Mesmo em meio à instabilidade política e econômica na Argentina, o Mercado Livre (MELI; MELI34) segue com forte desempenho no país, que se consolidou como um dos principais motores de crescimento da companhia.
Em relatório divulgado nesta terça-feira (9), os analistas Luiz Guanais, Pedro Lima e Yan Cesquim, do BTG Pactual (BPAC11), destacam que a operação argentina foi responsável por quase um quarto da receita líquida do grupo no primeiro semestre de 2025, mas alertam para riscos crescentes no horizonte.
De acordo com o banco, a Argentina gerou US$ 2,9 bilhões em receitas líquidas no período, ou 23% do total consolidado do Mercado Livre. Além disso, respondeu por 44% da contribuição direta do grupo — que atingiu US$ 2,95 bilhões —, com margem de 45%.
“A operação local fornece tanto uma reserva financeira quanto um campo de testes para produtos de margens altas”, apontam os analistas.
O desempenho é impulsionado, sobretudo, pela divisão de serviços financeiros, incluindo pagamentos, carteiras digitais e crédito. As receitas de fintech no país cresceram 81% na base anual, alcançando US$ 1 bilhão no segundo trimestre — 34% de toda a receita de fintech do grupo.
A Argentina também já responde por 17% do volume bruto de mercadorias (GMV) do e-commerce da companhia.
Vale lembrar que o GMV (Gross Merchandise Volume), ou Volume Bruto de Mercadorias, é o valor total de todas as vendas feitas dentro da plataforma em um período específico. Ele não desconta taxas, comissões nem devoluções — por isso, serve como um termômetro do tamanho e do crescimento do negócio, mostrando o quanto de dinheiro circula no marketplace.
Entre as iniciativas recentes, o Mercado Livre lançou um cartão de crédito em parceria com a Mastercard (MA; MSCD34) e pediu autorização para abrir um banco digital no país, além de ter recebido aval para emitir títulos de dívida no mercado local.
A companhia também anunciou investimentos de US$ 2,6 bilhões na Argentina em 2025, expandindo operações e reforçando sua presença no segmento de supermercados no marketplace.
Como está o Mercado Livre na Argentina, sede da maior empresa de e-commerce da América Latina? Instabilidade política e concorrência em alta
Apesar da melhora recente em variáveis macroeconômicas — como a redução da inflação e o fim dos controles de capital —, o BTG ressalta que o cenário político argentino coloca volatilidade às projeções.
O presidente Javier Milei sofreu derrotas expressivas nas eleições provinciais em Buenos Aires, um termômetro para as eleições nacionais de meio de mandato, e enfrenta denúncias de corrupção envolvendo sua irmã, Karina Milei, além de queda na confiança pública e dificuldades para aprovar reformas econômicas no Congresso.
O risco país voltou a subir e a governabilidade de Milei está ameaçada, o que pode comprometer o ambiente de negócios no médio prazo.
“A Argentina continua sendo um mercado de alto retorno e alto risco, onde a execução e a agilidade regulatória definirão se o Mercado Livre manterá seu papel como espinha dorsal das fintechs do país”, avalia o BTG.
Além do ambiente político conturbado, a competição também se intensifica. A Amazon (AMZN; AMZO34), por exemplo, passou a oferecer frete gratuito para produtos enviados dos Estados Unidos à Argentina, sinalizando que pretende disputar espaço com o Mercado Livre no comércio eletrônico local.
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Desafios para margens e perspectivas
Os analistas do BTG ajustaram suas projeções após os resultados do segundo trimestre. As estimativas de GMV subiram 10%, mas o EBIT caiu 6% e o lucro líquido, 9%, refletindo maiores investimentos e pressão nas margens.
O preço-alvo das ações foi revisado para R$ 125 em 2026, ante R$ 130 para 2025, com a manutenção da recomendação de compra.
O banco pondera que, embora o crescimento da operação argentina seja expressivo, a valorização das ações do Mercado Livre na B3 — negociadas a 41 vezes o lucro projetado para 2026 — dependerá da capacidade da companhia de transformar os investimentos atuais em ganhos de lucratividade, sem perder participação para novos concorrentes.