O Banco Central manteve a Selic em 15% mais uma vez. E, mais uma vez, choveu críticas.
Por um lado, é ótimo ver que a população está olhando para a economia. Por outro, é preocupante ver tanta gente confundindo sintoma com doença.
Criticar o Banco Central pelo juro alto é como culpar um termômetro por mostrar que você está com febre. Colocar o termômetro na geladeira não faz a febre passar — só esconde o problema. Da mesma forma, pressionar o Banco Central para cortar juros “na marra” não resolve nada.
A febre só cai quando a doença é tratada. Do mesmo jeito, os juros só caem quando a inflação está sob controle.
E mudar o limite da febre de 39º para 41º não torna 39º uma temperatura saudável. Assim como mudar a meta de inflação de 3% para 5% não torna a inflação menos prejudicial. Pelo contrário: isso só agrava o quadro mais à frente.
O problema não é o termômetro. O problema são os hábitos que estão causando a febre.
E aqui é igual: o problema não é o juro alto. O problema são as políticas e decisões que estão empurrando a inflação para cima.
Eu não sou médico, e na escola não aprendi medicina — é normal confundir sintoma com doença.
Da mesma forma, grande parte da população não teve educação econômica básica — então é compreensível a confusão.
E é isso que está acontecendo: estamos atacando o sintoma, não a causa, a doença.
E a doença é:
- Gastar mais do que se produz ou se arrecada (no caso do governo).
- Incentivar consumo sem gerar produtividade.
- Criar crédito barato artificialmente, como se riqueza pudesse ser produzida no decreto.
Quando o governo gasta além do que arrecada, alguém paga essa conta. Ou pagamos agora, com impostos. Ou pagamos depois, com inflação. Ou pagamos sempre, com juros mais altos.
A febre é desconfortável, mas ela é o corpo tentando se curar. O juro alto é o processo doloroso de correção dos excessos dos governos.
Banco Central e juros altos: Onde está a cura?
A cura não está em abaixar na marra a temperatura do termômetro. A cura está em parar de envenenar o corpo.
Isto é:
- A cura é responsabilidade fiscal.
- A cura é parar de manipular o crédito.
- A cura é deixar preços — inclusive os juros — refletirem a realidade.
Sem isso, toda queda de juros será apenas o pré-anúncio da próxima crise.
Por Thiago Freire, analista de Produtos da EQI Investimentos
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