Os principais ganhos do fundo Verde, liderado por Luís Stuhlberger, foram dos ativos relacionados à inflação implícita no Brasil, nos hedges de bolsa global, no petróleo e nas posições de moedas.
Estes ganhos foram influenciados pelos rendimentos dos Treasuries (títulos do Tesouro americano) para patamares próximos de 5% que trouxeram impacto para várias classes de ativos em setembro ao redor do mundo.
“Os períodos de alta violenta de taxas de juros americanas costumam ser bastante perniciosos para mercados emergentes, e setembro seguiu este padrão”, cita a carta da Verde.
Sobre o mercado de juros, a Verde aponta que o Brasil sofreu com alta norte-americana, visto que o país estava com uma expectativa otimista de ciclo de cortes, e onde o posicionamento dos investidores era mais substancial.
Inclusive, este fator revela como foi a performance do mês de setembro, com os “juros sendo piores que a moeda que foi pior que a bolsa”.
Com isso, o fundo Verde aproveitou o momento para reduzir o risco no Real e marginalmente em ações, e aumentar o risco em juros.
“O fundo está com uma exposição menor em ações, tendo reduzido a carteira no Brasil e aumentado os hedges no mercado global. Aproveitamos a alta das taxas de juros para transformar parte da posição comprada em inflação implícita no Brasil em uma posição aplicada em juros reais. No mercado global, continuamos tomados no Japão e aplicados em juro real nos EUA”, explica a carta.
Nas moedas, o fundo de Stuhlberger reduziu o risco na alocação vendida no Dólar contra o Real e manteve posição comprada na Rúpia Indiana com o enminbi Chinês e no Peso Mexicano contra o Euro.
Por fim, a posição no ouro foi zerada, além de manter uma pequena alocação em petróleo. A carta mensal do Verde ainda cita que as posições em crédito high yield local e global foram mantidas.
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Verde: como foi o mês de setembro para o fundo liderado por Stuhlberger
Em sua carta mensal, o fundo Verde destacou que o mês de setembro foi agitado e bastante desafiador, especialmente por causa da taxa de juro do Dólar. Aliás, o fundo de Stuhlberger ressalta a importância dessa taxa como um elemento central para todos os outros ativos financeiros.
Dessa forma, uma forte elevação na taxa de juros americana possui uma grande repercussão no mercado financeiro mundial.
O fundo Verde resumiu esse movimento afirmando que “este tal preço mais importante do mundo subiu, e muito.”
A taxa de juros de dez anos nos Estados Unidos subiu 46 pontos-base em setembro, continuando uma tendência que começou em maio e já acumula um aumento de 115 pontos-base em cinco meses.
Além disso, nos primeiros dias de outubro, essa taxa registrou um aumento adicional de 20 pontos-base.
Segundo o Verde, esse movimento gerou um desafio fundamental para todos os ativos e gestores de investimentos, pois a taxa de desconto, que é a base para a avaliação de ativos, subiu rapidamente, afetando todas as classes de ativos e obrigando a reavaliação de cenários e portfólios.
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Motivos para alta dos juros americanos
As razões por trás desse movimento foram diversas, mas algumas delas se destacaram.
Em primeiro lugar, a resiliência da economia americana surpreendeu os analistas, uma vez que muitos esperavam uma recessão após o início do ciclo de alta de juros nos EUA.
No entanto, a economia continuou robusta, mesmo após eventos como a quebra do Silicon Valley Bank, que não resultou em uma contração significativa da oferta de crédito.
Outro fator de destaque foi a incerteza fiscal, com o aumento substancial dos déficits fiscais americanos após a pandemia, resultando em uma emissão massiva de títulos do Tesouro.
A quantidade em circulação de Treasuries saltou de US$ 5 trilhões em 2007 para US$ 25 trilhões atualmente, com projeções conservadoras indicando um possível dobro desse valor nos próximos dez anos.
Além disso, a oferta versus a demanda por títulos de longo prazo do Tesouro enfrentou desequilíbrios. Com o Fed mudando de um programa de compra de títulos (QE) para a venda de títulos (QT), e restrições de capital mais rigorosas nos bancos, a capacidade de alavancagem no sistema financeiro diminuiu. Os bancos centrais globais também não têm o incentivo de acumular reservas quando o dólar se valoriza, tornando a situação ainda mais complexa.
O Fundo Verde observa que, olhando para o futuro, os níveis de preços atuais já incorporam boa parte de um cenário otimista de crescimento e pessimista em relação a outros fatores. No entanto, destacam-se “várias pequenas rachaduras neste quadro,” especialmente relacionadas às fragilidades acumuladas ao longo de uma década de taxas de juros historicamente baixas.