O BTG Pactual (BPAC11) elevou a recomendação das ações da Petrobras (PETR3; PETR4) para compra. Em relatório, o banco de investimento pontuou que os riscos associados à estatal são menores atualmente.
“A decisão recente de aumentar os preços dos combustíveis retirou uma das últimas razões para a nossa visão cautelosa em relação à tese. Havíamos subestimado os mecanismos de defesa oferecidos pelo (aprimorado) estatuto da Petrobras, bem como a proteção da lei das empresas estatais. Agora, acreditamos (e esperamos) que a alocação de capital da empresa não pode ser tão facilmente modificada, o que protege os resultados, preserva seu balanço enxuto e melhora a visibilidade de que os dividendos permanecerão mais relevantes por mais tempo”, reportou o BTG. Com isso, o banco atualizou sua recomendação de compra para os papéis da estatal.
O principal motivo para a atualização é que os principais riscos parecem estar “gradualmente desaparecendo”, na avaliação da instituição. O BTG pondera que, como uma estatal com forte geração de caixa, investir na Petrobras envolve “compreender os riscos associados à forma como o dinheiro gerado será utilizado”.
O histórico de retornos da Petrobras, em ciclos anteriores de capex, não é bom, segundo o BTG. Dessa maneira, fatores como subsídios aos preços dos combustíveis e investimentos em projetos além do pré-sal estavam entre as questões que os investidores (e o próprio banco) temiam, dados os riscos de que pudessem comprometer os dividendos de curto prazo, seguidos por menor geração de caixa e o retorno sobre o capital investido (ROIC) no médio e longo prazo.
Contudo, apesar do ruído, o BTG julga que as ações da nova administração não só demonstraram um grau razoável de racionalidade, como também evitaram colocar em risco algumas das grandes fortalezas financeiras e operacionais da Petrobras.
“Os principais investimentos downstream não foram anunciados e a indicação de um plano de investimentos mais elevado de cinco anos também ficou dentro das expectativas”, pontuou.
Além disso, a política robusta de distribuição de dividendos e os aumentos de preços da gasolina e do diesel na última semana reforçaram que, embora a nova política de preços não seja clara, não se dissociará totalmente dos preços de mercado, o que para o BTG reduz os riscos de prejuízo nas importações.
Múltiplos mais altos da Petrobras
O banco acredita que a percepção de risco da Petrobras cairá ainda mais nos próximos meses, assim que a empresa apresentar um plano de negócios sem surpresas. Nisso, os investidores ganharão confiança de que a alocação de capital não mudará muito.
“Isso pode levar a uma diferença menor de múltiplo” em relação aos pares americanos e europeus, segundo o BTG. “Mesmo que a política de preços de combustível não maximize os lucros do segmento de refino, os recentes aumentos de preços abrirão caminho para revisões de lucros. Acreditamos que o balanço da Petrobras deve permanecer preservado”, avalia.
Outro ponto que pode ser uma potencial surpresa positiva da tese da Petrobras está relacionada ao fato de que a empresa muitas vezes não atinge o guidance de capex. “Nos últimos 6 anos, os investimentos foram, em média, 25% menores, apesar de ainda cumprirem o seu guidance de produção. Embora ainda possa haver surpresas relacionadas aos investimentos inorgânicos da Petrobras, há poucas fusões e aquisições capazes de preencher a diferença entre o guidance e o que é realmente entregue”, escreve a instituição.
O banco não atribui mais riscos elevados de que a Petrobras acabe comprando grandes ativos de distribuição de combustível ou mesmo a participação da Novonor (ex-Odebrecht) na Braskem (BRKM5). Mesmo que esses investimentos aconteçam, o BTG estima um custo total de US$ 9,7 bilhões, um aumento de apenas 0,2 vezes a dívida líquida sobre o Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) para a alavancagem da Petrobras.
“Acreditamos, assim, que incorporar o investimento esperado no Plano Estratégico de 5 anos da Petrobras já reflete uma forte dose de conservadorismo, e a empresa terá mais espaço para pagar dividendos do que os investidores estimam.”
Dividendos extraordinários
A Petrobras se aproximará em breve dos limites superiores de sua reserva de lucros, conforme estabelecido em seu estatuto social, aponta o BTG.
A menos que a companhia crie uma reserva estatutária para destinar a forte geração de caixa esperada no 2° semestre de 2023, terá de pagar mais do que o estipulado em sua política de dividendos, de 45% do fluxo de caixa menos capex.
“Estimamos que esse valor extra poderia ser de US$ 5,3 bilhões (yield de 6%) no final de 2023 e US$ 4 bilhões (5%) ao final de 2024. Combinado com nossas estimativas baseadas na política de dividendos de US$ 5,9 bilhões (yield de 7%) e US$ 11,8 bilhões (yield de 14%) para o 2° semestre de 2023 e final de 2024, isso pode resultar em yields de 13% para 2023 e 19% para 2024”, escreve.
A projeção é de que uma reserva estatutária da Petrobras deve ser aprovada em uma assembleia de acionistas. Sinais recentes sugerem que o controlador, a União, gostaria de receber recursos extras incorporados ao orçamento, o que é propício para que esse pagamento adicional se torne recorrente.
O BTG Pactual estabeleceu preço-alvo de R$ 39 por ação da Petrobras para 2024, o que implica 30% de valorização para papéis preferenciais e 18% para ações com direito a voto.
Em relação aos preços de combustíveis, o banco projeta que fiquem 10% abaixo da paridade para a gasolina e 3% para o diesel contra 10% e 0% antes.
“A parte mais atraente é a estimativa de US$ 11 bilhões (DY de 13%) ainda a ser anunciada em dividendos até o final do 2023, que combinada com um adicional de US$ 5,9 bilhões (DY de 7%) do 1° semestre de 2024, se traduz em um retorno total de 50% e 38% nos próximos doze meses para PETR4 e PETR3, respectivamente”, avalia o BTG sobre o investimento em Petrobras.





