A greve nos Estados Unidos das principais montadoras é a mais recente de uma série de conflitos trabalhistas que, segundo economistas, poderá começar a ter impactos significativos no crescimento da economia do país, se persistirem. As informações são da rede CNBC.
Até então, a paralisação do United Auto Workers (UAW, Sindicato dos Trabalhadores Automotivos em tradução literal) impactou apenas uma pequena parcela da força de trabalho do país, com implicações limitadas para a economia em geral.
Contudo, o conflito faz parte de um padrão, o que resultou no maior número de horas de trabalho “perdidas” em cerca de 23 anos, segundo estatísticas do Departamento do Trabalho norte-americano.
“O impacto imediato será limitado, mas isso mudará se a greve nos EUA se prolongar – ou aumentar”, disse Ian Shepherdson, economista-chefe da Pantheon Macroeconomics.
O UAW adotou uma abordagem relativamente inovadora a esta paralisação, com apenas três fábricas paradas, e menos de um décimo dos trabalhadores das grandes fabricantes de automóveis envolvido.
O presidente do UAW, Shawn Fain, anunciou que os trabalhadores de uma fábrica da GM (GM; GMCO34) em Wentzville, Missouri; uma fábrica da Stellantis (STLA) em Toledo; e uma fábrica da Ford (F; FDMO34) em Wayne, Michigan, estão em greve.
Em caso de uma greve geral, Shepherdson vê um impacto trimestral potencial de 1,7 ponto percentual no Produto Interno Bruto (PIB) dos Estados Unidos. O movimento vem em um momento preocupante, em que o mercado ainda teme que os EUA possam entrar em uma recessão nos próximos meses. A produção de automóveis equivale a 2,9% do PIB atualmente.
Além disso, uma greve nos EUA mais ampla também complicaria a condução da política monetária pelo Federal Reserve. O banco central norte-americano tenta reduzir a inflação sem causar uma contração expressiva da economia.
“O grande problema para o Fed é que seria impossível saber, em tempo real, quanto qualquer redução no crescimento econômico poderia ser atribuída à greve, e quanto seria de outros fatores”, diz Shepherdson.
Impacto no mercado de trabalho
O mercado de trabalho dos Estados Unidos sofreu um impacto substancial com as greves neste ano. Apenas em agosto houve o maior volume de dias perdidos em único mês desde 2000.
As perdas são consequência de 20 grandes paralisações, incluindo a da Associação de Escritores da América (Writers Guild of America) e do Screen Actors Guild (SAG), que têm roteiristas, atores e diretores de televisão e cinema. Agora, cerca de 60 mil profissionais da área de saúde nos estados da Califórnia, Oregon e Washington ameaçam abandonar o trabalho.
Depois de anos relativamente inativos, os sindicatos encontraram uma voz mais forte com a alta da inflação dos últimos anos.
Dados recentes do Fed de Nova York mostraram que os trabalhadores, em média, pedem salários próximos de US$ 80 mil por ano quando mudam de emprego. No caso do UAW, o sindicato demandou um aumento de 36% ao longo dos últimos quatro anos, o que se assemelha aos ganhos recentes de CEOs de fabricantes.
Greve nos EUA e a inflação
Os aumentos salariais em potencial elevaram as projeções do mercado, de que a inflação poderá ser mais rígida. Os preços começaram a cair nos últimos meses, após a máxima recente em 40 anos.
No entanto, os futuros aumentos anuais de 9% do UAW, em questão, não devem ter um grande impacto nas condições macroeconômicas dos EUA, incluindo a inflação. Isso porque os sindicatos representam uma parcela cada vez menor da força de trabalho, caindo para um recorde mínimo de 10,1% em 2022, cerca de metade do que era há 40 anos.
Os funcionários da administração do presidente Joe Biden também não mostraram qualquer preocupação sobre o potencial impacto econômico da demanda por salários mais altos.
“Acho que é prematuro fazer previsões sobre o que isso significa para a economia”, disse a secretária do Tesouro, Janet Yellen, à rede CNBC “Depende muito de quanto tempo a greve vai durar e exatamente quem será afetado por ela. Os dois lados precisam reduzir as suas divergências e trabalhar para uma situação em que todos possam ganhar.”