Nesta semana, a Argentina viveu um marco histórico: o fim do controle cambial, popularmente conhecido como “cepo”.
A liberação do dólar para transações livres no país, após anos de restrições severas, foi anunciada pelo presidente Javier Milei e é vista como um passo decisivo para a reintegração da Argentina ao mercado financeiro internacional.
Para Alexandre Viotto, head de Banking da EQI Investimentos, a medida é um desdobramento importante dentro de uma estratégia mais ampla do novo governo argentino. “Foi o terceiro passo relevante da agenda econômica de Milei desde sua posse”, afirma.
O primeiro movimento foi o controle fiscal, com cortes significativos de gastos públicos, que já permitiram ao país operar com superávit primário de 1,3% neste ano, podendo chegar a até 1,6%. O segundo, o início de uma desaceleração inflacionária, que passou a rodar na casa dos 2% ao mês — um avanço notável para um país que convivia com taxas mensais muito superiores.
A liberação cambial, viabilizada após um acordo de empréstimo de US$ 20 bilhões com o Fundo Monetário Internacional (FMI), deu ao Banco Central argentino recursos em dólar para garantir as trocas com o peso.
“Era um passo necessário, e a expectativa era de que o peso se desvalorizasse no curto prazo — o que de fato aconteceu”, diz Viotto.
Na segunda-feira (14), o primeiro dia de câmbio liberado, o peso argentino caiu cerca de 12% em relação ao dólar.
“Esse overshooting era esperado. Mas na terça-feira (15) já houve um repique e certa estabilidade ao longo da semana”, comenta.
O novo sistema prevê uma banda cambial entre 1.100 e 1.400 pesos por dólar, dentro da qual o câmbio poderá oscilar sem intervenção direta do Banco Central. Apesar da margem de controle, o modelo aproxima-se de um regime flutuante e remete ao “tripé macroeconômico” adotado no Brasil a partir de 1999, sob o governo Fernando Henrique Cardoso e com Armínio Fraga no comando do Banco Central.
Fim do controle cambial na Argentina: de volta ao mercado global
Viotto destaca que, apesar da volatilidade inicial, a liberação do câmbio é positiva.
“Abre caminho para que a Argentina volte a ser vista como uma economia viável dentro do sistema financeiro global. Ainda é cedo para falar em investimentos diretos ou compra de títulos argentinos, mas é um começo promissor”, avalia.
Segundo ele, o sucesso da medida dependerá da continuidade das reformas e da consolidação fiscal. “Se a Argentina conseguir sustentar essa trajetória — com inflação ancorada, contas públicas ajustadas e câmbio funcional —, pode, sim, trilhar um caminho semelhante ao que países mais desenvolvidos seguiram.”
Viotto ressalta que o momento ainda exige cautela, e ainda não é o momento para migrar investimentos para lá, mas reconhece a importância simbólica e prática da decisão: “Depois de tanto tempo isolada, a Argentina começa a levantar a cabeça. O fim do ‘cepo’ foi uma mensagem clara ao mundo: o país quer voltar a jogar o jogo do mercado global.”
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