Eleições presidenciais 2022: o que vem por aí? Neste domingo (30/10), o Brasil irá eleger seu novo presidente.
A disputa é acirrada e tem sido vista como uma das mais polarizadas da história democrática do país.
Em momentos de incerteza o mercado reage com desconfiança. De um lado, o governo atual tenta a reeleição, dando pistas de manutenção da atual política econômica.
Mas e caso a esquerda volte ao poder? Quais cenários são esperados?
Para responder a essa pergunta, Denys Wiese, head de Renda Fixa da EQI Investimentos, Ricardo Cará, gestor de Fundos Multimercados e Roberto Chagas, gestor de Equity, ambos da EQI Asset, comandaram o EQI Talks.
Acompanhe agora a análise desses especialistas do mercado financeiro e entenda como ficam seus investimentos com a esquerda no poder.
Política e economia: como o Estado funciona
Seja em um governo de direita ou esquerda, para fazer boas escolhas nas urnas, o eleitor deve compreender a lógica de funcionamento do Estado quando o assunto é economia, conforme explica Denys Wiese, head de renda fixa da EQI Investimentos.
“Existem demandas de consumo que são genuínas e aquelas que são criadas de forma artificial pelos governos. As decisões baseadas em gerar mais valor ao consumidor, são positivas. Já as medidas que são tomadas com o objetivo de serem benéficas a um grupo específico, desorganizam toda a economia. Nessa dinâmica, somente um único lado é favorecido”, observa o head.
Essa premissa de governos, segundo o especialista da EQI, é um equívoco. “Fazer isso cria um efeito ilusório de prosperidade, que não se sustenta por muito tempo”, explica.
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Esquerda no poder: política e investimentos nas últimas décadas
Para entender a lógica do comportamento da economia nas últimas décadas, Wiese mostra um levantamento da variação do PIB (Produto Interno Bruto) desde 1995, primeiro ano de governo de Fernando Henrique Cardoso, até o atual governo de Jair Bolsonaro.
Acompanhe abaixo a evolução.
Resultado primário: ponto-chave da análise econômica
Para o head da EQI, além do PIB, outro indicador relevante para a análise da política econômica é observar o resultado primário dos governos – que aponta a diferença entre arrecadação e gastos.
“Quando se gasta a mais, é gerada uma série de problemas para o País, levando ao empobrecimento. No que tange os investimentos, a grande maioria se valoriza quando os juros caem. E para termos juros baixos, o governo precisa gastar menos. Ou, pelo menos, deve haver um equilíbrio nas políticas públicas”, pondera Wiese.
Para ajudar na compreensão do cenário que o próximo presidente irá trabalhar, os especialistas da EQI fizeram um levantamento do resultado primário nas últimas duas décadas:
“A política fiscal é a base de tudo. Por isso, o mercado fica ansioso para saber o resultado das urnas. Com um fiscal bem equilibrado, é gerado um ambiente macroeconômico favorável, conforme temos acompanhado nos indicadores atuais. As previsões do PIB, por exemplo, estão entre 2.5 e acima de 3. Além disso, o país tem hoje uma geração forte de empregos,”, analisa Ricardo Cará, gestor de Fundos Multimercados da EQI Asset.
Esquerda no poder: política fiscal será colocada em xeque?
Se a economia se move de forma cíclica, existe algum risco eminente de haver problemas fiscais? Caso sim, quando isso deve acontecer?
Na avaliação de Cará, as dúvidas quanto ao governo atual são mais baixas em razão da sinalização da continuidade do Ministro da Economia, Paulo Guedes.
“Já para o caso de uma eventual eleição do candidato Luiz Inácio Lula da Silva, temos apenas indícios do que seria a política econômica. Ainda não sabemos quem irá tocar a economia e isso é bastante relevante. Sem essas informações, é difícil fazer uma avaliação mais precisa no momento”, comenta o gestor.
No entanto, ele aponta alguns indícios que podem dar pistas de como seria essa organização, caso a esquerda volte ao poder.
“Um governo de esquerda é considerado como mais ‘gastador’, dessa forma, é necessário observar como essa conta fecharia. Nesse ambiente, é preciso buscar mais receita e, para isso, existem alguns caminhos. O primeiro, é manter uma atividade econômica forte. O outro, é colocar uma reforma tributária em cima da mesa no primeiro dia de governo, sendo essa última, uma medida válida para qualquer que seja o governo daqui para frente”, aponta Cará.
O gestor da EQI Asset ainda pondera que os preços dos ativos reagem conforme o teor de incertezas quanto à trajetória da dívida do governo. “Se a conta for sustentável, o mercado deve performar bem. Mas, caso a dívida seja ascendente, os ativos devem reagir de forma ruim”, esclarece.
Para Roberto Chagas, gestor de Equity da EQI Asset, a análise conjunta do mercado externo, aliada à política fiscal interna, é fundamental para delinear cenários para o comportamento dos ativos.
“Se tivermos um ambiente internacional hostil, com redução de liquidez, o mercado irá pedir mais seriedade fiscal”, analisa.
Nesse sentido, Ricardo Cará ressalta que, do ponto de vista macro, os gestores de investimentos observam dois vetores para definir a precificação desses ativos: o ambiente interno e externo.
“Hoje, o Brasil está muito bem posicionado. Já o ambiente externo, ainda está no meio de um ciclo de aperto monetário global, com elevação de juros. Embora o Brasil já tenha feito sua lição de casa, somos muito dependentes dos juros nos EUA e Europa. Esse aperto deve se entender até o primeiro semestre de 2023. Acompanhar essa evolução é importante para vermos as economias desenvolvidas nos trilhos o que tornará, consequentemente, os mercados emergentes mais favoráveis para receber investimentos”.
Esquerda no poder: entenda a composição da nova Câmara e Senado para a aprovação dos projetos
Denys Wiese ressalta que o resultado das urnas no primeiro turno, com a eleição dos representantes da Câmara dos Deputados e do Senado indica que a esquerda no poder pode enfrentar um cenário mais desafiador para a aprovação de projetos.
“A nova composição de parlamentares mostra um aumento do percentual de conservadores, uma manutenção dos centristas e uma diminuição do percentual da esquerda. Sendo assim, a Câmara dos Deputados estará mais conservadora que antes. Por isso, que as ideias consideradas mais ‘extremistas’ terão muita dificuldade em tramitar”, aponta Wise.
Nova composição da Câmara dos Deputados
Nova composição do Senado
Diante dessa nova composição, de acordo com a Arko Advice, empresa brasileira de inteligência política, alguns pontos devem ser evidenciados no segundo turno presidencial:
- Lula terá o congresso mais difícil dentre todos seus mandatos, com oposição mais forte;
- Jair Bolsonaro, caso se reeleja, terá um mandato com bancada suficiente para bancar a presidência do Senado;
- As cenas dos próximos capítulos apontam para uma grande “dança das cadeiras” do chamado “Centrão”, o que pode definir a eleição.
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Esquerda no poder: quais são os setores que devem se beneficiar?
Roberto Chagas aponta que o programa de governo do PT ainda precisa ser conhecido de forma mais ampla. Contudo, alguns insights podem ja podem ser percebidos.
“Nesse momento, ao estudar o programa que o PT acaba de divulgar no formato da chamada ‘Carta para o Brasil de amanhã’, ainda sentimos falta de um aprofundamento de ideias. É possível ver que haverá mais gastos. Isso acontecendo, os juros devem ficar mais elevados, com uma maior intervenção estatal”, comenta.
De modo geral, o gestor reforça que ambos os governos possuem programas de governo completamente opostos.
“Se Bolsonaro se eleger, as estatais devem caminhar bem. Devemos ver também as consequências da responsabilidade fiscal, com queda das taxas de juros no segundo semestre de 2023. Isso favorece os setores domésticos da economia, como empresas de energia elétrica, shopping centers, bens de consumo e imobiliário. O setor que menos deve crescer é o bancário, em razão do estímulo à competição das fintechs e da queda de juros”, observa.
“No caso de uma vitória de Lula, é possível entender que haverá uma intervenção estatal mais forte. Sabemos que a dívida está alta, assim como os impostos, o que não dá tanto espaço como houve nos governos petistas do passado. Na minha visão, o governo petista deve induzir o crescimento a partir da Petrobras e BNDES, o que impacta o índice Ibovespa como um todo, com um crescimento mais ‘agarrado’”, analisa.
Outros pontos destacados por Chagas quanto ao programa do candidato Lula foram a política de salário mínimo, com ganhos acima da inflação, o que pode, segundo ele, “beneficiar os setores de consumo, assim como o segmento imobiliário de baixa renda”.
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Investimentos mais seguros: análise nos últimos 6 meses
Para finalizar a análise dos cenários político e econômico, os especialistas da EQI mostram a evolução dos principais investimentos nos últimos meses.
“O Brasil está em ‘liquidação’. A questão política pode trazer incertezas nesse momento, mas existem investimentos seguros que serão superados no período pós-eleitoral, seja qual for o resultado das eleições”, ressalta Denys Wiese.
Já Ricardo Cará aponta que os Fundos Multimercados se acomodarão conforme a previsibilidade dos cenários se tornar mais evidente.
“Esses Fundos não dependem de nenhum ciclo econômico. Dado o momento atual, estamos dependendo da decisão eleitoral e do cenário inflacionário do exterior. No entanto, tentamos lidar conforme os ciclos econômicos: quanto mais previsibilidade temos, operamos em cenários de médio prazo. Com menos previsibilidade, trabalhamos com cenários de curto prazo”, esclarece.
Roberto Chagas destaca que, por parte dos Fundos Long Biased há um pessimismo diante do cenário externo.
“Consideramos que o Brasil já fez seu dever de casa quanto à contenção da inflação, China e México estão prestes a terminar essa tarefa. Isso trará mais conforto aos preços dos ativos domésticos. Estamos mais otimistas com os preços dos ativos aqui no Brasil e mais pessimistas com os preços europeus. Isso devido à economia que ainda deve passar por uma desaceleração mais profunda para conter a inflação”, finaliza.
Perdeu a live? Assista aqui o vídeo.
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