A relação comercial entre China e EUA vem passando por transformações profundas desde a guerra tarifária iniciada no governo de Donald Trump. O que começou como uma disputa pontual virou uma tendência mais ampla: a China tem reduzido consistentemente sua dependência das commodities agrícolas americanas.
Segundo relatório do BTG Pactual, assinado pelos analistas Thiago Duarte, Guilherme Guttiila, Gustavo Fabrie e Bruno Henriques, a retração é clara em praticamente todas as principais commodities. O comércio de soja entre os dois países caiu de 20% do fluxo global em 2020 para 15% em 2024. No milho, a queda foi ainda mais brusca: de 3,9% para 0,8%. Com a carne suína, o recuo foi de 4% para 1,3%; e a carne de frango, de 5,8% para 1,4%.
Comércio em queda
A única exceção foi a carne bovina, cujo comércio entre China e EUA cresceu de 0,3% em 2020 para 1,2% em 2023. Ainda assim, o pico dessa relação ocorreu em 2022, quando alcançou 1,7%, sinalizando que até esse ganho foi momentâneo.
Os analistas alertam: “O fato do comércio entre EUA e China já vir desacelerando desde 2018 indica que o impacto atual será perceptível, mas está longe de representar uma panaceia para os processadores brasileiros de grãos e proteínas animais”.
Brasil como beneficiário no curto prazo
Mesmo sem representar uma revolução imediata, o novo cenário oferece oportunidades para o Brasil. Com a China pagando prêmios por cortes menos valorizados no Ocidente, como pés e coxas de frango ou dianteiro bovino, empresas como Minerva (BEEF3), Marfrig (MRFG3), BRF (BRFS3) e JBS (JBSS3) devem ganhar espaço e margem.
No setor de grãos, o maior beneficiado tende a ser a SLC Agrícola (SLCE3), que pode ampliar suas exportações para o mercado chinês. “Como a soja é o mercado em que o comércio EUA-China representa a maior parcela do fluxo global, uma oportunidade nos dias de hoje seria brasileira no curto prazo caso o fluxo dos EUA continue a perder relevância”, afirmaram os analistas do BTG.
Uma tendência com impactos globais
A mudança no comportamento de importação da China não se resume à quebra de um padrão comercial. Ela aponta para uma reconfiguração do fluxo global de alimentos. Ao diversificar suas fontes, a China reduz riscos e aumenta seu poder de barganha. Para os EUA, é um sinal claro de perda de protagonismo no comércio agrícola internacional. Para o Brasil, uma janela que pode se ampliar, ou fechar, dependendo da estabilidade política, ambiental e logística de sua produção.
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