O Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC, na sigla em inglês) do Federal Reserve decidiu manter a taxa básica de juros dos Estados Unidos (Fed Funds) no intervalo de 5,25% a 5,5% ao ano. Assim como na última reunião, em 20 de setembro, a decisão do Fed seguiu o consenso dos analistas do mercado financeiro.
A sétima reunião de política monetária do ano foi realizada nesta terça (31) e quarta-feira (1°).
A decisão veio em linha com o esperado pela maioria dos analistas. O monitor de juros do CME Group apontava até o início da tarde desta quarta-feira que 98,1% do mercado considerava a manutenção da taxa. Cerca de 1,9% do mercado projetava uma alta de 0,25 ponto percentual.
“Dados recentes sugerem que a atividade econômica se expandiu a um ritmo forte no terceiro trimestre. Os ganhos do mercado de trabalho diminuem lentamente desde o início do ano, mas permanecem fortes, e a taxa de desemprego continua baixa. A inflação ainda está elevada“, comunicou o Fed.
Para a autoridade monetária, o sistema bancário norte-americano permanece sólido e resiliente. As condições financeiras e de crédito mais restritivas para famílias e empresas devem pesar sobre a atividade econômica, contratações e a inflação. “A extensão destes efeitos permanece incerta. O Comitê permanece muito atento aos riscos de inflação.”
Além da decisão sobre os juros, o Fomc informou que continuará a reduzir suas participações em títulos do Tesouro e títulos garantidos por hipotecas de agências.

Outra pausa não dificulta retomar elevações nos juros, diz Powell
Em setembro, o Fed surpreendeu o mercado ao falar em uma nova possibilidade de elevação dos juros. Na ocasião, diretores disseram que veem os juros entre 5,5% e 5,75% até o final do ano, o que sinaliza a possibilidade de mais uma alta pelo comitê de política monetária, com a possibilidade de manutenção em 2024.
Nesta quarta-feira, o presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, disse que a autoridade monetária ainda não tomou nenhuma decisão para sua reunião de dezembro. Mesmo que opte por pausar as taxas pela terceira reunião consecutiva, isso não significa que seria “mais difícil” para retomar os aumentos.
Na reunião de julho, a autoridade monetária havia retomado o ciclo de alta, iniciado durante o ano passado e interrompido em junho, e elevou os juros em 0,25 ponto percentual.
“A ideia de que seria difícil aumentar novamente, depois de uma ou duas reuniões, simplesmente não está certa”, avaliou Powell. “O Comitê sempre fará o que achar apropriado no momento.”
O cenário de juros altos deve se estender por mais tempo nos EUA, inclusive com uma nova alta de 0,25 pontos percentuais até o fim do ano, para atrair mais rapidamente a inflação ao patamar desejado de 2% ao ano. A ata do Fomc reforçou essa ideia alguns dias após a divulgação da sexta decisão do comitê no ano.
Decisão do Fed: “Longo caminho a percorrer” na inflação
O Federal Reserve ainda não declarou vitória sobre a inflação, embora as leituras recentes estejam abaixo dos 4%, disse Powell.
“Alguns meses de bons dados são apenas o começo do que será necessário para criar a confiança necessária de que a inflação está caindo de maneira sustentável em direção ao nosso objetivo. O processo para uma redução de forma sustentável para a meta de 2% ainda tem um longo caminho a percorrer“, pontuou.
Além disso, Powell enfatizou que o Fed ainda não começou a considerar um corte nas taxas, e não o fará até que a inflação seja controlada.
Atividade nos EUA permanece aquecida
O Produto Interno Bruto (PIB) do terceiro trimestre de 2023 (3TRI23) dos Estados Unidos apresentou alta de 4,9% na base anual ajustada, acima do esperado pelo mercado. A primeira leitura do dado foi divulgada pelo Bureau of Economic Analysis (BEA) na quinta-feira (26).
A projeção do mercado indicava uma elevação de 4,3%. No segundo trimestre deste ano, a economia norte-americana acelerou 2,1%. Já no primeiro trimestre de 2023, o PIB dos EUA avançou 2,0%.
O forte avanço do PIB no terceiro trimestre refletiu principalmente os aumentos nos gastos dos consumidores, no investimento privado em estoques, exportações, além de despesas dos governos.
Outro dado relevante para o Fed, divulgado na última semana, o Índice de Preços para Despesas com Consumo Pessoal, o PCE de setembro, registrou alta de 0,4% em setembro, ante expectativa de 0,3% e alta de 0,4% em agosto. Na comparação anual, a alta foi de 3,4%, dentro do esperado.
O núcleo do PCE teve alta de 0,3% no mês e de 3,7% no ano, exatamente como o mercado esperava. O dado, que exclui itens voláteis como combustíveis e alimentação, é o indicador favorito para a decisão do Fed, na hora de acompanhar a inflação.
Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, avalia que a decisão do Federal Reserve de manter os juros inalterados, no patamar de 5,25% a 5,50%, pela segunda vez consecutiva traz uma certa segurança em relação à inflação. Porém, há poucas alterações na comunicação prospectiva, sobre os próximos passos.
“O comunicado pós-decisão ressalta que a economia dos EUA continua forte, assim como a inflação. Powell fala sobre sinais de uma leve melhora, mas que poucos meses não garantem que a inflação manterá uma trajetória de desaceleração, e principalmente que o crescimento continua muito forte e acima do comum“, comenta o especialista. Para que a economia fique nas metas do Fed, com uma inflação a 2% no ano, o crescimento deve ficar abaixo do potencial – abaixo de 2% por um certo tempo.
Nesse sentido, Kautz diz que há uma possibilidade de continuidade de elevação de juros, caso a economia não desacelere. Os dados de atividade devem ganhar cada vez mais relevância na decisão de política monetária na medida em que a inflação vem desacelerando. Para os próximos meses, a continuidade desse movimento dependerá de um crescimento econômico mais fraco, sobretudo do mercado de trabalho e consumo das famílias.
Kautz observa que Powell, o presidente do Fed, acredita que a autoridade monetária já fez uma série de altas de juros que ainda terão o efeito esperado sobre a economia. “Em 2025 a inflação deve estar próxima da meta de 2%, nos cálculos de Powell. Em geral, é um horizonte bastante longo, e o Fed ainda não sabe dizer se apertou o bastante a economia. O Fed sempre vai manter a porta aberta para a possibilidade de uma nova elevação dos juros, conforme achar necessário.”
A EQI Asset projeta mais uma alta nos juros dos EUA, na reunião de 13 de dezembro, a depender dos dados a serem divulgados até o próximo encontro. O cenário para corte de juros é esperado para o segundo semestre de 2024.
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