Os preços do minério de ferro estão nos níveis mais elevados em cinco meses, após o anúncio de que a China iniciou a construção da maior usina hidrelétrica do mundo.
A notícia animou os mercados de commodities e provocou uma disparada nos contratos futuros da matéria-prima do aço. No entanto, o BTG Pactual ($BPAC11) avalia que o rali recente é especulativo e não deve se sustentar no médio prazo.
Minério de ferro dispara com novo megaprojeto chinês
Nesta terça-feira (22), o contrato de setembro do minério de ferro, na Bolsa de Dalian, emendou mais uma forte alta, ao subir 2,49% aos US$ 114,70 por tonelada, consolidando as maiores altas nos preços da commodity.
O otimismo do mercado é alimentado pelo anúncio do primeiro-ministro chinês, Li Qiang, sobre o início das obras da futura maior hidrelétrica do planeta, localizada no Tibete. O projeto, com investimento estimado em US$ 170 bilhões, é parte da estratégia da China para avançar em energias renováveis e deve impulsionar a demanda por aço na construção civil.
BTG adverte: rali é especulativo e efeito real é limitado
Apesar do entusiasmo inicial, analistas do BTG Pactual recomendam cautela. Em relatório enviado a clientes, o banco afirma que o impacto estrutural do projeto sobre o setor de minério de ferro e siderurgia é reduzido.
“Apesar do número chamativo, vemos essa movimentação como especulativa, com efeitos limitados sobre a dinâmica de oferta e demanda”, destaca o documento.
Ao comparar com a construção da Usina de Três Gargantas, os analistas estimam que a nova hidrelétrica demandará entre 1,4 milhão e 1,9 milhão de toneladas de aço ao longo de uma década — o que representa menos de 0,5% da produção anual de aço bruto da China. Segundo o banco, trata-se de uma proporção insuficiente para alterar o cenário de sobrecapacidade estrutural do setor.
Este cenário de otimismo do minério de ferro fez a Vale ($VALE3) acumular uma alta acima de 12% nos últimos 30 dias. No entanto, o BTG projeta que os preços da commodity devem recuar para abaixo de US$ 90 por tonelada no médio prazo, diante do enfraquecimento da demanda e do aumento da oferta global.
Excesso de oferta e fraca demanda seguem como entraves
Além do cenário estrutural de sobreoferta — estimada entre 200 milhões e 300 milhões de toneladas — o BTG destaca a queda de 9% na produção de aço da China em junho, mesmo diante de uma base de comparação já enfraquecida.
Outro fator de pressão sobre os preços será o início das exportações da mina de Simandou, na Guiné, previsto para novembro, o que adicionará mais minério ao mercado.
Mesmo com a promessa do governo chinês de cortar até 50 milhões de toneladas de capacidade instalada de aço, o banco permanece cético quanto à eficácia da medida, dada a recorrente dificuldade do país em cumprir metas semelhantes no passado.
Gerdau é a exceção no setor siderúrgico
Entre as empresas brasileiras, o BTG mantém uma visão cautelosa, com exceção da Gerdau ($GGBR4), que se beneficia da maior exposição ao mercado norte-americano. A recomendação da casa continua sendo uma estratégia de Long Gerdau/Short Usiminas ($USIM5) e CSN ($CSNA3).
“Reconhecemos impactos pontuais das manchetes recentes, mas seguimos sem convicção de que haja uma recuperação sustentada no setor”, conclui o relatório.
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