As ações da Braskem (BRKM5) atravessam um período de forte pressão no mercado acionário, reflexo de desafios estruturais e financeiros que têm pesado sobre a companhia. De acordo com análise de Felipe Paletta, da EQI Research, a empresa enfrenta spreads apertados em seu segmento de atuação, combinados a um cenário de juros elevados e elevado nível de endividamento.
Na segunda-feira (29), os papéis da companhia registraram a maior queda do dia, ao cair mais de 5%. Essa queda fez a petroquímica perder cerca de R$ 2 bilhões em valor de mercado.
Foi divulgado ontem, que a Braskem estuda alternativas para reestruturar seu endividamento e reduzir a alavancagem financeira após a contratação de assessores especializados. Segundo informações do jornal Valor Econômico, uma das opções mais prováveis em discussão é a recuperação extrajudicial, medida que permitiria à companhia obter proteção contra a execução de dívidas enquanto negocia com credores.
O passivo da petroquímica soma aproximadamente US$ 8,5 bilhões, desconsiderando a operação da joint venture com a Idesa, no México. A avaliação da estratégia ocorre em um momento de forte pressão financeira e de mercado para a empresa.

Ações da Braskem: serviço da dívida mais caro
Segundo o analista, o prolongamento desse ambiente de taxas altas tem encarecido o serviço da dívida da petroquímica, ao mesmo tempo em que a desaceleração do mercado global e doméstico dificulta a geração de receita.
“Tudo tem jogado contra a empresa nesse momento”, afirmou Paletta, destacando que a companhia não tem conseguido expandir sua linha de receitas diante das limitações do setor.
Nos últimos dias, o mercado reagiu a informações de que a Braskem contratou serviços jurídicos e financeiros para avaliar alternativas de reestruturação. Entre as possibilidades especuladas, está a conversão de dívida em ações, medida que poderia resultar em diluição significativa para os atuais acionistas. Essa perspectiva aumentou a percepção de risco e contribuiu para o desempenho negativo recente dos papéis da companhia.
Apesar de o BTG Pactual manter recomendação de compra para a ação, a EQI Research não inclui Braskem em suas carteiras. Para Paletta, há empresas negociadas na Bolsa com descontos atrativos e fundamentos mais sólidos neste momento. “A gente não gosta da alocação em Braskem nesse momento”, concluiu o analista.
Prejuízo no 2TRI25
A empresa encerrou o segundo trimestre de 2025 (2TRI25) com prejuízo líquido de R$ 267 milhões, revertendo o lucro de R$ 698 milhões apurado nos três meses anteriores. Apesar do resultado negativo, o valor representa uma redução expressiva frente ao prejuízo de R$ 3,7 bilhões reportado no mesmo período de 2024.
O desempenho foi pressionado por spreads internacionais mais baixos de polietileno (PE) e PVC, com impacto relevante nos mercados do Brasil, América do Sul e México. A parada programada para manutenção em sua unidade mexicana e efeitos de custos relacionados a estoques também pesaram sobre os números.
A receita líquida consolidada somou R$ 17,857 bilhões no trimestre, recuo de 6% em relação ao 2TRI24 e de 8% frente ao 1TRI25. A queda foi atribuída principalmente à desvalorização dos preços internacionais de produtos petroquímicos e ao menor volume de exportações, em especial no México.
O EBITDA recorrente consolidado totalizou R$ 427 milhões (US$ 74 milhões), queda de 74% na comparação anual e de 68% em relação ao trimestre anterior. Com isso, a margem EBITDA caiu para 6%, ante 9% no mesmo período do ano passado.
Tanure e a Braskem
Há meses, a Braskem tenta encontrar uma saída para vender a participação da Novonor, antiga Odebrecht. Em julho, a empresa havia comunicado que a Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) havia aprovado, sem restrições, a análise de uma possível operação envolvendo a venda de ações da NSP Investimentos S.A., holding da Novonor, que detém participação relevante na petroquímica.
A transação em avaliação prevê a transferência da fatia da Novonor para o Petroquímica Verde Fundo de Investimento em Participações, veículo de investimento controlado pelo empresário Nelson Tanure. O pedido de autorização concorrencial foi protocolado no Cade em 7 de julho.
De acordo com comunicado da Braskem à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a decisão ainda está sujeita ao prazo legal de 15 dias a partir da publicação oficial do despacho, período em que podem ocorrer manifestações de terceiros ou eventual avocação pelo Tribunal do órgão regulador.
Atualmente, a Novonor detém 38,32% do capital total da Braskem e controla 50,11% das ações ordinárias da companhia. A efetivação da operação depende do cumprimento de obrigações previstas no acordo de acionistas firmado com a Petrobras (PETR4), além da conclusão das tratativas com bancos credores que possuem garantias sobre as ações da petroquímica.
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