Confesso que, em novembro do ano passado, enquanto os mercados celebravam a eleição de Donald Trump e seu movimento M.A.G.A. (Make America Great Again), eu começava a ler sobre uma grande transformação que estava por vir e que poderia representar uma importante mudança de paradigma no mundo financeiro. Refiro-me à perspectiva de mudança de rumo na Europa, que poderia ser simbolizada por uma escolha nas urnas. Dessa vez, porém, em urnas alemãs.
Em fevereiro de 2025, os alemães poderiam escolher um candidato a chanceler que livraria o país de uma espécie de camisa de força orçamentária, liberando não só a Alemanha, mas todo o continente europeu para uma trajetória de expansão fiscal análoga à que vem sendo observada tanto nos EUA quanto na China.
E eles escolheram!
Os alemães deram a Friedrich Merz a posição de novo chanceler, em substituição a Olaf Scholz. Merz é rico e sabe tanto de mercado quanto Donald Trump. Teve passagens pela empresa de advocacia global Mayer Brown e atuou no conselho de administração da BlackRock, uma das principais gestoras de ativos do mundo.
Ele sabe muito bem que chegou a hora de abandonar a austeridade e tomar uma “página emprestada” da história dos EUA, que, nos últimos anos, têm abusado de estímulos fiscais.
Eis que começa o ano de 2025. Euforia em Nova York, em meio a Trump e à “AI” (ou IA, como a conhecemos no Brasil, de Inteligência Artificial), que foi abalada pelo anúncio da chegada do modelo R1 da empresa chinesa DeepSeek.
Enquanto o preço da ação da americana Nvidia caía de forma significativa em janeiro, minha preocupação permanecia ligada ao que estaria por vir na Europa.
No fim daquele mês, enviei um e-mail para Louis-Vincent Gave, fundador da Gavekal e grande conhecedor da realidade econômica europeia, perguntando-lhe: o que é mais relevante para fevereiro? O advento da DeepSeek ou a eleição na Alemanha?
Ainda que Louis tenha apontado a Alemanha como um grande evento que estava por vir, a resposta mais marcante veio do próprio mercado. De repente, os ativos europeus entraram em uma onda de alta que parecia não ter fim.
Entre os meses de janeiro e abril, até o “Liberation Day” de Trump, o ETF EWG (carteira MSCI alemã, com exposição a ações de empresas de grande e média capitalização no mercado) se valorizou aproximadamente 25%, transformando-se em um dos maiores destaques do semestre.
Por trás desse movimento reside uma mudança de paradigma em potencial – e que poderá ser a mais significativa da década.
Europa: O despertar de um continente
Falo aqui justamente sobre o despertar de um continente que, por muitos anos, esteve amarrado a uma situação fiscal que travou seu próprio crescimento econômico.
Com países muito endividados como França, Itália e Grécia, a União Europeia teve que apertar os cintos e criar iniciativas monetárias que tivessem como propósito evitar que investidores especulassem a respeito de uma crise existencial relacionada à sua moeda única, o euro.
Para piorar, a invasão da Rússia à Ucrânia gerou uma crise energética no continente sem precedentes.
Mas isso tudo, aos poucos, começa a ficar para trás.
E o que os números mostram já é o início de uma possível virada. Pela primeira vez em décadas, os países da zona do euro, incluindo a própria Alemanha, começam a sinalizar um movimento conjunto de aumento nos investimentos públicos.
O gráfico abaixo mostra como, historicamente, a Europa nunca experimentou uma onda sincronizada de expansão fiscal – e como isso pode finalmente estar prestes a mudar.

Na prática, os europeus sabem que estão perdendo terreno no que diz respeito à inovação. Nesse sentido, os avanços americanos representam uma quase humilhação.
Eles sabem também que estão mais atrasados no processo de eletrificação – aqui, são os avanços chineses que mais incomodam os formuladores econômicos europeus.
Eis que veio, então, o vice-presidente J.D. Vance, a mando de Trump, para passar uma tenebrosa mensagem em evento realizado em Munique, em fevereiro:
“É hora de vocês (europeus) saírem do guarda-chuva de segurança norte-americano. É hora de a União Europeia honrar o velho acordo e passar a gastar o equivalente a 5% do seu PIB em defesa.”
Assim, mudanças na OTAN, combinadas com as ameaças de tarifas norte-americanas sobre exportações europeias, deixaram os formuladores econômicos europeus sem alternativa.
O único caminho é perder a vergonha e fazer como seus rivais neste mundo multipolar (composto por EUA, UE e China): embarcar em uma enorme expansão fiscal por meio de muita impressão de dinheiro!
E, nessa batida, devo confessar que, recentemente, em um webinar de que participei, organizado pelo Indosuez, marca global de gestão de patrimônio do grupo francês Crédit Agricole, ouvi que a Alemanha está pronta para gastar até 24% do seu PIB em investimentos em defesa e infraestrutura nos próximos 10 anos.
Isso representa a perspectiva de gastos de trilhões de dólares. Dinheiro que será destinado a um processo de construção e eletrificação. Dinheiro que será gasto em mão de obra e um elevadíssimo volume de commodities.
É, meu amigo. O euro está mais vivo do que nunca, alive and kicking!
Quando isso acontece, temos um claro sinal de que o mundo buscará ativos associados a valor. E acredito que o Brasil é um dos maiores value plays do planeta.
P.S.: Enquanto a Europa desperta para um novo ciclo de expansão, eu aproveito para indicar desde já uma nova forma inteligente de investir no exterior, reunindo o crescimento das maiores empresas do mundo com uma rentabilidade acima da média. A EQI Research lançou, em parceria exclusiva com a gestora Leste, um investimento vinculado à expansão de gigantes globais como a Amazon, com retorno-alvo de CDI + 5,2% ao ano. Para saber mais e poder aproveitar a oportunidade, clique no botão abaixo: