O recém-nomeado chefe do governo interino da Síria, Mohammed al Bashir, assumiu o cargo na terça-feira (10) e prometeu trazer “estabilidade e calma” ao país. A nomeação ocorre após uma ofensiva rebelde relâmpago que derrubou o presidente Bashar al-Assad, que governou com mão de ferro por 24 anos.
A aliança rebelde liderada pelo grupo islamista Hayat Tahrir al-Sham (HTS) designou al Bashir para liderar o governo interino até 1 de março de 2025. A cerimônia de posse aconteceu dois dias depois que a coalizão tomou a capital, Damasco.
“É hora de o povo sírio experimentar estabilidade e tranquilidade”, afirmou al Bashir em entrevista à emissora Al Jazeera. Antes da nomeação, ele liderava o governo na região de Idlib, reduto rebelde no noroeste da Síria, de onde partiu a ofensiva que culminou na queda de Assad, iniciada em 27 de novembro.
Abu Mohammed al-Jolani, líder do HTS, esteve reunido com o ex-primeiro-ministro Mohammed al-Jalali para organizar a transição de poder. Jolani prometeu processar “os criminosos e oficiais envolvidos na repressão ao povo sírio”. Apesar de classificado como grupo terrorista por muitos governos, o HTS busca moderar sua imagem.
Segundo o Observatório Sírio de Direitos Humanos (OSDH), a ofensiva rebelde já causou a morte de 910 pessoas, incluindo 138 civis. Além disso, combates entre forças pró-turcas e pró-curdas no norte da Síria resultaram em 218 mortos em apenas três dias.
Síria: Assad está na Rússia
O ex-presidente Assad, que chegou ao poder em 2000 após a morte de seu pai, Hafez, se encontra na Rússia com sua família, segundo o vice-ministro russo das Relações Exteriores, Serguei Ryabkov. Aliado histórico de Assad, Moscou participa militarmente do conflito desde 2015, ao lado do Irã.
Com a queda de Assad, a Síria enfrenta um futuro incerto após meio século sob controle da mesma família. A chefe da diplomacia da União Europeia, Kaja Kallas, pediu cuidado para evitar um cenário similar ao caos visto no Iraque, Líbia e Afeganistão. Jolani também afirmou que o país “não está preparado para outra guerra”.
Nos EUA, o secretário de Estado, Antony Blinken, solicitou que o novo governo impeça que o país seja utilizado como base para o terrorismo. Apesar de sem território, o Estado Islâmico continua ativo e executou 54 soldados sírios durante a retirada das forças de Assad.
Busca por desaparecidos e tensões internacionais
A queda de Assad desencadeou celebrações e buscas por detidos nas prisões do regime. Milhares foram libertados, mas muitos permanecem desaparecidos. Os Capacetes Brancos pediram à Rússia que forneça mapas de prisões secretas.
Israel, por sua vez, intensificou bombardeios contra alvos na Síria, gerando críticas da ONU e alertas de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro israelense, sobre a presença iraniana no país. Tropas foram enviadas às Colinas de Golã, ocupadas por Israel, enquanto o exército israelense busca criar uma zona desmilitarizada no sul da Síria.