Em uma entrevista à RedeTV veiculada na noite de domingo (10), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou abertamente a pressão do mercado financeiro por ajustes fiscais, reiterando sua defesa de um modelo econômico focado em crescimento com distribuição de renda.
Em tom incisivo, Lula comentou: “Eu vejo o mercado financeiro falar bobagem todo dia, não acredite nisso, eu já venci eles e vou vencer outra vez.” A declaração ocorre enquanto o governo discute um aguardado pacote de corte de gastos, elaborado pela equipe econômica, que será examinado pelo Palácio do Planalto.
O presidente também destacou a importância de uma responsabilidade compartilhada, afirmando que o Congresso e o Judiciário deveriam colaborar reduzindo gastos excessivos. Como exemplo, mencionou as emendas parlamentares que financiam projetos indicados por deputados e senadores, sugerindo que esses recursos poderiam ser revistos.
Lula ainda mencionou o impacto fiscal herdado do governo anterior, de Jair Bolsonaro, afirmando que cerca de R$ 300 bilhões foram gastos em medidas de sustentação da administração passada, o que, segundo ele, contribuiu para a situação fiscal atual do país.
O mercado e a pressão pelo ajuste fiscal
Em uma declaração que repercutiu anteriormente, Lula já havia criticado a impaciência do mercado quanto ao pacote de ajustes, ainda em fase de conclusão. “Conheço bem o discurso do mercado e sua gana especulativa, e, às vezes, percebo que o mercado age com certa hipocrisia, apoiado por parte da imprensa brasileira, o que acaba criando confusão na cabeça da população,” disse o presidente, referindo-se ao que considera uma postura exagerada de especulação e cobrança.
Ele destacou que os cortes planejados não devem penalizar as camadas mais vulneráveis e apelou ao Congresso por apoio em buscar soluções que equilibrem a economia. “Se eu realizar cortes que diminuam a capacidade de investimento do orçamento, surge a questão: o Congresso estará disposto a reduzir as emendas de deputados e senadores para contribuir com o ajuste fiscal? Porque não se trata apenas de reduzir o orçamento do governo. Os empresários que recebem subsídios do governo estarão dispostos a abrir mão de parte deles para ajudarmos a equilibrar a economia brasileira? Estarão? Não sei,” questionou Lula.
Lula e o pacote de cortes de gastos
A equipe econômica do governo vem trabalhando há semanas em uma agenda de cortes de despesas, atendendo às demandas de investidores e de setores políticos desde o início do mandato. Na última terça-feira (5), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT), comunicou que as discussões internas sobre o pacote foram finalizadas e que Lula apresentará as propostas aos líderes do Legislativo antes de qualquer divulgação pública.
O governo tem promovido reuniões com ministros para consolidar medidas que garantam o cumprimento do arcabouço fiscal, regra que baliza as contas públicas do país. A expectativa é de que o anúncio ocorra ainda nesta semana. A pedido de Lula, Haddad adiou sua viagem à Europa para permanecer no Brasil e auxiliar na finalização das medidas, em um contexto de pressão inflacionária e alta do dólar.
Incertezas e reação do mercado
A ausência de detalhes sobre as propostas tem gerado inquietação no mercado financeiro, refletida na alta do dólar, na queda da Bolsa de Valores e no aumento dos juros futuros. Economistas ressaltam que o controle dos gastos públicos é essencial para conter o avanço da dívida e evitar pressões sobre os juros, que podem impactar negativamente o consumo e os investimentos no país.
Arcabouço fiscal e o papel do governo
O ministro Haddad, em uma declaração recente, assegurou que o governo compreende a “preocupação” do mercado e reafirmou o compromisso com o arcabouço fiscal, que visa ajustar despesas obrigatórias para preservar a sustentabilidade das contas públicas. “A dinâmica das despesas obrigatórias precisa se encaixar dentro do arcabouço. O objetivo é garantir que partes do orçamento não comprometam o todo, preservando a sustentabilidade de médio e longo prazo do país,” afirmou Haddad.
As propostas do governo deverão ser apresentadas ao Congresso por meio de uma PEC (Proposta de Emenda Constitucional), o que demandará trâmites legislativos, com possibilidade de ajustes no texto. Assim, o impacto real dessas medidas no orçamento e na economia será conhecido pelo mercado apenas após o período de discussão no Legislativo.
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