O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão na noite desta quinta-feira (17) para tratar diretamente da nova tarifa de 50% imposta pelo governo dos EUA sobre produtos brasileiros.
A medida, anunciada pelo presidente Donald Trump no início do mês, acendeu um alerta em Brasília e marcou um ponto de tensão nas relações comerciais entre os dois países.
O discurso foi gravado nesta quarta-feira (16) no Palácio da Alvorada e representa uma mudança de estratégia do governo federal, que inicialmente havia optado por comentar o assunto apenas em entrevistas.
Pronunciamento sinaliza mudança de postura
A decisão de Lula de se pronunciar oficialmente foi tomada após o USTR (Escritório do Representante de Comércio dos EUA) abrir uma investigação contra o Brasil. O órgão norte-americano quer apurar supostas práticas comerciais desleais que estariam prejudicando empresas americanas, incluindo o uso do Pix e a atividade do comércio informal em locais como a rua 25 de Março, em São Paulo.
Até então, o Planalto avaliava que as entrevistas concedidas por Lula à TV Globo e à Record logo após o anúncio das tarifas seriam suficientes como resposta.
Contudo, diante da escalada do conflito comercial e da politização do tema, Trump chegou a publicar uma carta hostil a Lula em seu perfil na Truth Social, o Planalto decidiu reforçar sua posição com uma mensagem clara à população. A estratégia, segundo fontes próximas ao presidente, será amparada no discurso da soberania nacional e na defesa da indústria brasileira.
Contexto político contamina disputa comercial
O anúncio das tarifas, com início previsto para 1º de agosto, ocorre em um momento político sensível. Trump usou o episódio para criticar decisões do Supremo Tribunal Federal brasileiro, especialmente sobre a regulação das big techs e o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo ele, há perseguição política no Brasil, acusação que não passou despercebida pelo governo Lula.
O tema também ressoou entre os eleitores brasileiros. Pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (16) revelou que 55% dos entrevistados acreditam que Lula provocou Trump durante a última Cúpula do Brics, enquanto 72% consideram injusta a taxação dos produtos brasileiros com base em disputas políticas internas.
Discurso como resposta e símbolo
Ao optar por um pronunciamento em cadeia nacional, Lula busca não apenas responder ao governo dos EUA, mas também reafirmar a autoridade do Brasil em decisões comerciais e tecnológicas. O uso do Pix, por exemplo, é tratado pelo governo como uma inovação nacional e motivo de orgulho, não como distorção de mercado.
A fala do presidente, portanto, deverá ir além da reação pontual à medida norte-americana. A expectativa é de que Lula utilize o espaço para fortalecer sua imagem como defensor dos interesses do país frente a pressões internacionais, e também como liderança que não recua diante de intimidações políticas vindas do exterior.
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