A economia mundial deve mostrar mais resiliência do que o previsto diante da nova onda de tarifas comerciais impostas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Segundo relatório divulgado nesta terça-feira (23), a Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE) elevou sua projeção de crescimento global para 2025 de 2,9% para 3,2%. Para 2026, a estimativa foi mantida em 2,9%.
De acordo com a entidade, o avanço da economia tem sido sustentado pela antecipação de produção e comércio antes da implementação plena das tarifas. Mesmo assim, a OCDE ressalta que os impactos mais fortes ainda estão por vir.
“O crescimento global permanece resiliente, respaldado pela antecipação do comércio e da produção antes da implementação de tarifas mais altas”, destacou o relatório. A projeção se aproxima da feita em dezembro passado, antes do retorno de Trump à Casa Branca, quando se previa uma expansão mundial de 3,3% em 2025.
OCDE e crescimento global: Estados Unidos e Europa perdem fôlego
Nos EUA, a organização projeta desaceleração: o PIB deve crescer 1,8% em 2025 (ante previsão anterior de 1,6%) e 1,5% em 2026, bem abaixo dos 2,8% registrados no ano passado. O Reino Unido também enfrentará moderação, com estimativas de 1,4% em 2025 e 1,0% no ano seguinte.
A zona do euro, por sua vez, deve crescer 1,2% em 2025 – revisão positiva em relação aos 1,0% anteriores –, mas o ritmo cairá para 1,0% em 2026. A Espanha aparece como destaque, com 2,6% e 2% de expansão nos próximos dois anos, respectivamente.
Emergentes sustentam parte do crescimento
Enquanto as economias avançadas sentem os efeitos da guerra tarifária, países emergentes mostram maior capacidade de resistência. A China deve crescer 4,9% em 2025 e 4,4% em 2026, números levemente melhores que os previstos em junho. O Japão também teve revisão positiva: 1,1% no próximo ano e 0,5% em 2026.
Na América Latina, o Brasil deve avançar 2,3% em 2025 e 1,7% em 2026, enquanto o México terá crescimento de 0,8% e 1,3% no mesmo período. Já a Argentina foi revisada para baixo: expansão de 4,5% em 2025, 0,7 ponto percentual abaixo da projeção anterior, e 4,3% em 2026.
Tarifas no maior nível desde 1933
Trump elevou a taxa efetiva de tarifas sobre importações americanas para 19,5%, o maior nível desde 1933, segundo a OCDE. Até agora, os efeitos mais severos não foram sentidos porque muitas mudanças têm aplicação gradual, e parte dos custos foi absorvida pelas margens das empresas.
Apesar disso, a organização alerta para sinais de desaceleração desde agosto, especialmente na Coreia do Sul, Alemanha e Brasil, no setor de produção, e também no consumo nos EUA, zona do euro e China.
O que preocupa a OCDE?
O economista-chefe da OCDE, Álvaro Pereira, afirmou à AFP que o cenário global ainda está distante de uma expansão robusta:
“Quando a economia vai muito bem, o crescimento tende a permanecer em torno de 4%, então estamos longe disso”.
Segundo ele, a inflação deve permanecer pressionada, em especial nos EUA, mas também em outros países, como Japão e África do Sul, onde o aumento dos preços de alimentos pesa sobre as famílias.
A OCDE lista ainda outros riscos potenciais, como novos aumentos tarifários, o crescimento do endividamento público e privado em diversas regiões e as tensões sobre taxas de juros em mercados de crédito.
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