As tensões entre Israel e Irã cresceram de forma explosiva nos últimos dias, e a pergunta que domina os mercados e os bastidores da diplomacia global é clara: os EUA vão entrar na guerra? A possibilidade de intervenção americana no Oriente Médio traz consequências diretas para a economia global, o mercado de petróleo e a estabilidade geopolítica.
O presidente Donald Trump já recebeu do Pentágono planos detalhados para atacar o programa nuclear iraniano. No entanto, mantém cautela enquanto tenta uma última saída diplomática. Segundo informações divulgadas por veículos como Wall Street Journal e ABC News, o governo norte-americano discute intensamente se opta por intervir militarmente ou se insiste na mesa de negociações.
Petróleo: o gatilho econômico da guerra
Um dos principais pontos de alerta para os mercados é o risco de o Irã fechar o estreito de Ormuz, por onde passa cerca de 20% de todo o petróleo transportado no mundo. “Se isso acontecer, estrategistas consideram quase certo que o petróleo, que já bateu US$ 78, vá a US$ 100”, alerta Marink Martins, analista internacional da EQI Research.
Esse movimento geraria uma onda de choque global: aumento no preço dos combustíveis, inflação acelerada e impactos severos nas cadeias produtivas em diversos países. Historicamente, conflitos nessa região sempre pressionaram os preços do petróleo — e agora não é diferente.
Por que o dólar não reage como antes?
Outro ponto levantado por Marink é que, diferentemente do que se espera em momentos de tensão, o dólar não está se valorizando com força. “Sempre acreditei que, quando o mundo se mostrasse cético com os EUA, bastaria os Estados Unidos elevarem a temperatura geopolítica global que todo mundo correria para proteção no dólar e nos treasuries”, afirma. “Mas a grande novidade é que isso não está acontecendo.”
Essa reação mais tímida do mercado revela uma mudança estrutural: a transição econômica global liderada pela China e uma reorganização dos fluxos financeiros através de Hong Kong. Marink explica que há um excesso de dólares no sistema bancário de Hong Kong, o que mantém taxas locais muito mais baixas que as do Federal Reserve (Fed), contribuindo para um dólar mais fraco no curto prazo.
Decisão difícil: os dilemas militares dos EUA
A entrada dos EUA no conflito não é simples. O Irã possui instalações nucleares protegidas por estruturas subterrâneas extremamente reforçadas. Para destruí-las, seria necessário usar armamentos extremamente pesados, como a bomba antibunker GBU-57, capaz de penetrar dezenas de metros abaixo da superfície.
“É uma bomba única, a única capaz de destruir, que está escondida embaixo de um morro”, observa Marink. Um ataque desse tipo carregaria riscos altíssimos, como vazamentos radioativos e retaliações diretas contra bases americanas na região.
Além disso, há resistência interna. Trump sabe que parte de sua base política não apoia uma nova guerra, especialmente após os desgastes acumulados no Afeganistão, Iraque e Líbia.
Europa tenta evitar a escalada
Paralelamente, diplomatas da Alemanha, França e Reino Unido trabalham intensamente para evitar que o conflito saia do controle. Eles pressionam Teerã e Washington por um cessar-fogo e uma retomada das negociações nucleares.
O Irã, no entanto, se mantém firme em uma condição: “Não há espaço para negociações enquanto a agressão israelense continuar”, afirmou o ministro das Relações Exteriores iraniano, Abbas Araghchi.
Guerra, dólar e a nova ordem econômica
Para Marink Martins, o mais relevante desse momento não é apenas a tensão militar, mas como isso testa a hipótese de um dólar mais fraco no cenário global. A possível entrada dos EUA na guerra ocorre ao mesmo tempo em que a China fortalece seu modelo econômico fechado, utilizando Hong Kong como centro financeiro externo, e a Europa rompe amarras fiscais para gastar pesado em infraestrutura e defesa.
O grande evento do ano talvez não seja nem a guerra, mas essa mudança estrutural na economia global, com os mercados começando a buscar valor na velha economia — infraestrutura, energia, defesa — e se afastando de apostas puramente em crescimento tecnológico, segundo Marink.
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