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ASML: a gigante europeia que molda o futuro dos chips

ASML: a gigante europeia que molda o futuro dos chips

Sem ASML, não existiriam os chips de última geração usados por empresas como TSMC, Samsung e Intel

Na base de cada computador, celular, satélite, carro elétrico, datacenter de IA ou dispositivo médico existe um elemento comum: os chips. E, por trás desses chips, existe uma empresa cuja tecnologia é tão avançada que nenhum país — nem os Estados Unidos, nem a China — consegue replicar: a ASML (ASML; ASML34).
Com sede em Veldhoven, na Holanda, a multinacional é hoje o maior fornecedor mundial de sistemas de litografia, as máquinas que “desenham” circuitos microscópicos em wafers de silício. Não se trata de fabricar chips, mas de fornecer o equipamento sem o qual nenhum chip pode ser feito. É a espinha dorsal silenciosa de toda a indústria de semicondutores.

Fundada em 1984 como uma pequena joint venture entre a Philips e a ASM International, a ASML começou em um galpão de madeira com goteiras. Quatro décadas depois, tornou-se a empresa de tecnologia mais valiosa da Europa — avaliada em cerca de US$ 270 bilhões em 2023 — e emprega mais de 42 mil pessoas em 60 unidades distribuídas por 16 países.

A palavra-chave que transformou a ASML em um ator geopolítico de peso é EUV — extreme ultraviolet lithography. A partir de 2022, a empresa tornou-se a única fabricante global de máquinas de litografia EUV, indispensáveis para produzir chips avançados abaixo de 7 nanômetros. É tecnologia tão complexa que cada equipamento custa cerca de 150 milhões de euros, exige 40 contêineres para transporte e utiliza lasers capazes de vaporizar gotículas de estanho para gerar luz em comprimento de onda de 13,5 nm.

Sem ASML, não existiriam os chips de última geração usados por empresas como TSMC, Samsung e Intel. Essa posição única colocou a companhia no centro das disputas econômicas globais — especialmente porque governos, incluindo Estados Unidos e China, entendem que controlar o acesso à litografia significa controlar o futuro da tecnologia.

ASML: da litografia de imersão à fronteira de 2 nanômetros

Antes de dominar o mercado de EUV, a ASML consolidou sua liderança com sistemas DUV e de litografia de imersão, desenvolvendo tecnologias em parceria com o centro belga Imec e com a fabricante alemã Zeiss, responsável pelas lentes e espelhos ultrafinos usados nas máquinas.

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Nos anos 2000, a empresa enfrentou momentos turbulentos. A crise de 2008 derrubou vendas e levou à redução de mil postos de trabalho. Mas, poucos anos depois, a demanda explodiu, impulsionada pela miniaturização dos chips e pelo crescimento do mercado móvel.

Campus da ASML, na Holanda. Foto: Divulgação

Em 2012, a Intel investiu US$ 4,1 bilhões na ASML para acelerar o avanço da EUV. No mesmo ano, a companhia adquiriu a Cymer, fabricante essencial das fontes de luz usadas nos equipamentos. Em 2016, comprou a Hermes Microvision, fortalecendo sua capacidade de produzir semicondutores cada vez menores.

A ascensão da ASML atraiu não apenas clientes, mas também tensões diplomáticas e espionagem.
Em 2015 e novamente em 2023, funcionários foram acusados de roubar propriedade intelectual, incluindo casos dentro da subsidiária no Vale do Silício, com suspeitas de conexões chinesas.

A partir de 2018, os Estados Unidos passaram a pressionar o governo holandês a impedir a exportação de máquinas EUV para a China. O argumento: proteger a liderança ocidental em semicondutores. A proibição virou parte da “guerra do chip” — um braço tecnológico da disputa entre China e EUA.

Para a ASML, isso representa tanto oportunidade quanto risco. A demanda global por chips nunca foi tão grande, mas a empresa se vê obrigada a navegar por um cenário onde tecnologia, comércio e diplomacia se entrelaçam como nunca.

Da pesquisa ao campo: uma organização moldada para inovar

A estrutura organizacional da ASML se baseia em três pilares:
– pesquisa e desenvolvimento;
– produção;
– suporte ao cliente.
Em conjunto, esses setores garantem que as máquinas gigantes e delicadíssimas funcionem sem falhas em fábricas ao redor do mundo.

A empresa mantém escritórios e bases de serviço em mercados estratégicos, incluindo Estados Unidos, Alemanha, Coreia do Sul, Taiwan, Israel e China — a combinação exata dos países que definem o futuro dos semicondutores.

A ASML domina diversas tecnologias, incluindo:

Litografia de imersão — usada pela TSMC desde 2004, permite produzir chips de 32 nm com alta produtividade.
Litografia DUV — base da produção global de chips por décadas.
Litografia EUV — equipamento crucial para chips de 5 nm, 3 nm e, em breve, 2 nm.
Litografia de nanoimpressão — setor no qual mantém forte portfólio de propriedade intelectual.

Cada máquina ASML manipula imagens ópticas para criar os padrões microscópicos que viram transistores, memórias e processadores. Em 2011, a empresa já detinha 67% das vendas mundiais de litografia — um número que só aumentou nos anos seguintes.

Embora não fabrique chips, a ASML “habilita” todo o restante da cadeia. Seus equipamentos são a porta de entrada para a próxima geração da computação — de inteligência artificial a supercomputadores, passando por carros autônomos e redes 6G.

Com sede em um país pequeno e marcado pela cooperação internacional, a ASML construiu não apenas máquinas, mas um ecossistema tecnológico global. Seu impacto vai além da indústria: define rumos econômicos, geopolíticos e sociais.

Indicação pela EQI Resarch

Recentemente, o analista da EQI Research Nícolas Merola destacou a holandesa como opção de investimento no relatório da série “Ideias de Trade” da casa de análises. No documento, Merola ressaltou o posicionamento estratégico da companhia no mercado de semicondutores e seu papel fundamental como beneficiária indireta do atual boom de investimentos em Inteligência Artificial (IA).

“O ponto importante aqui da tese de ASML está ligado com o boom da Inteligência Artificial. A companhia, que é muito mais antiga do que a própria IA, está se beneficiando desse processo de investimentos massivos no desenvolvimento dessa tecnologia”, explicou Merola, no relatório.

Merola enfatizou que o principal atrativo da tese é o domínio da ASML. De acordo com ele, essa empresa tem um posicionamento tão dominante nesse mercado de máquinas de litografia que é considerado um monopólio.

Esse posicionamento permite que a empresa capture a demanda crescente de todo o setor, que inclui clientes variados como Samsung, TSMC e outros grandes produtores de chips. O analista vê a tese como potencialmente positiva e, ao mesmo tempo, “relativamente defensiva” para o investidor.

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