Quais são as perspectivas econômicas que indicam como investir em 2023? A EQI Investimentos convidou Luís Moran, head da EQI Research, e Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, para discutirem os cenários no Brasil e ao redor do mundo.
O encontro aconteceu durante a live “EQI Talks”. Confira agora os principais insights e entenda de que forma as variáveis do ambiente macroeconômico irão influenciar os seus investimentos no próximo ano.
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Cenários globais: 2020, o ano da pandemia
Antes de traçar cenários econômicos para 2023, de acordo com Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, é necessário analisar o cenário enfrentado em anos anteriores, que ainda estão gerando efeitos mundo afora.
“Se voltarmos ao ano de 2020, é possível verificar uma forte queda na atividade econômica global causada pelo advento da pandemia. Os impactos aconteceram, tanto no setor de serviços, quanto na indústria”, explica.
De acordo com Kautz, o que diferenciou o cenário pós-pandemia de outras crises, foi a recuperação rápida, o famoso “v”, comportamento que pode ser visto no gráfico abaixo, que mede o nível de confiança do empresariado:
Gráfico PMIs global
Cenários globais: 2021, o ano da inflação
“A recuperação da economia se deu amplamente através de estímulos fiscais, causando um ambiente inflacionário generalizado em 2021, que além dos países emergentes, incluiu também os países desenvolvidos”, comenta Stephan.
Cenários globais: 2022 e o combate à inflação
De acordo com o economista da EQI Asset, o ano de 2022 está sendo caracterizado pelo combate à inflação, com subida de juros em diversos países, medidas essas que devem se estender até 2023, conforme aponta o gráfico abaixo que traz a evolução das taxas em diversos países:
Cenário global: o que esperar de 2023?
Para Stephan Kautz, o cenário econômico global é o de recessão. “Mesmo com as restrições severas vindas pelas altas nas taxas de juros, a inflação não tem retrocedido na velocidade que os Bancos Centrais acreditavam que aconteceria”.
De acordo com ele, muitos países demoraram a agir, pois acreditavam que a pressão nos preços estava sendo causada pela oferta reprimida ocorrida durante a pandemia com o fechamento das fábricas.
“Essa demora na ação indica que as taxas de juros deverão ficar elevadas por mais tempo, o que trará baixa atividade econômica global. Não é o caso do Brasil, que reagiu à inflação de forma ágil, subindo os juros desde março de 2021”, comenta.
No gráfico abaixo, ele aponta que o PMI global está em níveis que indicam que a economia não deve crescer. “Vemos que o setor industrial está abaixo do nível de 50 pontos e o de serviços bem próximo a esse patamar. Isso mostra que estamos em um momento em que a economia global está próxima a entrar em uma recessão. Essa perspectiva pode se materializar”.
O nível de 50 pontos mostra equilíbrio, no qual a atividade econômica não cresce. Acima de 50, indica expansão e abaixo deste patamar, contração.
Como fica a inflação mundial?
Se o cenário à frente é de recessão global, é esperado que a inflação fique sob controle em 2023. “Apesar da recessão ser uma notícia ruim, como lado positivo, ela é um indicativo de que a inflação pode desacelerar. Dessa forma, os Banco Centrais poderão reduzir os juros, assim que for possível ver os efeitos dessas políticas monetárias mais apertadas”, aponta Kautz.
Como fica a inflação no Brasil e nos EUA?
O economista lembra que o Banco Central brasileiro já encerrou o ciclo de altas da taxa Selic em 13.75%, mas não tem espaço para corte de juros no momento.
No gráfico abaixo, é possível ver no lado esquerdo as projeções até o final de 2023 para a taxa Selic, que devem estar no patamar de 9.4%. No lado direito, estão as projeções para os juros americanos, que devem alcançar a casa dos 5.25%.
“O Banco Central americano indicou em sua última reunião que, apesar de ter anunciado que pode subir os juros em um ritmo mais lento a partir de dezembro de 2022, a taxa final do ciclo será mais alta que os 4.75%, estimado anteriormente”, destaca.
De acordo com ele, essa trajetória já era esperada. “A EQI Asset já estimava o patamar de 5.25, porque estamos vendo que a inflação está caindo de forma mais lenta”.
Brasil: cenário econômico em 2023 aponta desaceleração
O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva irá enfrentar pela frente uma economia em desaceleração, conforme aponta Kautz.
“Estamos hoje com um crescimento entre 2.5% e 3%, bem acima do que era esperado. No entanto, esse ritmo não deve ser mantido para 2023”. De acordo com ele, os motivos para essa projeção já estão bem definidos.
“O país não poderá contar tanto com as exportações, já que o cenário global mais provável é de recessão. Além disso, esperamos também queda no preço das commodities e taxas de juros elevadas ao redor do mundo”, esclarece.
Ainda de acordo com ele, por aqui, uma política fiscal menos expansionista deve ser o fator de maior peso para a desaceleração da economia em 2023. “Entendemos que em 2022 havia uma gordura a ser queimada, com uma projeção de superávit primário até mais alta do que a que será realizada. Parte disso foi gasto para a eleição e será mantido para o ano que vem, por meio de medidas como o Auxílio Brasil de R$ 600,00, que irá gerar um aumento das despesas no ano que vem. Com um crescimento econômico menor, as receitas serão menores, o que afetará novas rodadas de estímulo do governo à economia”.
Para Kautz, o que pode ser considerado como um alívio é a expectativa de convergência da inflação para patamares mais baixos até o final do próximo ano.
“Com isso, o Banco Central brasileiro pode cortar os juros a partir do segundo semestre. Nossa projeção é que o IPCA atinja os 5,7% em julho de 2023, considerando a melhora no preço dos combustíveis e da energia como um todo”, explica.
Acompanhe no gráfico abaixo comparação das projeções do PIB e da inflação para o Brasil em 2023:
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Dívida pública sob controle
Já nos gráficos abaixo é possível ver o crescimento da dívida pública durante a pandemia, com déficit nominal – que inclui o pagamento de juros – alcançaram o patamar de 14% do PIB.
“Os valores já voltaram para próximo de 4% e a dívida pública já voltou aos níveis pré-pandemia. Poucos países fizeram essa volta tão forte como o Brasil fez agora”, aponta o economista.
No entanto, de acordo com ele, isso não indica que o país esteja em uma posição privilegiada.
“Entre outros países emergentes com o mesmo rating que o nosso, o Brasil é o que tem a maior dívida pública. Essa dívida precisa cair. Os desafios imediatos serão o menor crescimento da economia, os juros, que hoje estão no patamar de 13.75% e que vão, cada vez mais, afetar a rolagem da dívida pública”, comenta.
Kautz reforça ainda que o controle da dívida pública será o ponto mais cobrado no governo Lula.
“O governo deverá trazer propostas para colocar essa dívida em uma trajetória cadente nos próximos anos. Isso pode ser feito apresentando um nome super crível no Ministério da Economia, como Henrique Meirelles, ou a partir de uma regra nova que possa substituir de forma confiável o teto de gastos”.
Reforma tributária: o risco de desaquecimento da economia
Kautz também aponta o risco do governo Lula errar a mão na composição de uma possível reforma tributária. “A aposta deve ser em uma reforma mais ampla, a partir da mudança na composição da incidência dos impostos. Mas, não se pode perder de vista que o aumento de impostos, ao longo do tempo, tira o gás da economia”, pondera.
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Renda variável: mercado deve antecipar a queda de juros
Estudos da EQI Asset no Brasil e na América Latina indicam que o índice da bolsa de valores começa a subir antes que o Banco Central corte os juros. “Quem esperar a queda de juros, pode entrar atrasado nesse movimento”, adverte Stephan Kautz.
A carteira recomendada de ações para novembro de 2022 da EQI Research já antecipou esse movimento, conforme aponta o head, Luis Moran.
“Acionamos poucas coisas para proteção. Essencialmente, mantivemos um foco doméstico e apostamos no Varejo, com Assaí (ASAI3) e Lojas Renner (LREN3). Também temos o segmento industrial, com Tupy (TUPY3) (autopeças) e PRIO 3 (petróleo e gás)”, descreve Moran.
Setores afetados pela taxa de juros
A aposta de Moran é que dentre os setores afetados pela taxa de juros, o consumo deve andar mais rapidamente. “Acreditamos que há espaço tanto para o consumo básico quanto para o discricionário. Em nossa avaliação, a relação risco x retorno está mais clara nesse segmento”.
O head da EQI acrescenta que a análise vale tanto para o mercado de ações como de Fundos Imobiliários : “Os shoppings já voltaram para os níveis pré-pandemia, mas os preços dos ativos ainda permanecem descontados. Dessa forma, temos Aliansce Sonae (ALSO3) em nossa carteira de ações, assim como também vemos que os FIIs do setor estão com boas oportunidades de compra”.
Ainda de acordo com Moran, com a eleição de Lula, o setor de educação volta a ter a perspectiva de um financiamento especial. “Contudo, ainda devemos aguardar os próximos movimentos para que a situação se solidifique”.
A recessão global pode arrastar o Brasil?
A recessão global é sempre um ponto de atenção. Contudo, nesse aspecto, um país que preocupa é a China, conforme aponta Stephan Kautz.
“O país tem um nível de endividamento muito alto e tem apresentado, cada vez mais, dificuldades de crescimento, pela intervenção do governo na economia, o que faz o capital internacional fugir da China. Qualquer país com um nível de endividamento alto e crescimento fraco, é um problema”, resume.
Manutenção da Selic em alta prejudica os Fundos Imobiliários?
Moran observa que “dada a perspectiva de que a inflação é cadente, o Banco Central é independente e que não deve haver ‘barbeiragens’ na parte fiscal, haverá espaço para os juros caírem. “Sendo assim, os Fundos Imobiliários tendem a se valorizar ao longo do tempo”.
Melhor hora para voltar para os ativos de risco
Kautz lembra que não adianta esperar os juros caírem para voltar para os ativos de risco. Isso deve acontecer um pouco antes.
“Até que o cenário se defina, é possível compor carteiras balanceadas, já sendo possível olhar para alguns fundos macro, que misturam renda fixa com variável. A renda fixa foi a opção em 2022, agora é hora de olhar para 2023, fazendo uma migração de portfólio aos poucos”, observa.
Renda fixa pré, pós ou atrelada à inflação?
Para auxiliar na tomada de decisão, Moran observa que os títulos atrelados à inflação ainda fazem sentido no cenário atual. O que determina a entrada ou saída da carteira de investimento é o nível de confiança do investidor na economia.
“Em linhas gerais, quem está mais confiante com os possíveis cenários de inflação pode ficar com os pré-fixados, para quem está parcialmente confiante, vale o IPCA+. Já quem não está confiante, deve ficar no pós-fixado”, orienta.
Juros altos nos EUA: como fica o dólar em relação ao real?
De acordo com Kautz, os juros altos nos EUA por um bom tempo farão com que o dólar permaneça forte contra todas as moedas. Já o Euro deve manter sua força somente no decorrer dos próximos meses.
“Conforme os nossos modelos econômicos, o real deveria estar hoje bem mais apreciado entre R$ 4,70 e R$ 4,80. Isso não está acontecendo em razão da perspectiva de uma recessão global. Espera-se que o preço das commodities, nosso principal produto de exportação, caia ainda mais. Isso fará com que o nosso termo de troca piore e impeça o real de ir para onde deveria. Sendo assim, estamos projetando que o real deve ficar por volta de R$ 5,30 até o final do próximo de 2023”.
Como está o Brasil na comparação com os demais países emergentes
O economista da EQI Asset observa que dada as circunstâncias globais, o Brasil pode se destacar como a “bola da vez” para receber investimentos.
“O país está melhor no cenário internacional, considerando que a Rússia está em guerra, o leste europeu sem fluxo de investimento, a Turquia segue com uma economia desorganizada, alguns países da Ásia têm um mercado pouco profundo e a China tem maltratado o setor privado. Nesse cenário, o Brasil se torna a opção mais interessante para receber investimento estrangeiro”, observa.
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Como investir em 2023: como fica a tributação de dividendos dos FIIs?
Na opinião de Luis Moran a tributação de dividendos deve entrar em pauta no governo Lula, assim como foi alvo de discussão durante o governo de Bolsonaro, contudo, não deve atingir os Fundos Imobiliários.
“O impacto arrecadatório da tributação dos FIIs é muito pior que o risco de destruir esse modelo de financiamento. Esse é o tipo de tributação que causa mais dano que benefício. Não deve ir para frente”.
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