O Bitcoin pode substituir o dólar? As criptomoedas têm se tornado cada vez mais relevantes no mundo e estão se popularizando rapidamente. O relatório “State of Crypto Report 2024: New data on swing states, stablecoins, AI, builder energy, and more”, divulgado pelo fundo de venture capital a16z, revelou que há cerca de 617 milhões de pessoas no mundo que já utilizam criptomoedas.
O estudo aprofunda a análise ao destacar que apenas 5% a 10% desses usuários estão realmente ativos em práticas como day trade e swing trade. A grande maioria investe nas criptomoedas de forma passiva, comprando os ativos e aguardando sua valorização a longo prazo.
Além dos investidores, algumas empresas têm pago seus colaboradores com Bitcoin, especialmente em plataformas tecnológicas que contratam freelancers por meio de sites como Bitcoiner Jobs e Behance.
Não são apenas pessoas físicas e empresas que têm buscado o Bitcoin; até mesmo países estão apostando na criptomoeda. Em El Salvador, desde 2021, o presidente Nayib Bukele adotou o Bitcoin como moeda oficial, prometendo transformar o país no “paraíso dos Bitcoins”.
Outra pequena nação — Butão — também viu sua aposta na criptomoeda valer a pena. Carteiras associadas ao governo foram rastreadas pela empresa de análise de blockchain Arkham, revelando que elas ultrapassaram US$ 1 bilhão, valor que representa mais de um terço do Produto Interno Bruto (PIB) do país.
Até mesmo o sistema geopolítico pode influenciar essa eventual troca. Analistas internacionais apontam que o Bitcoin pode ser adotado em transações internacionais por países que sofrem embargos dos Estados Unidos e buscam uma alternativa ao dólar para realizar transações comerciais transfronteiriças.
Eles consideram que esse movimento é inevitável, especialmente no caso do BRICS, grupo formado por Brasil, Índia, China, Rússia, Irã e outras nações não alinhadas ao eixo geopolítico ocidental. De acordo com especialistas, países como Rússia, China e Irã, que enfrentam exclusões do sistema de pagamento tradicional devido à interferência dos Estados Unidos e do Ocidente em geral, inevitavelmente enxergarão as criptomoedas como uma alternativa ao analisarem formas de continuar transacionando livremente com outros países.
O Bitcoin tem se tornado cada vez mais relevante, mas o que faz dele ser tão especial? Entenda no próximo tópico.
- Leia também: Bitcoin ultrapassa US$ 100 mil pela primeira vez, impulsionado por Trump
- ETFs de Bitcoin: depois de 1 ano do lançamento, como eles estão performando?
A facilidade de uso do Bitcoin
A disparada do Bitcoin ocorreu devido às suas características que podem facilitar seu uso no dia a dia.
Atualmente, a criptomoeda pode ser enviada e recebida de qualquer lugar do mundo, sem a necessidade de intermediários, como bancos, o que torna os pagamentos internacionais mais rápidos e baratos em comparação com os métodos tradicionais.
Além disso, o Bitcoin permite transações sem a necessidade de uma conta bancária, bastando apenas o acesso à internet.
Outro ponto de destaque é a rapidez dos pagamentos. As transações com Bitcoin, especialmente em redes de segunda camada como a Lightning Network, são confirmadas quase instantaneamente, tornando-o ideal para pequenas compras no varejo.
O Bitcoin também se mostra versátil em seu uso, podendo ser utilizado tanto para compras online quanto para pagamentos presenciais, por meio de QR codes ou aplicativos móveis.
A aceitação da criptomoeda tem crescido em todo o mundo, com empresas e serviços, incluindo grandes varejistas e plataformas de e-commerce, adotando o Bitcoin como forma de pagamento.
Por fim, os aplicativos de carteira digital tornam o armazenamento e o envio de Bitcoin extremamente simples, oferecendo interfaces amigáveis e suporte a pagamentos instantâneos.
Apesar dessas vantagens, é importante considerar fatores como a volatilidade do preço, as taxas de transação em períodos de alta demanda e a necessidade de aprendizado para novos usuários.
Bitcoins estão se tornando reserva de valor
Com essa facilidade, os Bitcoins estão se tornando uma reserva de valor devido à sua natureza descentralizada e à oferta limitada — são apenas 21 milhões de unidades em circulação. Sua divisibilidade e facilidade de armazenamento tornam o ativo acessível tanto para grandes quanto para pequenos investidores.
Pode-se considerar que reservas de valor são ativos capazes de preservar o poder de compra ou troca ao longo do tempo, mesmo em contextos de instabilidade econômica. Tradicionalmente, estabilidade e confiabilidade eram os critérios mais importantes para definir uma boa reserva de valor.
Contudo, características como portabilidade, divisibilidade e descentralização — oferecidas por criptomoedas como o Bitcoin — aumentaram esse conceito.
Valor de mercado e aumento da relevância
Com cada vez mais pessoas usando Bitcoin, ele tem ganhado cada vez mais relevância no mercado.
Em novembro de 2024, o valor de mercado combinado de todas as criptomoedas do mundo alcançou US$ 2,92 trilhões. Apenas o Bitcoin possui uma capitalização estimada em US$ 1,728 trilhão, representando mais da metade de todas as outras criptomoedas somadas.
Recentemente, o Bitcoin ultrapassou a prata e tornou-se o oitavo ativo mais valioso do mundo. Além disso, se o movimento de alta continuar, ele poderá superar a Saudi Aramco, a petrolífera da Arábia Saudita, que tem uma capitalização de US$ 1,8 trilhão, alcançando a sétima posição.
A diferença entre as criptomoedas e os outros ativos do ranking ainda é significativa. Na sexta posição, a Amazon é avaliada em US$ 2,19 trilhões. Os cinco ativos mais valiosos do mundo são:
- Alphabet (dona do Google), com US$ 2,2 trilhões
- Microsoft, com US$ 3,12 trilhões
- Apple, com US$ 3,38 trilhões
- Nvidia, com US$ 3,62 trilhões
- Ouro, com impressionantes US$ 17,4 trilhões
Mas e o dólar?
Apesar dos números impressionantes do Bitcoin, ele ainda é bem menor que a quantidade de dólares em circulação no mundo. Segundo dados do Federal Reserve (Fed) referentes a novembro de 2024, há aproximadamente US$ 2,36 trilhões em circulação no mundo.
O dólar norte-americano ainda tem um papel central na economia mundial, sendo amplamente utilizado em diversas áreas, como comércio internacional, turismo, reserva de valor e até mesmo como moeda oficial em países fora dos Estados Unidos. Essa predominância se deve à estabilidade econômica dos EUA, à confiança no sistema financeiro americano e à ampla aceitação global da moeda.
“O dólar é a moeda mais utilizada no comércio internacional, na emissão de dívidas dentro e fora dos EUA, na manutenção de reservas internacionais e como unidade de conta para precificação de produtos e serviços em todo o mundo. Essa hegemonia traz enormes vantagens para os norte-americanos”, explica Denys Wiese, estrategista-chefe da EQI Investimentos.
Ele ainda esclarece que o uso intensivo do dólar no mercado internacional cria uma demanda mundial pela moeda e pelos títulos do Tesouro dos EUA. Isso possibilita ao governo americano gastar e imprimir dinheiro mais do que outros países, enfrentando menos inflação e mantendo taxas de juros mais baixas.
“Internamente, os EUA consomem mais e possuem ativos mais valorizados, como imóveis, empresas e terras. Externamente, o controle da moeda mundial assegura aos EUA uma posição de liderança geopolítica, permitindo impor sanções, como a exclusão de países do sistema de pagamentos ou o congelamento de reservas, sempre que necessário”, afirma Wiese.
Segundo um estudo do Banco de Compensações Internacionais (BIS), cerca de 88% das transações globais utilizam o dólar como moeda de troca. Esse domínio ocorre porque a maioria das commodities, como petróleo, ouro e grãos, é precificada em dólar. Isso facilita negociações entre países com moedas diferentes, que frequentemente recorrem ao dólar como intermediário.
Mesmo com essa característica, o estrategista da EQI Investimentos aponta um estudo em que as reservas internacionais em dólar dos países vêm diminuindo.
“É possível observar que, apesar do domínio absoluto do dólar, a distância para outras moedas está reduzindo. Em 2016, 65% das reservas eram em dólar ou títulos americanos; hoje, esse índice caiu para 58%. No mesmo período, o euro passou de 19% para 20%, o iene de 4% para 6%, o yuan de 1% para 3%, e outras moedas subiram de 11% para 13%”, citou.
Para Wiese essa redução pode ser atribuída a quatro fatores:
- a inflação crescente do dólar, resultado dos grandes déficits fiscais do governo norte-americano;
- a política de interferência geopolítica dos EUA, que submete outros países às suas vontades;
- a insegurança gerada pela possibilidade de congelamento de reservas, como aconteceu com a Rússia devido às sanções relacionadas à guerra na Ucrânia; e
- o desejo de maior diversificação dos bancos centrais, considerando os pontos anteriores, em direção a reservas denominadas em outras moedas, especialmente ouro.
Dessa forma, o estrategista reforça que a ideia de diversificação também é válida para investimentos internacionais.
“A mídia tem tratado a queda da hegemonia do dólar de forma alarmista, como se fosse um evento iminente. Porém, nada do que foi discutido sugere uma queda ou “colapso” imediato da moeda. O papel do dólar na economia mundial é enorme, e ele continua sendo, de longe, a moeda mais usada, importante e confiável do mundo. No entanto, é inegável que sua relevância vem diminuindo, especialmente como reserva dos outros países”, relatou Wiese.
Wiese afirma que, no futuro, o governo dos EUA enfrentará desafios maiores para rolar sua dívida, com taxas de juros mais altas e inflação elevada devido à menor demanda por sua moeda e títulos. Isso resultará em uma relevância reduzida no cenário internacional. Ele ressalta que isso não significa o colapso dos EUA, mas sim uma fase de menor poder e maiores dificuldades.
Para reverter essa tendência, Wiese sugere que a fórmula é clara, embora difícil de implementar: redução dos gastos públicos e controle da emissão de moeda. Com essas medidas, o dólar poderia recuperar sua posição como porto seguro definitivo dos bancos centrais.
O dólar no turismo
Além de ser usado para a transação entre os países, o dólar é amplamente utilizado no turismo global.
Em muitos destinos, como América Latina, Caribe e Sudeste Asiático, comerciantes aceitam dólares como forma de pagamento devido à alta demanda da moeda entre turistas. Esse fenômeno é evidente em locais como México, Tailândia e Bahamas, onde o dólar circula quase tão facilmente quanto as moedas locais.
Além disso, turistas preferem o dólar como reserva de emergência, pois ele é facilmente convertido em praticamente qualquer lugar do mundo.
Sabia que o dólar é usado como moeda oficial de outros países?
Diversos países fora dos EUA utilizam o dólar como moeda oficial, uma prática conhecida como “dolarização”. Exemplos incluem El Salvador, Equador, Panamá e Zimbábue, que substituíram suas moedas locais devido a problemas econômicos ou inflação elevada.
Essa prática traz estabilidade econômica, mas limita a autonomia em políticas monetárias, já que esses governos não podem emitir a moeda.
E não apenas isso, mesmo em países que não adotam o dólar oficialmente, a moeda é usada como referência para precificar bens de alto valor, como imóveis, veículos de luxo e tecnologia.
Isso é comum em mercados como Argentina e Venezuela, onde a inflação corroeu o poder de compra das moedas locais. Nesses casos, o dólar funciona como um padrão confiável, protegendo compradores e vendedores contra a instabilidade econômica doméstica.
O Bitcoin pode substituir o dólar?
Com todo esse potencial, será que o Bitcoin pode substituir o dólar? Leonardo Gonçalves, assessor de renda variável da EQI Investimentos, destaca que o BTC tem mostrado uma evolução impressionante em sua narrativa como reserva de valor digital e proteção contra a inflação, ganhando tração especialmente em momentos de instabilidade econômica global.
“Com governos e grandes instituições financeiras ampliando sua adoção e produtos como ETFs de Bitcoin atraindo bilhões em investimentos, é inegável que o ativo está consolidando sua relevância no sistema financeiro global”, acrescenta.
Embora o Bitcoin tenha conquistado relevância crescente no cenário mundial, sua substituição ao dólar como moeda principal enfrenta desafios significativos.
O BTC possui vantagens, como acessibilidade global, descentralização e crescente uso em transações digitais, além de sua adoção oficial em países como El Salvador e Butão. No entanto, a ampla aceitação e a estabilidade do dólar continuam a sustentar seu domínio.
O Bitcoin enfrenta diversas resistências e desafios em sua possível substituição ao dólar. Um dos principais obstáculos é a sua alta volatilidade, com variações diárias de preço que limitam seu uso como uma moeda de troca estável. Em contraste, o dólar oferece previsibilidade, um aspecto essencial para o comércio internacional e para a precificação de bens e serviços.
Além disso, a infraestrutura global é amplamente baseada no dólar, com 88% das transações internacionais denominadas nessa moeda. Redes de bancos, contratos internacionais e a precificação de commodities são estruturados em torno do dólar, tornando a migração para outra moeda ou ativo extremamente difícil.
Outro ponto crítico é a adoção limitada das criptomoedas. Apesar de cerca de 617 milhões de pessoas utilizarem criptomoedas, a maioria o faz de forma passiva, como reserva de valor. O uso em transações comerciais cotidianas ainda é restrito e está muito distante de competir com a aceitação global do dólar.
Por fim, a regulação e questões geopolíticas também representam barreiras significativas. Governos resistem à ampla adoção do Bitcoin devido à falta de controle centralizado. Países sob embargos, como Rússia e Irã, enxergam nas criptomoedas uma alternativa ao dólar, mas seu uso é mais estratégico e pontual do que universal.
Esses fatores combinados mostram que o Bitcoin enfrenta grandes desafios para competir com a posição consolidada do dólar na economia global.
Com isso, Gonçalves aponta que a substituição do dólar pelo BTC parece improvável no médio a longo prazo. Wiese reforça essa ideia ao afirmar que o BTC está avançando aos poucos, mas ainda muito longe de alcançar tal objetivo.
“A moeda americana é sustentada por fundamentos sólidos, como a confiança nas instituições dos EUA, sua ampla liquidez e a aceitação global como referência para transações comerciais e reservas cambiais. O dólar é a base de mais de 80% das transações globais e compõe cerca de 60% das reservas cambiais dos bancos centrais ao redor do mundo. Essa hegemonia foi construída ao longo de décadas e está profundamente enraizada no sistema financeiro global”, diz Gonçalves.
O assessor de renda variável afirma que, embora o Bitcoin ofereça vantagens como descentralização e escassez digital, ele enfrenta desafios significativos para alcançar o status de moeda global. Segundo ele, a volatilidade, a falta de regulamentação clara em muitas jurisdições e o baixo uso em transações diárias dificultam sua adoção em uma escala comparável ao dólar.
Além disso, mencionou que governos e bancos centrais provavelmente resistiriam a qualquer mudança que pudesse enfraquecer sua soberania monetária.
Você leu sobre Bitcoin vai substituir o dólar. Para investir melhor, consulte os e-books, ferramentas e simuladores gratuitos do EuQueroInvestir! Aproveite e siga nosso canal no Whatsapp!