A Vale ($VALE3) enfrentou ventos contrários no primeiro trimestre de 2025. O lucro líquido de US$ 1,394 bilhão representou uma queda de 17% ante 2024, pressionado pela combinação de preços mais baixos do minério de ferro (-16%) e desafios operacionais. O EBITDA proforma recuou 8%, para US$ 3,2 bilhões, embora a depreciação do real e cortes de custos tenham mitigado parte do impacto.
Apesar de seus resultados, no momento, a VALE3 é uma oportunidade ou risco de investimento?
Felipe Paletta, analista CNPI da EQI+, destaca que o desempenho da mineradora reflete um cenário antecipado pelo mercado: “Vimos um resultado mais fraco neste trimestre, o que já era um pouco esperado”.
Segundo ele, a produção foi afetada pelas chuvas e por um mix de minério de qualidade inferior, com preços médios em torno de US$ 90 a tonelada, abaixo do patamar de US$ 100 para o minério com 62% de concentração.
Apesar das revisões prévias, o balanço trouxe números piores que o ajustado:
- Receita líquida 5% abaixo das projeções;
- EBITDA 8% menor;
- Lucro 10% inferior ao esperado.
“A Vale produziu menos, vendeu um produto de menor valor e ainda assim manteve seu diferencial: custos controlados”, ressalta Paletta. O custo caixa de US$ 21 por tonelada, alinhado à meta de 2025. “A empresa ainda está no primeiro quartil de custo de produção global”, ressaltou. Mesmo com a valorização do real frente ao dólar, a Vale mostrou resiliência em controlar custos, mas a receita líquida caiu cerca de 5%, e o EBITDA ficou 8% abaixo das projeções.
Descontos históricos e comparativos setoriais
Na visão do analista, a ação hoje é “mais barata e de melhor qualidade que a CSN Mineração“. Enquanto a Vale negocia a 5 vezes preço/lucro, a concorrente nacional está a 14 vezes. Contra pares globais como BHP Group, Rio Tinto e Fortescue, os descontos são ainda mais expressivos:
- 50% abaixo em preço/lucro (versus média histórica de 40% pós-Brumadinho);
- 25-26% de desconto em EV/EBITDA.
“Isso denota uma oportunidade, mas com riscos claros”, pondera Paletta.
Incertezas do mercado
O maior dos fantasmas para a tese segue sendo a China, responsável por mais de 60% da demanda global de minério. “O mercado imobiliário chinês e as tarifas comerciais recentes criaram um cenário de incerteza que exige um prêmio de risco maior”, explica Paletta.
Em seu ranking de risco, o analista posiciona:
- CSN Mineração ($CMIN3): endividamento elevado e exposição cambial;
- Vale ($VALE3);
- Fortescue (ASX: FMG);
- Rio Tinto (ASX: RIO) e BHP Group (BHP): diversificação em cobre e alumínio como amortecedor.
Luz no fim do túnel
Apesar do trimestre fraco, a estratégia de longo prazo da Vale permanece sólida: controle de custos, investimentos em níquel e cobre e múltiplos atrativos.
“Para quem tolera volatilidade, é uma peça interessante no portfólio, mas com horizonte alongado”, conclui Paletta.