A Companhia Siderúrgica Nacional (CSNA3) deu início à fase final de estruturação da CSN Infraestrutura, nova empresa que concentrará seus principais ativos logísticos e de energia.
O projeto é considerado pela administração o movimento mais relevante do plano de desalavancagem do grupo, que encerrou o terceiro trimestre com dívida líquida próxima de R$ 37,5 bilhões, equivalente a 3,1 vezes o Ebitda.
Durante a teleconferência de resultados do 3TRI25, o CFO Antonio Marco Rabello afirmou que a operação está “muito avançada” e deve representar uma das maiores movimentações financeiras já realizadas pela CSN fora de seu core industrial.
“Estamos falando de uma estrutura que vai reunir sete ativos de logística e energia e que deve trazer alguns importantes bilhões de reais em liquidez para o grupo. Nosso objetivo é muito claro: reduzir a alavancagem de forma orgânica e não dilutiva, preparando a empresa para um novo ciclo de crescimento”, afirmou Rabello.
Infraestrutura será novo braço estratégico com portos, ferrovias e rodovias
O novo veículo reunirá a participação de 37,5% na MRS Logística (MRSA3B), os terminais portuários de Sepetiba e Itaguaí, ambos no Rio de Janeiro, a Tora Logística e instalações rodoviárias e ferroviárias integradas à CSN Mineração (CMIN3). A companhia também avalia incluir parte dos ativos de energia da antiga CEEE-G, adquiridos em 2021, num modelo de governança semelhante.
Segundo Rabello, o projeto foi concebido como um spin-off estruturado dentro do próprio grupo e deve funcionar como uma plataforma de monetização de longo prazo. A ideia é permitir que investidores especializados em infraestrutura participem da operação sem que o controle da CSN seja diluído.
“A criação da CSN Infraestrutura será um atalho para destravar valor sem comprometer os negócios-núcleo da companhia. A capitalização poderá ocorrer por venda minoritária, joint venture ou até mesmo um IPO, dependendo do cenário de mercado. Mas o primeiro passo é consolidar resultados e precificar os ativos de forma independente”, explicou Rabello.
O cronograma prevê que o anúncio formal da estrutura ocorra nas próximas semanas, com a capitalização prevista para 2026. Rabello reforçou que a operação tem potencial de levar a alavancagem abaixo de 2,5 vezes o Ebitda após a consolidação do novo veículo.
Steinbruch: foco em desalavancagem e fortalecimento do balanço
O CEO e controlador Benjamin Steinbruch reforçou que a prioridade do grupo é reduzir endividamento e manter disciplina operacional, especialmente após um ciclo de investimentos em mineração, siderurgia e cimento.
“Temos uma prioridade acima de todas: reduzir a dívida e fortalecer o balanço. A empresa precisa ser leve para poder crescer de novo”, afirmou Steinbruch.
Durante a apresentação, o executivo destacou que o trimestre foi marcado por recordes operacionais em praticamente todos os segmentos — mineração, cimento e logística — e pela redução do custo de produção na siderurgia ao menor nível dos últimos quatro anos.
“Estamos vendo um momento de maturidade da companhia. Conseguimos crescer em volume, reduzir custos e ainda gerar caixa, o que nos dá condições de trabalhar a desalavancagem de forma consistente”, afirmou Steinbruch.
Estrutura financeira mais enxuta e foco em eficiência operacional
De acordo com Rabello, a desalavancagem vem ocorrendo de forma puramente orgânica, com geração operacional e gestão ativa de passivos. Ele ressaltou que o grupo vem alongando prazos de amortização de dívidas até 2030 e substituindo contratos de maior custo por linhas mais eficientes.
“Saímos de 3,5 vezes dívida líquida/Ebitda no fim do ano passado para 3,1 vezes agora, e o objetivo é chegar a 3 vezes já no fim de 2025. O projeto da CSN Infraestrutura é o próximo passo natural — não apenas vai acelerar esse processo, mas também reorganizar os ativos de forma estratégica para atrair capital especializado”, afirmou Rabello.
O executivo também citou que as negociações envolvendo os ativos de energia seguem avançando. A empresa busca um sócio estratégico para a operação da antiga CEEE-G, com o mesmo modelo de monetização parcial adotado no projeto de infraestrutura.
“O tema de energia continua na mesa e pode amadurecer em paralelo. Estamos falando de vender uma fatia sem perder o controle, como uma forma de reciclar capital e reforçar o caixa do grupo”, explicou Rabello.
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Perspectivas: destravar valor sem vender o coração do negócio
A administração da CSN reforçou que a estratégia de desalavancagem não inclui a venda de operações-chave, como mineração e cimento, que seguem como pilares de geração de caixa. A CSN Mineração, por exemplo, encerrou o trimestre com alavancagem negativa (-0,59x) e caixa líquido de R$ 3,9 bilhões, o que reforça a capacidade do grupo em sustentar seus planos de investimento.
“Estamos fazendo o que precisa ser feito: reduzindo custos, melhorando produtividade e reorganizando ativos para fortalecer o grupo. (…) A CSN Infraestrutura é uma oportunidade de mostrar ao mercado o valor real dos nossos ativos logísticos e criar uma base sólida para o futuro”, afirmou Steinbruch.





