O mercado estava dividido: de um lado o time fundamentos, que esperava a manutenção da Selic com base no arrefecimento da inflação; do outro, o time sinalização, que temia que o tom hawkish de Gabriel Galípolo, do Copom, se materializasse num novo aperto.
Os discursos pesaram mais que os fundamentos, e o Copom decidiu aumentar a taxa básica de juros em 0,25 pontos percentuais, para 15%.
Em maio, o Comitê avaliou o cenário externo como um “ambiente adverso e particularmente incerto”, sobretudo em função da política comercial dos Estados Unidos. Desde então, observou-se uma melhora nesse quadro, com alguns avanços relevantes nos últimos 45 dias, incluindo acordos importantes que ajudaram a reduzir o grau de incerteza.
No cenário doméstico, também houve evolução positiva: as expectativas de inflação recuaram, a inflação corrente apresentou sinais favoráveis, e o câmbio se apreciou.
Esses fatores sustentavam a leitura de que havia espaço para a manutenção dos juros, ao invés de um novo aumento.
Em sua comunicação de maio, o Comitê já havia demonstrado menor surpresa diante de sinais positivos e manteve a avaliação de que a inflação segue persistentemente fora da meta — e deve continuar assim no curto prazo.
Essa leitura reforçava e reforçou novamente o tom mais duro da política monetária, com ênfase na necessidade de prolongar a postura contracionista, isto é, manter os juros elevados por mais tempo — um posicionamento que foi sinalizado, está sendo reafirmado e provavelmente continuará a ser enfatizado nas próximas comunicações do Comitê.
A decisão de aumentar a taxa básica de juros para 15% acompanha um discurso duro, reforçando a intenção de manter a política monetária em território restritivo por um período prolongado — principalmente, sem descartar a possibilidade de novas altas, apesar de encerrar o ciclo de aperto — é vista como um movimento importante para evitar que o mercado antecipe cortes de juros, o que poderia afrouxar as condições financeiras e dificultar a convergência da inflação à meta.
Aliás, foi justamente essa sinalização do Comitê — de que novas altas não estão descartadas — que tem sido adotada por Galípolo em seus discursos, que levou o mercado a precificar a possibilidade de um aumento de 0,25 ponto percentual nesta reunião.
O controle das expectativas é mais relevante do que a decisão em si. Uma diferença de 0,25 ponto percentual — para cima ou para baixo — teria pouco efeito imediato sobre os preços. O que realmente importa é por quanto tempo os juros permanecerão em nível restritivo, pois esse fator, sim, pode influenciar de forma mais duradoura a dinâmica da inflação.
Copom prioriza sinalização a fundamentos, enquanto Fed mantém juros
Como amplamente esperado pelo mercado, o Federal Reserve (Fed) – Banco Central dos Estados Unidos – manteve a taxa de juros no intervalo entre 4,25% e 4,50% ao ano, pela quarta vez consecutiva.
O diferencial de juros entre os EUA e o Brasil abre uma janela única de oportunidade: tomar recursos nos EUA, onde os juros são mais baixos, e aplicar no Brasil, onde os juros são mais altos – ganhando a diferença entre eles, o chamado carry trade.
Exemplo: tomar US$ 100 mil a uma taxa de 5% ao ano e investir em um ativo que renda 15% ao ano no Brasil. O ganho bruto seria de 10% ao ano, sem considerar o risco cambial.
Muitos investidores institucionais ao redor do mundo realizam esse tipo de operação, o que contribui para o aumento do fluxo de capital para o Brasil e a apreciação do real frente ao dólar.
No entanto, essa estratégia exige acesso ao mercado internacional de crédito e instrumentos sofisticados de hedge cambial – não é algo simples para o investidor comum.
Crédito privado nos EUA: oportunidade
Pensando nisso, surge uma alternativa interessante: emprestar dinheiro para empresas americanas por meio de estruturas que remuneram SOFR +5% ao ano em dólar – sendo o SOFR (Secured Overnight Financing Rate) uma taxa de referência nos EUA, equivalente ao CDI no Brasil.
Ao realizar um hedge cambial via derivativos, o investidor pode trocar a exposição ao dólar por exposição ao real, convertendo a remuneração de SOFR + 5% em dólar para CDI + 5% em reais, aproveitando o diferencial de juros com proteção cambial.
Em resumo, emprestar dinheiro a 5% nos EUA e aplicar a 15% no Brasil é um exemplo clássico de carry trade.
Já investir em um título que paga SOFR + 5%, com hedge cambial para CDI+ 5%, é uma forma mais sofisticada de capturar esse mesmo diferencial de juros – com menos exposição e mais acessibilidade.
E o melhor: essa oportunidade já está estruturada e pronta para investimento!