No mês de setembro, a EQI Research anunciou a entrada das ações do Banco Inter (INBR32) em sua Carteira Recomendada Buy & Hold. A decisão, segundo a casa de análise, é fundamentada na combinação de fundamentos sólidos, gatilhos de valorização a curto prazo e um potencial de crescimento acelerado e sustentável.
O papel entrou no lugar da Porto Seguro (PSSA3), que, embora continue sendo vista como uma empresa de alta qualidade, teve sua atratividade reduzida após uma forte valorização.
“Estamos retirando PSSA3 da carteira para dar espaço a outras empresas que, em nossa visão, apresentam gatilhos mais atraentes a curto prazo”, afirma o relatório da EQI Research.
Os analistas complementam a justificativa: “Após uma valorização expressiva de 63,4% no último ano — sendo 50% apenas em 2024 — entendemos que a relação risco-retorno se deteriorou”.
Mas o que torna o Inter tão atraente neste momento? O relatório escrito pelo analista Nícolas Merola, o intitulado “Inter, crescimento ao estilo brasileiro”, explica de forma mais aprofundada a estratégia que sustenta essa tese de investimento.
Banco Inter: de onde veio e para onde vai?
A história do Inter começa em 1994 como Financeira Intermedium, ligada à construtora MRV (MRVE3). O grande salto ocorreu quando o banco se tornou um pioneiro digital, superando até mesmo players que hoje são gigantes no setor.
“Em 2015, entretanto, já estruturado como um banco, lançou a primeira conta corrente complemente digital do Brasil, à frente da gigante Nubank (NU; ROXO34), que à época focava seus esforços em crescer seu negócio de cartão de crédito”, informou a EQI Research.
Após seu IPO na B3 em 2018 e a migração para a Nasdaq em 2022, o Inter consolidou seu foco na diversificação e internacionalização.
A virada de jogo: sobrevivendo à tempestade
Para entender a oportunidade atual, é preciso lembrar o cenário pós-pandemia.
Houve uma “febre” de consumo online que impulsionou os negócios digitais, incluindo os bancos. No auge desse movimento, em 2021, o Inter, que havia feito seu IPO com um valor de mercado de R$ 2,5 bilhões, chegou a valer mais de R$ 70 bilhões.
Contudo, o cenário mudou drasticamente após esse pico.
“2021 passou, e o inverno da bolsa voltou com tudo à medida que o repique da enxurrada de liquidez gerada pelos governos durante o período da pandemia acabou se tornando inflação”, explica EQI Research.
Com a alta das taxas de juros globais, que no Brasil chegaram a 15%, projetos que se sustentavam em crescimento acelerado passaram por um período de provação. As ações do Inter chegaram a cair mais de 80% e a serem negociadas abaixo de seu valor patrimonial, exigindo uma nova visão estratégica.
O “crescimento ao estilo brasileiro” e o plano 60/30/30
Segundo Merola, foi nesse contexto que nasceu o plano “60/30/30”, uma nova fase de crescimento fundamentada em uma boa e velha análise bancária, com meta para 2027: 60 milhões de clientes, 30% de índice de eficiência e 30% de Retorno sobre o Patrimônio (ROE).
O nome “crescimento ao estilo brasileiro” foi cunhado para diferenciar a nova abordagem do modelo que se tornou comum no mercado americano.
“Chamei essa meta de crescimento à moda brasileira porque entendo que aquele espírito de crescimento acelerado, pouco guiado por lucro, com altas despesas à moda de uma startup é bem característico do mercado americano”, explica Merola.
O analista aponta que a mudança de rota se mostrou acertada. Os resultados de meados de 2025 já apresentam 39,3 milhões de clientes, 47,8% de índice de eficiência e um ROE de 14,5% — uma foto extremamente melhor do que a de 2022.
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Uma oportunidade a um preço justo?
Hoje, o Inter apresenta um perfil híbrido, entre banco tradicional e digital. Ao ser comparado com seus pares, sua atratividade fica evidente, segundo a análise da EQI Research:
- O Nubank, seu principal comparável digital, possui um valor de mercado de US$ 75 bilhões e negocia a um múltiplo preço/lucro de 33 vezes.
- O Bradesco (BBDC4), um comparável tradicional, embora tenha um valor de mercado de R$ 165 bilhões e múltiplos mais baixos, passa por um processo de recuperação e tem uma capacidade de crescimento mais limitada.
- O Inter, por sua vez, negocia a um valor de mercado de US$ 3,9 bilhões e um preço/lucro de 18 vezes, posicionando-se de forma atrativa entre os dois mundos.
A análise conclui que o banco não precisa de uma grande reprecificação para destravar valor.
“Minha premissa é que o Inter, daqui para frente, não deva passar por um processo de reprecificação tão grande enquanto trabalha com esse duplo mandato de crescimento com rentabilidade”, afirma Merola.
Ele acrescenta que, se bem-sucedido, “o plano, por si só, já deveria destravar bastante valor pelo próprio crescimento da companhia”.
Com a melhora gradual do cenário macroeconômico, a tese ganha ainda mais força. “Nossa escolha pelo Banco Inter se dá em função da maior atratividade para capturar os resultados esperados após o ciclo de alta de juros iniciado em 2021”, conclui a EQI Research.
Leia o relatório do Banco Inter na íntegra clicando aqui.