Em um cenário de petróleo barato e volatilidade global, a commodity voltou a ser negociada perto de US$ 60 por barril — um nível considerado “historicamente baixo” pelos analistas. A queda contínua do preço da commodity intriga investidores, especialmente no Brasil, onde a Petrobras (PETR4) é uma das ações mais negociadas da Bolsa.
Para entender o movimento, Nícolas Merola, analista da EQI Research, explica que o cenário atual é resultado direto de uma reorganização da oferta global combinada a mudanças estruturais no consumo de energia.
Segundo Merola, o conflito de interesses em torno do petróleo intensificou-se nos últimos anos.
“De um lado, os produtores de petróleo fazem todo o esforço para que o preço suba e suas margens aumentem. Do outro lado, gestores públicos e a população querem preços mais baixos para conter pressões inflacionárias e permitir juros menores”, afirma.
Nesse embate, o lado dos produtores deixou de ser dominante, como já foi no passado.
Nos últimos anos, a produção global aumentou significativamente, principalmente nos Estados Unidos.
Merola destaca que, no passado recente, a oferta era controlada por grandes produtores — como Rússia e países membros da Opep —, que ajustavam gradualmente a produção para manter preços elevados.
“Chegou um momento em que a demanda começou a impor que a produção crescesse mais rápido”, explica o analista. Com isso, a oferta avançou com força e os preços começaram a ceder.
Esse movimento ficou conhecido como “fenômeno Trump”, pela influência direta da política norte-americana no mercado. Durante sua campanha e governo, Donald Trump pressionou para reduzir custos de energia e impulsionar a economia do país.
“Ele fez subsídios para que as petroleiras americanas produzissem cada vez mais”, afirma Merola.
As grandes companhias de petróleo dos Estados Unidos responderam ao incentivo, elevando a extração e inundando o mercado global, o que ajudou a derrubar os preços.
Por outro lado, a demanda por petróleo segue crescendo, mas em ritmo menor do que antes. O consumo global de energia tem se expandido com maior participação de fontes alternativas, como gás natural, energia solar e eólica.
“A demanda por petróleo acompanha o crescimento global, mas está cada vez menos dependente do petróleo”, analisa o especialista.
Leia também:
O equilíbrio atual é explicado pela lei básica do mercado: oferta elevada e demanda moderada resultam em preços mais baixos.
“Essa equalização faz com que os preços se assentem”, diz Merola. Segundo ele, esse cenário não deve mudar no curto prazo. “Enquanto isso, a nossa perspectiva é que o petróleo vá se manter barato por algum tempo.”
Para o investidor, o cenário exige atenção redobrada. Um petróleo mais barato tem impactos diretos nos resultados de empresas do setor de óleo e gás, como a própria Petrobras, ao mesmo tempo em que beneficia segmentos dependentes de combustíveis, como companhias aéreas e de logística.
Merola conclui reforçando que o comportamento do mercado seguirá condicionado à dinâmica global: ou a oferta precisa cair muito, ou a demanda subir demais — só assim os preços voltariam a subir de forma consistente, avalia.