no mundo.

De acordo com uma pesquisa da Statista realizada em 2023, 50% dos investidores profissionais no mundo afirmam planejar aumentar suas alocações em setores socialmente responsáveis, o que indica que o interesse por investimentos sustentáveis deve continuar crescendo nos próximos anos.

Esse movimento reflete uma mudança mais profunda na forma como os UHNWIs enxergam o papel do capital: de ferramenta de preservação patrimonial para instrumento de legado e transformação. Mais do que retorno financeiro, esses investidores buscam perpetuar valores e gerar impacto positivo.

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O que diferencia o investimento de impacto do ESG tradicional

Embora frequentemente associados, ESG e investimento de impacto representam abordagens distintas.

O ESG funciona como um filtro de riscos — privilegia empresas que adotam boas práticas ambientais, sociais e de governança, reduzindo a exposição a eventos negativos e fortalecendo a reputação corporativa. 

Já o investimento de impacto vai além: busca criar transformação positiva mensurável, direcionando capital a projetos e negócios que têm como objetivo explícito gerar benefícios sociais ou ambientais.

Como explica Caio Athie Teruel, gestor patrimonial da CIMO Family Office, os dois conceitos se complementam, mas atendem a propósitos diferentes:

“Fatores ESG podem ser utilizados na avaliação de políticas internas e na seleção de ativos por parte de uma gestora, servindo a diferentes propósitos que não necessariamente envolvem impacto direto. Já quando falamos em investimento de impacto, estamos nos referindo a alocações que têm, como parte explícita de seu objetivo, a geração de resultados positivos ligados a fatores ESG.”

Entre os principais exemplos de investimentos de impacto estão fundos temáticos de energia limpa, educação, saúde, moradia social e tecnologia climática, além de green bonds, social bonds e ventures dedicados à inovação ambiental.

ESG x Investimento de Impacto: o que os diferencia

TipoObjetivo principalIndicador-chaveExemplo de ativo
ESGReduzir riscos ambientais, sociais e de governançaScore ESG ou rating MSCI/SustainalyticsETFs ESG, fundos de empresas com boas práticas
ImpactoGerar resultado socioambiental mensurável e retorno financeiroKPIs de impacto (número de vidas impactadas, emissões evitadas etc.)Fundo de microcrédito, venture climático

O perfil e as motivações dos UHNWIs

Entre investidores de altíssimo patrimônio, o legado familiar e a filantropia estratégica ocupam posição central nas decisões de investimento.

Para esses clientes, o capital não é apenas um instrumento de rentabilidade, mas um meio de expressar valores e princípios.

“O tema do legado é um dos eixos centrais nas decisões de investimento dos nossos clientes UHNW. Na prática, quando falamos de legado, não estamos apenas tratando da transferência de patrimônio entre gerações, mas da preservação de valores, princípios e objetivos familiares ao longo do tempo. Para nossos clientes, o legado orienta tanto a estratégia de risco quanto o propósito do capital”, afirma Teruel.

O executivo explica ainda que, na CIMO, a gestão patrimonial é totalmente personalizada — moldada conforme os valores e aspirações de cada família:

“Nosso foco é a gestão patrimonial de famílias de alto patrimônio, o que exige uma abordagem menos generalista e muito mais personalizada. Isso reduz a utilidade de métricas genéricas e direciona a análise para objetivos específicos.”

Esse perfil também reflete uma mudança geracional: sucessores de grandes fortunas estão mais engajados com temas ambientais, diversidade e inclusão, o que aumenta a pressão sobre family offices e gestores para incorporar esses princípios nas carteiras.

Onde e como investir em impacto

As oportunidades em investimentos de impacto se ampliaram com o avanço de novas classes de ativos e produtos financeiros voltados à sustentabilidade. Entre as principais alternativas estão:

  • Fundos temáticos voltados a clima, educação, saúde e inclusão financeira;
  • Venture capital de impacto, que apoia startups de tecnologia limpa e inovação social;
  • Green bonds e social bonds, títulos de dívida usados para financiar projetos ambientais ou sociais;
  • Private equity sustentável, voltado a empresas com práticas ESG robustas;
  • e projetos de infraestrutura verde, como energia renovável, biogás, reflorestamento e agricultura regenerativa.

De acordo com Teruel, os fatores ESG têm papel fundamental na geração de valor sustentável:

“Os fatores ESG são fundamentais na seleção de investimentos que buscam retornos sustentáveis no longo prazo, atuando tanto na mitigação de riscos quanto na captura de oportunidades de retorno. Quando entendidos dessa forma, mais do que uma simples classe de ativos, eles se tornam ferramentas relevantes na geração de valor.”

No entanto, ele destaca que o investimento de impacto, por ter foco direto na transformação social ou ambiental, pode ter retornos mais restritos em relação às estratégias tradicionais:

“Quando direcionamos o foco estritamente para investimentos de impacto, o escopo de atuação costuma ser mais limitado. Como consequência, os retornos tendem a ser mais restritos em comparação ao mercado mais amplo, justamente porque a prioridade passa a ser o impacto, e não a maximização financeira.”

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Exemplo prático: Match Point Brasil, o investimento que une retorno e propósito

Um exemplo de investimento de impacto estruturado no Brasil é o Fundo Match Point Brasil FIRF, distribuído pela EQI Investimentos.

O produto alia retorno financeiro conservador, com rentabilidade atrelada ao CDI, à promoção do tênis nacional de alto rendimento, financiando treinamentos, viagens e suporte técnico para atletas em desenvolvimento.

De acordo com informações oficiais, 100% da taxa de gestão é destinada ao projeto esportivo, coordenado pelo Instituto Tennis Route, referência na formação de tenistas profissionais no país.

Entre os atletas beneficiados estão nomes como Thiago Monteiro, Matheus Pucinelli e João Lucas Reis, além de jovens talentos das categorias de base.

Com liquidez diária (D+0) e alocação majoritariamente em Letras Financeiras do Tesouro e de bancos, o fundo combina segurança, propósito e impacto social mensurável, reforçando a tendência de produtos que unem performance e propósito dentro do universo ESG.

Atualmente, o Match Point Brasil possui patrimônio líquido de cerca de R$ 40 milhões e 97 cotistas, de acordo com dados da plataforma Mais Retorno, com desempenho médio equivalente a 99% do CDI.

O papel das instituições financeiras e o avanço no private banking

O avanço da agenda ESG entre os investidores de alta renda tem levado bancos, gestoras e family offices a redesenhar seus produtos e mandatos.

Na visão da CIMO, o papel dessas instituições é traduzir o propósito de cada família em uma estratégia patrimonial coerente e mensurável.

“Na CIMO entendemos que o papel dos family offices é atuar como tradutor e organizador das prioridades patrimoniais de cada família. Mais do que promover uma tese única ou seguir indicadores genéricos, nosso trabalho consiste em entender profundamente os valores, objetivos e horizonte de cada cliente, seja ele orientado à preservação patrimonial, filantropia, geração de impacto ou busca de retornos financeiros consistentes”, afirma Teruel.

O movimento também é impulsionado pela demanda por transparência e novas regulamentações internacionais, que devem exigir métricas mais padronizadas de impacto nos próximos anos.