Quando a guerra entre Israel x Hamas estourou, o mundo passou a observar os desdobramentos do conflito com preocupação. E como é um confronto no Oriente Médio, uma das principais questões é o petróleo. Afinal, há um precedente nessa mesma região que ocasionou o primeiro choque do petróleo, de 1973, deixando marcas profundas no mercado.
Não que Israel ou a faixa da Gaza tenha petróleo em volume elevado. Porém, o suposto envolvimento do Irã – país que apoia o grupo terrorista Hamas – é um dos maiores produtores do mundo.
Além disso, a primeira crise do petróleo se deu em 1973, após a guerra do Yom Kippur, a última guerra em grande escala que Israel se envolveu – desconsiderando os conflitos internos e mais localizados, como as intifadas contra os grupos palestinos.
Na segunda-feira (9), primeiro dia de negociações no mercado internacional após o começo da nova guerra, os preços do petróleo dispararam. O barril Brent, por exemplo, subiu mais de 3%, sendo vendido a US$ 89. Mas ao longo do dia, os aumentos chegaram a atingir 4%, tanto no Brent quando no barril WTI.
Crise do petróleo: entenda
Será que a atual guerra pode desencandear uma nova crise do petróleo? Antes, é preciso entender o que é esse tipo de choque e quais suas consequências no mercado internacional.
Há exatos 50 anos, o mundo enfrentou uma das maiores turbulências econômicas e geopolíticas do século XX, conhecida como a Crise do Petróleo de 1973. Este evento monumental teve impactos profundos em economias, políticas globais e nas relações internacionais.
O conflito na região do Oriente Médio, conhecido como a Guerra do Yom Kippur, entre Israel e seus vizinhos árabes em outubro de 1973, marcou o início da crise. Em solidariedade aos países árabes, liderados pela Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), uma série de nações exportadoras de petróleo decidiu impor um embargo ao fornecimento de petróleo bruto para os Estados Unidos, bem como para outros países que apoiavam Israel.
O embargo de petróleo resultou em uma súbita escassez do recurso no mercado global. Isso provocou um aumento dramático nos preços do petróleo, que quadruplicaram em questão de meses. A alta dos preços do petróleo teve um impacto imediato sobre os custos de produção e o custo de vida, afetando os países consumidores de forma significativa.

Racionamento de Combustível e Crise Econômica
Em resposta à crise, muitos países implementaram medidas de racionamento de combustível, gerando longas filas nos postos de gasolina e uma sensação generalizada de insegurança energética. A alta dos preços do petróleo também desencadeou uma recessão econômica em muitos países, afetando negativamente o crescimento econômico e aumentando o desemprego.
A crise do petróleo de 1973 teve implicações geopolíticas de longo prazo. Os países ocidentais, liderados pelos Estados Unidos, perceberam sua dependência das importações de petróleo do Oriente Médio e passaram a buscar estratégias para diversificar suas fontes de energia. Além disso, o conflito destacou o papel da Opep como um ator-chave no mercado de energia global e como um instrumento de influência política.
A crise também levou a mudanças significativas na política energética. Muitos países começaram a investir em fontes de energia alternativas e eficiência energética, diminuindo sua vulnerabilidade a futuras crises do petróleo. Além disso, surgiram esforços para promover a conservação de energia e reduzir a dependência do petróleo como combustível.
Após 50 anos, a crise do petróleo de 1973 permanece como um marco na história econômica e energética global. Ela trouxe à tona a vulnerabilidade das economias ocidentais à volatilidade dos preços do petróleo e forçou uma reavaliação das políticas energéticas e a busca por soluções mais sustentáveis.
A crise de 1979
Uma segunda crise ocorreu poucos anos depois, em 1979, desta vez ocasionada pela Revolução Iraniana. Em janeiro desse ano, um levante popular liderado por aiatolás derrubou o xá do Irã, Mohammad Reza Pahlavi. Isso resultou em um período de instabilidade política e na suspensão da produção de petróleo iraniano, que representava uma parte significativa do suprimento mundial.
Além disso, em setembro de 1980, a Guerra Irã-Iraque teve início, criando mais incertezas no fornecimento de petróleo. A produção de ambos os países diminuiu, aumentando a pressão sobre os preços do petróleo.
Impacto Global
A combinação da revolução no Irã e do conflito com o Iraque resultou em uma disparada nos preços do petróleo. Em apenas alguns meses, o preço do barril de petróleo mais do que triplicou, chegando a valores em patamares vistos somente na primeira crise.
Esse aumento repentino teve um impacto devastador nas economias globais. Países altamente dependentes do petróleo, como os Estados Unidos, sofreram com a inflação e a desaceleração econômica. A crise energética também levou a uma série de medidas de conservação de energia, como a imposição de limites de velocidade nas rodovias.
Crise do petróleo: e o Irã?
O Irã possui algumas das maiores reservas de petróleo do mundo, com depósitos comprovados que rivalizam com os da Arábia Saudita e da Rússia. Isso coloca o Irã em uma posição privilegiada na arena global de fornecimento de energia. As reservas iranianas, estimadas em mais de 150 bilhões de barris de petróleo, conferem ao país um poder considerável no mercado mundial de petróleo.
Em 1979, o Irã passou por uma revolução que derrubou o xá Mohammad Reza Pahlavi e estabeleceu um regime teocrático liderado pelo aiatolá Khomeini. Uma das primeiras medidas desse novo governo foi a nacionalização do setor de petróleo, que estava anteriormente nas mãos de empresas estrangeiras, notadamente britânicas e americanas. Essa ação redefiniu o controle sobre os recursos de petróleo e gás do país, estabelecendo uma presença forte do Estado na indústria de energia.
Nas décadas seguintes, as relações do Irã com a comunidade internacional foram marcadas por sanções econômicas, especialmente por parte dos Estados Unidos e da União Europeia. Essas sanções, destinadas a pressionar o governo iraniano a cumprir compromissos internacionais relacionados ao programa nuclear, tiveram impacto significativo na economia do país e na produção de petróleo.
Apesar das sanções, o Irã manteve sua posição como um dos maiores produtores de petróleo do mundo. Sua produção desempenha um papel vital no equilíbrio global de oferta e demanda de petróleo, influenciando os preços e a estabilidade do mercado. O Irã também é um membro da Opep, o que lhe permite participar ativamente das decisões que afetam a produção de petróleo em todo o mundo.
Com relação ao conflito atual, o Irã negou ter interferência direta, apoiando o Hamas com envio de armas que possam ter atingido Israel ou fornecendo soldados. O líder do país, o aiatolá Ali Khamenei, se pronunciou nesta terça-feira (10) e comentou que Israel sofreu um “fracasso irreparável, tanto militarmente quanto em termos de inteligência” com o ataque no fim de semana do grupo palestino.
O Irã, que vem sofrendo sanções por parte dos Estados Unidos, é historicamente um apoiador do Hamas e um rival de longa data de Israel. Porém, afirma não estar envolvido na ofensiva, que resultou em pelo menos 1.587 mortes até ao momento.
Sobre o conflito atual, este pode não ser uma repetição da crise de 1973. Aparentemente, as semelhanças entre a guerra atual e a daquela época então ficam somente no campo dos ataques surpresas.
Ainda assim, o tema é acompanhado com cuidado, principalmente porque o mundo está prestes a enfrentar um novo embargo por parte dos países árabes, o que poderia levar a um intenso aumento do petróleo.
Tudo dependerá da duração e extensão do conflito. Diferentemente de 1973, parece que desta vez não houve um ataque em bloco dos países árabes aos israelenses. Já naquela ocasião, o conflito envolveu diretamente países produtores.
Além disso, na época, a demanda estava avançando a passos largos. E com o choque do petróleo, a oferta caiu de forma repentina – gerando a crise que se seguiu.
Com o envolvimento desses atores e tendo em vista uma guerra em grande escala entre Israel x Hamas, o mundo do petróleo olha com preocupação os desdobramentos da guerra. Principalmente se ficar provado um envolvimento direto do Irã – embora o país tenha negado até aqui uma participação nos ataques.
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Luis Moran, head da EQI Research, e Oliver Stuenkel, analista político e professor, participam nesta terça-feira (10) da live “Conflito Israel-Hamas: Entenda os impactos nas economias globais”.
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