Com o retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos, o Brasil pode enfrentar um cenário econômico global mais turbulento e desafiador. A agenda que Trump promete implementar, incluindo deportações em massa de imigrantes, aumento de tarifas de importação e subsídios para a produção nacional, deverá ter consequências significativas para a economia americana e para seus parceiros comerciais, entre eles o Brasil.
Brasil e Trump: protecionismo e o impacto no comércio global
Um dos pontos mais polêmicos do plano de Trump é a elevação das tarifas de importação. Durante a campanha, ele propôs aumentos entre 10% e 20% para a maioria dos parceiros comerciais, com destaque para a China, onde as tarifas poderiam chegar a 60%, além de sobretaxas de mais de 100% em certos produtos. O ex-presidente justifica essas medidas como necessárias para estimular a produção e o emprego nos Estados Unidos, incentivando as empresas a fabricarem no país em vez de importarem.
Especialistas, no entanto, veem riscos nessa estratégia. De acordo com Cláudio Ferraz, associate partner do BTG Pactual, o protecionismo tarifário tende a ser inflacionário. “Se os americanos reduzirem as importações de produtos chineses de uma hora para outra, haverá duas consequências possíveis: ou a inflação aumentará, porque os consumidores terão de pagar mais caro pelos produtos, ou haverá uma redução na demanda, pois os preços altos reduzirão o consumo.” O impacto pode ser sentido globalmente, com o enfraquecimento da corrente de comércio, prejudicando economias emergentes como o Brasil.
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Efeitos no Brasil: dólar mais caro e exportações reduzidas
As medidas protecionistas e o aumento nos subsídios internos devem pressionar a dívida pública dos EUA e provocar uma alta inflacionária, impactando também o Brasil, que precisará se preparar para um possível ciclo de dólar valorizado.
Para Stephan Kautz, economista-chefe da EQI Asset, a política expansionista de Trump poderá sustentar o crescimento econômico americano a curto prazo, mas isso não significa estabilidade.
Com a inflação em alta, o Fed (o banco central dos EUA) deve manter uma postura mais restritiva na política monetária, ajustando a taxa de juros gradualmente para evitar um superaquecimento econômico. Esse cenário tende a manter o dólar forte e encarecer as importações brasileiras, dificultando as exportações para o mercado americano.
Além disso, a relação comercial entre Brasil e EUA, sendo este o segundo maior parceiro comercial do Brasil, pode ser diretamente afetada pela redução nas exportações brasileiras, especialmente de commodities, que encareceriam devido ao aumento das tarifas e à desvalorização da moeda brasileira frente ao dólar.
China e o efeito cascata nas economias emergentes
A promessa de Trump de aumentar as tarifas sobre os produtos chineses também deve ter consequências indiretas para o Brasil. Mirella Hirakawa, coordenadora de pesquisa e sócia da Buysidebrazil, acredita que o principal foco de Trump será a política comercial, especialmente nas relações com a China, o que pode acentuar a desaceleração da economia chinesa e prejudicar economias emergentes, incluindo o Brasil.
“Se a China desacelera, isso se reflete nos países que têm a China como principal cliente, como o Brasil, o que pode provocar um efeito cascata” explica Mirella.
Apesar do risco de impacto imediato, Mirella acredita que as medidas de Trump podem ser implementadas gradualmente, o que poderia mitigar os efeitos negativos em economias emergentes. Ainda assim, o Brasil deve se preparar para um cenário de maior volatilidade, dado o histórico de Trump em adotar medidas inesperadas e a tendência de colocar os interesses dos EUA acima das relações internacionais.
A incerteza política e a agenda econômica
Embora Trump tenha alcançado uma posição de força política, com uma maioria no Congresso que facilita a aprovação de suas pautas, a implementação de sua agenda econômica pode enfrentar limitações. Como observa Cláudio Ferraz, “o grande desafio será distinguir as promessas de campanha da capacidade real de implementação.”
No quadro geral, o Brasil precisa se preparar para um cenário desafiador e instável com um possível segundo mandato de Donald Trump. As expectativas são de um dólar mais valorizado, aumento dos custos de exportação e desaceleração econômica devido às políticas protecionistas americanas e à desaceleração da China. No entanto, a real dimensão desses impactos dependerá de como a agenda econômica de Trump será implementada e de como o Federal Reserve irá responder para manter a economia dos EUA equilibrada.