Em junho, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, comentou que o Brasil está trabalhando para retomar o grau de investimento após a agência de classificação de risco Standard & Poor’s (S&P) revisar a perspectiva do Brasil de ‘estável’ para ‘positiva’, mantendo os ratings de crédito soberano em ‘BB-/B’.
Essa realidade está se aproximando aos poucos. Na última quinta-feira (20), a S&P revisou para cima o rating do Brasil, na escala de longo prazo de BB- para BB e manteve a perspectiva estável.
De acordo com a agência, a elevação foi motivada pela aprovação da reforma tributária, que marca um progresso na questão fiscal nacional.
No entanto, para que o Brasil recupere a posição de grau de investimento, é necessário que o país suba mais alguns degraus na classificação.
Além da S&P, a Fitch classifica a dívida externa de longo prazo do Brasil em ‘BB-‘, enquanto a Moody’s classifica o país como ‘Ba2’, duas posições abaixo do grau de investimento.
Tanto países quanto empresas buscam essa classificação de grau de investimento para garantir que sejam considerados bons pagadores. Essa avaliação é conduzida pelas agências de risco.
Entre 2008 e 2015, o Brasil chegou a ser reconhecido com o grau de investimento, mas em 2016 ele voltou a ser classificado como um país de risco.
Diante dessa situação, o portal EuQueroInvestir explica o que é o grau de investimento e como ele afeta a capacidade de países e empresas de captar recursos no exterior.
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O que é grau de investimento?

O grau de investimento é um termo utilizado para avaliar a capacidade de uma instituição ou país em receber investimentos.
Quando dizemos que uma empresa perdeu o grau de investimento, significa que ela deixou de ser considerada uma boa pagadora e passou a apresentar maior risco de atrasos nos pagamentos ou até mesmo de inadimplência.
Essa classificação pode ser comparada a uma nota de corte que determina se uma instituição está dentro do patamar de investimentos seguros. Aquelas que estão abaixo dessa nota são consideradas empresas com grau especulativo e não são bem vistas pelas agências de risco para investimentos seguros.
O que é grau especulativo?
Já o grau especulativo é o oposto do grau de investimento e é atribuído a empresas e países que apresentam um maior risco de inadimplência. Essa classificação é dada quando as instituições são percebidas como menos confiáveis e seguras pelos investidores, sendo fundamentada em uma maior exposição a riscos.
O termo “especulativo” reflete a natureza das relações estabelecidas entre os investidores e essas instituições, que se baseiam principalmente em riscos mais elevados e, consequentemente, exigem maiores remunerações.
Os investidores que optam por lidar com instituições classificadas como grau especulativo estão cientes de que existe uma maior probabilidade de atrasos nos pagamentos ou até mesmo de inadimplência.
Apesar de oferecer uma remuneração maior, empresas e Governos com grau especulativo enfrentam maiores desafios para atrair investimentos e normalmente precisam oferecer condições mais atrativas para convencer os investidores a assumir os riscos envolvidos.
Essa classificação serve como um alerta para os investidores sobre a incerteza e os possíveis perigos associados às instituições que a possuem.
Conheça as agências de rating
As agências de classificação de risco, também conhecidas como agências de rating, são importantes para o mercado financeiro. Afinal de contas, elas são responsáveis por avaliar a capacidade de uma instituição, seja ela uma empresa ou um governo, em honrar o pagamento de suas dívidas.
A nota atribuída pelas agências é um importante indicador para investidores, pois fornece uma opinião independente sobre o risco de crédito da dívida do país ou da instituição analisada. As escalas utilizadas pelas agências podem variar, podendo ser representadas por letras, números e sinais matemáticos (+ ou -).
As notas de rating são classificadas em dois grupos principais: grau especulativo (D até BB+) e grau de investimento (BBB- até AAA). As notas de grau especulativo são atribuídas a instituições com maior risco de inadimplência, enquanto as notas de grau de investimento são dadas a instituições consideradas boas pagadoras.
No caso do Brasil, as agências oficiais responsáveis pela classificação de risco de crédito são a Standard and Poor’s (S&P), Fitch Ratings (Fitch) e Moody’s Investor Service. Além delas, outras agências internacionais, como a DBRS do Canadá, JCR e R&I do Japão, NICE Investors Service da Coreia do Sul e Dagong Global Credit Rating da China, também monitoram regularmente o risco de crédito do país.
Como é definida a classificação?
As agências de classificação de risco avaliam diversos aspectos que determinam a capacidade de uma instituição, seja ela uma empresa ou um país, de cumprir com suas obrigações de pagamento. Essas avaliações levam em consideração uma série de fatores que refletem a saúde econômica e a solidez financeira da instituição em questão.
No caso das empresas, as agências analisam a saúde econômica da organização, sua capacidade de geração de receita, a estrutura de capital adotada e a governança corporativa. Além disso, as dívidas de curto prazo e de longo prazo, tanto em moeda local como em moeda estrangeira, são cuidadosamente consideradas durante a avaliação.
Já no caso dos países, as agências de classificação de risco coletam uma ampla gama de informações para definir sua classificação. Esses dados incluem gastos públicos, taxa de juros, taxa de crescimento do PIB, taxa de arrecadação, volume de exportações, cenário político, reservas internacionais, estabilidade e solidez econômica, Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), distribuição de renda e nível e perfil de dívidas.
Quais são as consequências para a ausência de grau de investimento?

A ausência do grau de investimento é um sinal preocupante tanto para países quanto para empresas, pois aumenta as chances de ocorrência do temido default, popularmente conhecido como calote. Essa falta de classificação favorável afeta diretamente a capacidade dessas instituições de obter crédito no mercado internacional em condições especiais.
Existem até mesmo fundos de investimento que possuem estatutos que limitam suas aplicações apenas a instituições que possuam o grau de investimento. Essa restrição visa minimizar os riscos e preservar a segurança dos investimentos.
Embora a relação entre a perda do grau de investimento e o default de uma dívida não seja direta, ela pode ocorrer, principalmente no caso de empresas.
Governos, por outro lado, têm uma menor propensão a dar calotes devido aos recursos disponíveis para enfrentar crises financeiras. No entanto, ao longo da história recente, observamos diversos casos de países que optaram por não pagar suas dívidas.
Em 2019, a Argentina declarou moratória e interrompeu o pagamento de uma parte da sua dívida pública. Essa não foi a primeira vez que o país enfrentou uma situação semelhante, tendo passado por episódios similares em 2001.
O Brasil também já enfrentou momentos de suspensão de pagamentos, como em 1987, quando o então presidente José Sarney declarou a suspensão do pagamento dos juros da dívida externa.
No entanto, é importante destacar que, diferentemente de uma empresa que pode falir definitivamente, um país tem a possibilidade de honrar suas dívidas posteriormente, mesmo que isso leve mais tempo do que o acordado inicialmente.
Como os investidores se beneficiam do grau de investimento de uma instituição?
As agências de classificação de risco são importantes para o investidor avaliar o grau de investimento de empresas e até mesmo países. Essas informações são valiosas para avaliar os investimentos e as instituições com o menor risco de calote.
Embora essas agências também tenha cometido erros, como ocorreu na crise de 2008 e avaliação da Americanas (AMER3), elas ainda tem um nível de confiança bastante elevada pelo mercado financeiro.
É importante destacar que a existência de investimentos seguros não significa que os investimentos arriscados sejam menos valorizados pelo mercado. Na verdade, em certa medida, pode ocorrer o contrário.
Investidores que buscam assumir riscos tendem a apostar mais em ativos com grau especulativo. Esses ativos, por serem mais arriscados, têm o potencial de gerar retornos maiores se o investidor tomar as decisões certas e souber atuar nesse mercado específico.
Essa dinâmica demonstra que, embora o grau de investimento seja uma referência importante para os investidores que buscam segurança, há também um segmento de investidores dispostos a assumir riscos maiores em busca de retornos mais expressivos.
Cabe a cada investidor avaliar seu perfil de risco, objetivos financeiros e estratégias de investimento para tomar decisões fundamentadas e adequadas ao seu perfil.
Em última análise, as agências de classificação de risco desempenham um papel relevante ao fornecer informações sobre a confiabilidade e a capacidade de pagamento das instituições, permitindo que os investidores tomem decisões embasadas em análises de risco.
No entanto, é fundamental que os investidores estejam cientes de que nenhum sistema de classificação de grau de investimento é infalível e que eles devem realizar suas próprias análises e diversificar seus investimentos para reduzir os riscos e maximizar as oportunidades de retorno.