O conceito ao redor da criação de um negócio passa muitas vezes pela ideia do empreendedorismo, do conhecimento sobre negócios e do investimento em renda variável. Gustavo Cerbasi, escritor e consultor financeiro, no entanto, argumenta que nenhuma dessas opções será o suficiente sem o entendimento do conceito por trás. “Inteligência financeira nos negócios ajuda a tomar decisões mais consistentes”, diz, na 9ª edição da Money Week, realizada entre esta segunda-feira (14) e quinta-feira (17).
“As finanças não se alteram. Há jeitos diferentes de falar sobre, normas e leis que são criadas e que podem mudar a maneira de enxergar as coisas, mas a maneira de fazer é a mesma”, pontua Cerbasi.
Cerbasi constata que um negócio nasce com o propósito evidente de gerar valor – e reforça que só assim uma ideia deve ser levada à frente. “Deve haver uma racionalidade muito grande no início de qualquer negócio, a fim de não se perder dinheiro. Por trás, deve haver recursos para sustentar a operação, experiência e potencial de crescimento. Parece óbvio, mas é raro que essas contas sejam feitas de fato. As reuniões geram valor? Quanto vale a hora dos funcionários e dos sócios?”, questiona.
Inteligência financeira determina futuro de uma operação
Considerado uma referência em educação financeira do Brasil, o especialista é consultor, professor, palestrante e autor de 16 livros com mais de 3 milhões de exemplares vendidos, entre eles o best-seller “Casais Inteligentes Enriquecem Juntos”.
Ele defende que por trás de um grande negócio, deve haver sempre planejamento. Ter ou não planejamento pode, inclusive, determinar o futuro de uma empresa.
“Muitas empresas quebram antes mesmo da primeira nota fiscal – é uma questão estrutural. O primeiro erro é a falta de planejamento: enxergar a história que a empresa vai contar nos próximos meses; como vai funcionar o fluxo de caixa; qual o plano de negócio”, explica.
Uma grande falha, diante da falta de planejamento, ele diz, é perceber a inviabilidade do negócio quando já se paga salários, por falta de interpretação das finanças.
O especialista explica que uma maneira de se estudar a viabilidade de um negócio é por meio da comparação de custos com o potencial resultado. Isso é constatado pelos documentos contábeis da empresa, em seu balanço patrimonial. “Os ativos da empresa devem ser vistos com atenção: é ali que está o dinheiro da companhia”, diz.
Cerbasi explica que duas empresas similares no mesmo mercado podem ser comparadas, mas a estratégia de investimento vai diferenciar cada uma. Isso se aplica às finanças pessoais também, mas com o conceito da carteira de investimentos. “Nada descreve melhor a estratégia de um negócio do que o conjunto de seus ativos.”

Planejamento é fundamental em toda a jornada
O planejamento, ensina Cerbasi, deve ser uma constante na trajetória dos negócios e não apenas no ponto inicial de um empreendimento.
Isso porque o planejamento evita problemas no longo prazo, quando a emoção pode substituir facilmente a racionalidade em muitos momentos, diz Cerbasi. E ele faz uma comparação com o mercado acionário e as decisões do investidor:
“Devemos comprar ações sem pensar no dividendo que elas distribuem no momento, mas sim imaginando que ao longo do tempo as melhorias nos negócios criarão valor, e esses dividendos sobre o patrimônio também serão crescentes. Com investimentos contínuos, teremos lucros sucessivos”, avalia.
Muitas vezes também não fica claro ao empreendedor que algumas escolhas conduzem a dificuldades financeiras. Quem deseja avançar nas finanças precisa ser mais ousado em suas escolhas naturalmente, segundo Cerbasi, e terá de saber lidar com imprevistos. Por isso a inteligência financeira nos negócios envolve a necessidade de um orçamento resiliente, e não necessariamente robusto.
“A dívida nem sempre é um problema – muitas vezes, é a solução em determinado momento. A dificuldade é encontrada em um orçamento engessado, que não permite o pagamento da dívida e gera a soma de juros. Um orçamento resiliente, que pode se flexibilizar a partir de um planejamento desenhado, consegue voltar à sua forma original sem grandes esforços”, pondera Gustavo Cerbasi.