A divulgação do Plano Estratégico 2026–2030 da Petrobras (PETR4) gerou reações divididas entre analistas. Embora a estatal tenha aumentado projeções de produção e reduzido o capex total de cinco anos, o consenso entre BTG Pactual, Safra e Bradesco BBI é que o próximo ciclo será marcado por alto investimento no curto prazo, menor folga financeira e maior sensibilidade ao preço do Brent.
Entre as análises, o tom mais crítico apareceu no BTG Pactual (BPAC11), que avalia que o plano “entrega mais em produção, mas com menos espaço para manobras financeiras”.
BTG Pactual: mais produção, mas pressão no caixa e risco de alavancagem crescente
O BTG abriu sua nota descrevendo o plano como “tight”, ou seja, apertado financeiramente.
O banco vê avanços operacionais, mas afirma que o conjunto de capex elevado, premissas macroeconômicas otimistas e despesas relevantes tornam 2026 um ano particularmente frágil.
Segundo o relatório, a Petrobras:
- Revisou para cima toda a curva de produção, com 2026 indo de 2,4 mbpd para 2,5 mbpd, e 2028 subindo para 2,9 mbpd.
- Reduziu pouco o capex de 2026, contrariando expectativas do mercado – total de US$ 19,4 bi, com caixa de US$ 16,9 bi.
- Terá pico de capex apenas em 2027, impulsionado por Búzios, e não em 2026 como muitos esperavam.
- Mantém elevadas despesas de leasing (US$ 9–10 bi/ano), dificultando o avanço do fluxo de caixa livre.
O banco afirma que, mesmo com Brent mais alto previsto pela companhia (US$ 63/barril em 2026 e US$ 70/barril a partir de 2027), o equilíbrio financeiro ainda preocupa:
“Mesmo com premissas otimistas, a combinação de capex elevado e Brent mais baixo para 2026 leva a maior alavancagem no ano, com dividendos ordinários acima do FCFE”, apontou o BTG.
O BTG afirma ainda que o plano pode aumentar o ceticismo dos investidores, uma vez que:
- a capacidade de geração de caixa depende demais de preços mais altos de petróleo;
- o cenário eleitoral de 2026 também pressiona percepção de risco do país.
Safra: plano reduz capex total, amplia flexibilidade e acelera produção
O Safra adota uma leitura mais equilibrada do plano. Segundo o banco, o corte de 2% no capex total (para US$ 109 bi) e o aumento da produção mostram uma Petrobras focada em eficiência operacional, gestão de custos e revisão de portfólio.
Pontos ressaltados pelo Safra:
- Carteira de implementação caiu 7%, para US$ 91 bi, aumentando flexibilidade de execução.
- Meta de produção para 2026 subiu para 2,8 mi boepd, e 2028/29 para 2,9 mi boepd.
- Economia de US$ 12 bi em opex até 2030, com foco em logística, inspeções e intervenções de poços.
- Breakeven do Brent a US$ 59/bbl, reforçando resiliência em cenários moderados.
O banco afirma que o plano:
“É um bom roteiro para um ambiente de preços incertos, com foco contínuo em E&P e uma bem-vinda iniciativa de otimização de custos”, destacou o Safra.
O Safra mantém recomendação Outperform para PETR4, com tese apoiada no aumento de produção e eficiência operacional.
Leia também:
Bradesco BBI: capex de curto prazo elevado e menor investimento de longo prazo
O Bradesco BBI destacou que o plano era esperado e reforça o foco da companhia no curto prazo, mas chamou atenção para o nível elevado de investimentos até 2028.
Segundo o relatório:
- Os investimentos de curto prazo vieram “muito elevados”, enquanto os de longo prazo caíram substancialmente – principalmente em energias de baixo carbono.
- O banco mencionou que a companhia segue priorizando E&P e reforçou a projeção de Brent entre US$ 59–70, dependendo do cenário.
Para o BBI, o plano reforça uma Petrobras mais cautelosa e com foco operacional, mas que entra em 2026 ainda sem folga financeira confortável. A casa mantém recomendação de Compra, vendo oportunidades para 2026.
Conclusão: consenso de avanço operacional, mas 2026 preocupa
Apesar de diferenças de tom, as três casas convergem em três pontos:
- Produção mais forte é um dos grandes trunfos da estatal.
- Capex no curto prazo é elevado, exigindo execução cuidadosa.
- 2026 será o ano mais sensível, com alta dependência de Brent em níveis mais firmes.
O BTG Pactual foi o mais incisivo ao afirmar que o plano “pode tornar o mercado mais cético”, especialmente porque a relação entre fluxo de caixa e dividendos em 2026 tende a ser frágil.
Já Safra e BBI reconhecem desafios, mas avaliam que a companhia segue fortalecida operacionalmente e com capacidade de ajuste ao longo do plano.






