Assista a Money Week
Compartilhar no LinkedinCompartilhar no FacebookCompartilhar no TelegramCompartilhar no TwitterCompartilhar no WhatsApp
Compartilhar
Home
Economia
Notícias
Brasil aciona EUA na OMC após tarifaço de Trump sobre importações

Brasil aciona EUA na OMC após tarifaço de Trump sobre importações

O governo do Brasil acionou os Estados Unidos na OMC (Organização Mundial do Comércio), nesta quarta-feira (6), em resposta às tarifas impostas pelo presidente americano Donald Trump sobre produtos de origem brasileira. O pedido de consultas foi formalmente apresentado à missão norte-americana junto à entidade, sediada em Genebra, na Suíça.

Apesar de ter efeito prático incerto, o movimento é considerado pelo Palácio do Planalto como um gesto político relevante. A iniciativa busca reafirmar o compromisso do Brasil com o sistema multilateral de solução de controvérsias comerciais, justamente em um momento em que esse arcabouço encontra-se fragilizado.

“Ao se distanciar dos compromissos multissetoriais característicos da OMC, a medida desestabiliza o equilíbrio construído ao longo de décadas de negociações multilaterais e representa sério risco à arquitetura internacional de comércio”, diz documento interno do Itamaraty que embasa a ação.

Primeira etapa: consulta bilateral

O pedido de consultas representa o primeiro passo de um processo formal de disputa na OMC. Por meio desse mecanismo, o país reclamante busca explicações sobre as medidas comerciais adotadas pela contraparte, além de propor alterações voluntárias às práticas questionadas.

Na terça-feira (5), o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, já havia antecipado a iniciativa. Dois dias antes, na segunda-feira (4), o tema foi discutido durante a reunião do Conselho Estratégico da Câmara de Comércio Exterior (Camex), presidida pelo vice-presidente Geraldo Alckmin e integrada por ministros como Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento), Rui Costa (Casa Civil) e Alexandre Silveira (Minas e Energia).

Publicidade
Publicidade

Segundo o Itamaraty, as tarifas determinadas por Trump violam obrigações assumidas pelos Estados Unidos na OMC, incluindo a cláusula da Nação Mais Favorecida — que prevê tratamento igualitário entre todos os membros — e os tetos tarifários previamente consolidados no âmbito da organização.

Caminho travado: OMC paralisada na instância final

Caso as consultas bilaterais não resultem em acordo em até 60 dias, o Brasil poderá solicitar o estabelecimento de um painel, formado por três especialistas independentes. Essa segunda etapa tem prazo teórico de seis a nove meses, mas, na prática, pode levar até um ano — ou mais, em disputas complexas.

Ao final do painel, um relatório é emitido com recomendações. Se uma das partes discordar da decisão, pode recorrer ao Órgão de Apelação da OMC. No entanto, essa terceira e última instância está paralisada desde 2019, justamente por decisão do próprio governo Trump, que bloqueou a nomeação de novos juízes.

Com isso, mais de 20 decisões de painéis encontram-se atualmente “no limbo”, aguardando um desfecho que não pode ser dado.

Reação política e prejuízos econômicos

Embora o trâmite técnico da OMC enfrente limitações, o gesto do Brasil é visto como um esforço de defesa institucional. Internamente, o governo também busca sinalizar apoio a setores econômicos atingidos, como a indústria do cacau, que já calcula prejuízos de R$ 190 milhões com a medida americana — e alerta para o risco de paralisação de 37% do setor.

Em paralelo, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) tem cobrado ação de empresários brasileiros diante da postura hostil de Trump. Segundo ele, parte da oposição “atrapalha” a construção de uma relação bilateral mais produtiva com os EUA.

Por que o Brasil acionou os EUA na OMC?

O Brasil contestou as tarifas impostas pelos EUA sob a gestão Trump, por considerá-las incompatíveis com regras da OMC, especialmente com a cláusula da Nação Mais Favorecida e os tetos tarifários já acordados.

O que é o pedido de consultas na OMC?

É o primeiro passo de um processo de disputa. O país afetado solicita esclarecimentos e possíveis mudanças voluntárias das práticas comerciais do outro país.

O que acontece se os EUA não aceitarem as consultas?

Tecnicamente, os EUA devem aceitar, mas mesmo se recusarem a negociar, o Brasil pode pedir a instalação de um painel na OMC após 60 dias.

Qual o problema com o Órgão de Apelação da OMC?

A instância está paralisada desde 2019, porque os EUA, sob Trump, bloquearam a nomeação de novos juízes. Isso impede a conclusão de disputas que chegam à fase final.

O que o Brasil pretende com essa ação, se a OMC está travada?

O governo quer marcar posição em defesa do multilateralismo comercial e mostrar apoio a setores econômicos prejudicados, mesmo sabendo que a eficácia prática é limitada.

Leia também: