A nova política tarifária criada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está causando tensões e incertezas no mercado financeiro, com reflexos nos juros americanos. Ainda não se sabe qual o real impacto que o tarifaço poderá ter a médio e longo prazo, mas os analistas da EQI Research, João Neves e Felipe Paletta, analisaram o tema e viram que, se for uma tendência que veio para ficar, os norte-americanos terão que conviver com uma inflação mais alta já no médio e longo prazo, levando a uma manutenção da taxa de juros dos EUA em um patamar mais elevado.
Neves comentou que o investidor precisa pensar como isso pode impactar o mercado caso a nova política tarifária se mantenha e como afeta outras partes do mundo, inclusive o Brasil. Hoje, o país recebeu 10% de tarifas.
“Se a gente tiver de conviver com uma taxa de juros americana maior, a competição de investir nesses juros para outras coisas vai ficar mais difícil. Ou seja, os outros tipos de investimentos, teoricamente, têm que dar um retorno maior para valer o investimento. Isso pressiona todos os ativos de risco da economia”, comentou Neves.
Juros americanos: cautela é a palavra-chave
Para os analistas da EQI Research, a cautela é a palavra-chave. Eles lembraram que, se antes o investidor aceitava um retorno um pouco menor, um torno de 5% para investir num título corporativo, agora talvez seja necessário buscar retornos maiores, algo como 6%. Na avaliação deles, retornos em patamares entre 4,5% e 4,80%, como oferecidos pelos treasuries – que são os títulos da dívida pública dos EUA – já não são prêmios suficientes para correr esse risco adicional.
Nesse cenário, pensar em uma taxa de juros próxima a zero nos EUA, quando chegou a estar em 0,5 ponto percentual, pode não ser tão provável futuramente.
Uma das fontes de incerteza é a relação com a China. Apesar dos temores, recentemente, Trump informou que entrará em negociações com a China, dizendo que está em um período de transição para tal objetivo. Além disso, o presidente norte-americano disse que “pegará leve” com os chineses.
No entanto, o Livro Bege, divulgado pelo Federal Reserve (Fed) esta semana, mostrou que a perspectiva em vários distritos piorou consideravelmente com o aumento da incerteza econômica, principalmente em relação às tarifas.
O documento aponta que distritos como Boston, Nova York, Filadélfia, por exemplo, citaram que o tarifaço fez com que as perspectivas piorassem. Com relação à Boston, a atividade econômica aumentou ligeiramente, com a perspectiva se tornando mais pessimista em relação às preocupações com tarifas. Em Nova York, onde está o coração financeiro dos EUA, o documento citou que os aumentos de preços se intensificaram, atingindo o limite superior da faixa moderada, com as empresas expressando preocupação significativa com as tarifas.