“Você acordou hoje devendo quanto no Brasil?” Essa pergunta faz parte de uma provocação feita após Gustavo Franco, ex-presidente do Banco Central e um dos pais do Plano Real, ter feito uma colocação interessante que nos convida a olhar a dívida pública sob uma nova perspectiva.
Em um painel no 8º Encontro Nacional da Anfidc (Associação Nacional dos Participantes em Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios), o economista perguntou à plateia se alguém sabia quanto é a dívida pública brasileira por pessoa.
Ao dividir o valor total da dívida pela população do país, Franco disse que “cada brasileiro acorda com uma dívida de pouco mais de R$ 30 mil”, segundo o portal Seu Dinheiro.
Esse é, de fato, um número que chama atenção. Tanto que fui refazer a conta, com apoio dos dados mais recentes do Relatório Mensal da Dívida Pública, publicado pelo Tesouro Nacional.
E, no final desta newsletter, te conto o meu resultado – já adianto que poderá surpreender.
É amplamente sabido que o endividamento público é um dos principais desafios a serem enfrentados pelo Brasil nos próximos anos. E não sou eu apenas quem diz isso, é o Fundo Monetário Internacional (FMI).
Recentemente, o FMI revisou suas projeções e estimou que a dívida brasileira deve ultrapassar 90% do PIB, alcançando 98,1% em 2030, segundo a metodologia da organização.
Vale lembrar que o cálculo do FMI difere do utilizado pelo Tesouro Nacional, pois inclui os títulos do Tesouro mantidos na carteira do Banco Central. Ainda assim, o alerta é válido: a dívida cresce em ritmo preocupante.
Para você ter uma ideia, entre 37 economias emergentes avaliadas no relatório do FMI, apenas três países apresentam uma relação dívida/PIB maior que a brasileira: Bahrein (142,5%), Ucrânia (108,6%) e China (96,3%).


Com esses dados do FMI, observamos que o Brasil apresenta um nível de endividamento superior ao da maioria dos países emergentes comparáveis, o que evidencia a gravidade da situação fiscal.
Esse cenário desafia a lógica tradicional de construção de portfólio. Tenho falado com frequência sobre a importância de se investir em ativos reais, especialmente em períodos de endividamento elevado e pressão inflacionária.
Isso porque esses ativos tendem a preservar o poder de compra, algo que os brasileiros que viveram a fase pré-Plano Real conhecem bem. Na época, os imóveis eram a principal reserva de valor.
Reconheço os méritos do CDI elevado e os benefícios da Renda Fixa no curto prazo, mas nunca foi tão importante ter exposição a ativos reais – sejam imóveis (FIIs), empresas (ações) ou ativos escassos (ouro e bitcoin).
Ah, e antes que eu me esqueça: a dívida pública federal bruta hoje está em torno de R$ 8,1 trilhões. Dividindo esse valor pela população estimada de 213 milhões de brasileiros, chegamos a R$ 38 mil por pessoa.
Já pensou em como vamos pagar essa conta?
Bons investimentos!





