A diretora do Federal Reserve (Fed), Lisa Cook, entrou com uma ação judicial nesta quinta-feira (28) contra o presidente Donald Trump, alegando que ele não tem autoridade legal para destituí-la do cargo. O processo abre uma batalha jurídica sem precedentes que pode redefinir os limites do poder presidencial e colocar em xeque a histórica independência do banco central dos Estados Unidos.
Cook, nomeada em 2022 pelo então presidente Joe Biden e primeira mulher negra a integrar a diretoria do Fed, sustenta que a tentativa de sua demissão viola a lei federal que só permite a destituição de dirigentes “por justa causa”. Segundo a ação, o anúncio feito por Trump em 25 de agosto, acusando-a de fraude hipotecária, não se enquadra nessa definição.
O caso deve chegar à Suprema Corte, onde uma maioria conservadora já deu aval, ainda que provisório, para que o presidente destitua dirigentes de outras agências federais. No entanto, ministros sinalizaram recentemente que o Fed pode constituir uma exceção, dada sua função crucial e apartidária na formulação da política monetária.
Diretora do Fed processa Trump: acusações e contexto político
Trump acusa Cook de irregularidades relacionadas a hipotecas contratadas em 2021, quando ainda atuava como acadêmica. Documentos oficiais de 2024 mostram três financiamentos imobiliários em seu nome, dois deles registrados como residências pessoais — modalidade que, em geral, garante condições mais favoráveis do que empréstimos para imóveis de investimento.
As suspeitas sobre essas transações foram levantadas inicialmente por William Pulte, aliado de Trump e diretor da Agência Federal de Financiamento Habitacional. A defesa de Cook argumenta que as acusações não configuram má conduta no exercício do cargo e, portanto, não justificam sua remoção.
Impacto econômico imediato
A tentativa de demissão gerou instabilidade nos mercados. Após o anúncio de Trump, o dólar recuou frente a moedas importantes, refletindo preocupações sobre a autonomia do Fed. A instituição desempenha papel central na definição das taxas de juros e no controle da inflação — áreas tradicionalmente blindadas de pressões políticas da Casa Branca.
Um porta-voz do Fed declarou, antes da abertura do processo, que a instituição “acatará qualquer decisão judicial”.
Histórico inédito
Desde sua criação, em 1913, nenhum presidente dos Estados Unidos destituiu um membro da diretoria do Fed. A legislação que rege o banco central tampouco detalha o que se entende por “causa” ou os procedimentos a serem seguidos em uma eventual remoção. Tribunais federais, nesse contexto, podem recorrer a precedentes de outras agências, que costumam incluir negligência, má conduta ou ineficiência como justificativas aceitáveis.
O que está em jogo
A saída de Lisa Cook abriria espaço para que Trump indicasse seu quarto integrante na diretoria de sete membros do Fed, ampliando sua influência sobre a política monetária. Mais do que uma disputa individual, analistas veem no caso um teste decisivo para os limites do poder presidencial e para a credibilidade da autonomia do banco central americano — um pilar da estabilidade financeira global.
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