Vivemos um período extraordinário para quem acompanha os mercados globais. Transformações profundas estão ocorrendo em diferentes regiões do mundo e cada uma delas carrega implicações diretas para portfólios, moedas e valuations.
A Era da Coexistência simboliza o reconhecimento de que a China não é mais um “segundo polo”, mas um ator com relevância equivalente à dos Estados Unidos. Alguns estrategistas chamam esse fenômeno de Era do G2. O nome é detalhe; o impacto, não.
Nesse cenário, a relação entre o dólar e o iuane, variável que considerei mais importante para o segundo semestre, se impôs. A moeda chinesa ganhou espaço com consistência, contribuindo para um amplo processo de reprecificação global de ativos.
O Brasil tem sido um dos grandes beneficiados por esse movimento, como ajuda a comprovar a alocação doméstica na carteira Buy & Hold, da EQI Research. Para vários analistas, o país vive um cenário de mérito triplo: queda iminente no custo do dinheiro, apreciação cambial e valorização dos ativos de risco.
Tudo isso já está em andamento.
E há mais por vir.
Por isso, hoje aprofundo as teses e tendências que devem influenciar os ativos globais nos próximos meses – e anos. Organizo abaixo essa explicação por país/região para facilitar a leitura.
São insights que, se bem apreendidos, podem ter grande importância para suas decisões de alocação.
EUA
1. A Hipótese-Mãe
Os EUA farão o que for necessário para evitar uma recessão. Uma queda forte da atividade seria devastadora para a relação dívida/PIB, já deteriorada após os estímulos massivos da pandemia – um verdadeiro abuso fiduciário que elevou gastos, déficits e endividamento.
2. A tese da bifurcação
A economia americana vive uma clara bifurcação:
– A classe trabalhadora sofre com preços elevados de bens e serviços.
– Aqueles que detêm ativos seguem se beneficiando da valorização dos mesmos.
Em paralelo, começam a surgir sinais de desaceleração, após uma década marcada pelo chamado Excepcionalismo Americano.
3. A tão aguardada expansão fiscal
O projeto orçamentário de Donald Trump, o One Big & Beautiful Bill (OBBB), prevê um impulso fiscal monumental: cerca de 600 bilhões de dólares por ano durante cinco anos, a partir de 2026. Trata-se de um colchão poderoso para evitar uma desaceleração mais intensa.
4. O dólar mais fraco como remédio industrial
Apesar da queda recente, o dólar segue caro – e os EUA seguem pouco competitivos industrialmente. Um dólar mais fraco tende a ajudar o país a recuperar parte de sua capacidade produtiva, reduzindo gargalos que hoje pressionam custos e inflação.
Europa
1. A Hipótese-Mãe
A Europa reconhece que sua era de supremacia exportadora ficou para trás. A ascensão chinesa, superior em escala e eficiência, obriga o continente a se voltar ao crescimento doméstico. A eleição presidencial alemã, em fevereiro, reforçou essa guinada ao aprovar reformas que abrem espaço para uma expansão fiscal robusta pelos próximos dez anos.
2. O euro mais forte como instrumento
A nova Europa, menos dependente de exportações e mais focada na demanda interna, tende a se beneficiar de um euro mais forte, estimulando confiança e consumo. O continente começa a operar de forma mais parecida com os EUA, utilizando estímulos fiscais para dinamizar sua economia.
3. A possível unificação dos mercados de capitais
Embora compartilhem de uma moeda, os países europeus têm mercados de capitais fragmentados. Caso avance na unificação – tema que já está na mesa –, a região poderá surpreender com mais liquidez, financiamento mais barato e reprecificação positiva dos ativos.
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China
1. A Hipótese-Mãe
A China, hoje a grande fábrica do mundo, opera com inflação extremamente baixa. A combinação entre excesso de oferta e preços declinantes cria espaço para uma expansão fiscal e monetária robusta, semelhante à resposta americana pós-2008.
2. Um iuane mais forte para recuperar a confiança
Diferentemente dos EUA, onde o consumidor segue confiante, a China enfrenta incertezas, especialmente entre os mais jovens. Uma moeda mais forte tende a melhorar a percepção de estabilidade e, aos poucos, reanimar o consumo doméstico.
3. A liderança energética chinesa
Em um mundo com apetite infinito por eletricidade, vence quem oferece energia mais barata. A China já possui capacidade de geração superior à soma dos EUA e da Europa, com custos muito menores. Essa vantagem estrutural é resultado de mão de obra mais barata, energia barata e uso intensivo de tecnologia.
Brasil
1. A Hipótese-Mãe
Os ativos brasileiros estão baratos, abandonados e em tendência de alta. Paralelamente, o país está prestes a entrar em um ciclo de queda de juros que deve ser intenso e duradouro.
2. O excesso de dinheiro “empoçado”
O Brasil vive um fenômeno curioso: a relação M2/M1 acima de 11x, algo inédito globalmente. Há uma energia potencial gigantesca presa na Renda Fixa, à espera de catalisadores para migrar para ativos de risco.
Alguns já estão no radar:
– mudanças tributárias sobre dividendos.
– cortes iminentes de juros (possivelmente já a partir de janeiro).
3. O potencial “upgrade” de rating
Analistas apontam que o Brasil já está na fronteira do Investment Grade. Um ajuste estrutural nas despesas com juros pode ser o gatilho que falta. Se um upgrade se materializar, o país poderá receber fluxos passivos massivos de fundos globais – um divisor de águas para os ativos domésticos.
Você identificou algo em comum?
Entre todas essas teses e tendências, há um fio condutor claro: uma onda coordenada de impulso fiscal nas principais economias globais. Vivemos algo semelhante entre 2016 e 2017, quando o dólar enfraqueceu e os ativos globais tiveram uma forte realocação.
Desta vez, no entanto, o movimento tende a ser mais intenso.
Os países estão muito mais endividados e, portanto, mais vulneráveis ao impacto de uma recessão sobre suas receitas. Isso torna os estímulos não apenas prováveis, mas inevitáveis.
Nesse ambiente, ativos de mercados emergentes têm tudo para brilhar. E já começam a fazer isso. A recente valorização dos ativos sul-americanos em dólares é apenas o início.
Há muito mais por vir.
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