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Lego: o que a marca de brinquedos pode ensinar sobre finanças corporativas

Lego: o que a marca de brinquedos pode ensinar sobre finanças corporativas

O Lego é muito mais do que um brinquedo. É um símbolo da criatividade humana, capaz de transformar pequenas peças de plástico em castelos, cidades, foguetes e sonhos. Produzido pelo LEGO Group, o sistema patenteado de blocos de montar surgiu em meados da década de 1950 e se tornou um fenômeno mundial, com mais de 36 bilhões de peças fabricadas anualmente e presença em mais de 140 países. Mas ao longo destes anos, a empresa precisou se reinventar para enfrentar os desafios que estavam surgindo e mostra como é importante buscar saídas criativas para crises que surgem.

A história da Lego começa na pequena cidade de Billund, na Dinamarca, e está profundamente ligada à trajetória de um homem: Ole Kirk Kristiansen. Carpinteiro por profissão, Kristiansen viveu tempos difíceis — enfrentou dois incêndios, a morte da esposa e os efeitos devastadores da Grande Depressão dos anos 30. Ainda assim, encontrou na madeira uma forma de recomeçar, criando brinquedos simples, mas cheios de propósito.

Em 1932, ao lado do filho Godtfred, ele começou a fabricar pequenos brinquedos, como patos e trens de madeira. Dois anos depois, o sucesso foi tanto que o negócio passou a sustentar a família. Foi então que Ole decidiu dar um nome à empresa: Lego, uma abreviação das palavras dinamarquesas “leg godt”, que significam “brincar bem”.

Lego: virada nos anos 50

A virada decisiva veio nos anos 1950, quando o plástico começou a ganhar espaço na indústria. Visionário, Kristiansen percebeu o potencial do novo material e adaptou sua produção. Inspirado por blocos plásticos da empresa inglesa Kiddicraft, ele e o filho desenvolveram um sistema de encaixe próprio — o embrião do que viria a ser o Lego moderno. O conceito revolucionário permitia que as peças se unissem firmemente, mas pudessem ser separadas facilmente, abrindo um universo de possibilidades de montagem.

Hoje, o Lego é uma das principais fabricantes de brinquedos do planeta e líder absoluta no segmento de brinquedos de montar. A coleção atual conta com mais de 4.400 tipos de peças diferentes, fabricadas em 58 cores e produzidas em fábricas localizadas na Dinamarca, Tchéquia, Hungria, México e China.

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Mas o segredo do sucesso do Lego vai além da engenharia ou da escala industrial. Como explica o historiador britânico Tom Dyckhoff, “o Lego pode transportá-lo para qualquer lugar que sua imaginação queira levar”. Segundo ele, a relação entre os blocos e a arquitetura é direta: construir com Lego é, em essência, dar forma a ideias.

Décadas depois de sua criação, o brinquedo que nasceu da perseverança de um carpinteiro dinamarquês continua sendo uma poderosa ferramenta de aprendizado, expressão e criatividade. E é justamente nessa simplicidade — blocos que se encaixam e se reinventam — que o Lego encontra sua genialidade.

Da crise à reinvenção

Após flertar com a falência no início dos anos 2000, a Lego deu início a uma das reviravoltas mais emblemáticas do mundo corporativo. O que começou como uma crise de identidade — marcada por prejuízos milionários e perda de relevância no mercado — tornou-se o ponto de virada que levou a marca a reconectar-se com sua essência e com o público que, silenciosamente, mantinha vivo o espírito criativo do brinquedo: os adultos fãs de Lego, conhecidos como Afols (Adult Fans of Lego).

A década de 1990 marcou o início da turbulência. Em 1998, a Lego registrou seu primeiro prejuízo, e em 2003, o rombo chegou a US$ 238 milhões. Na época, a empresa se distanciou perigosamente de seu produto principal ao investir em linhas de roupas, parques temáticos, joias e videogames.

“Havia uma expectativa de que a marca Lego era mais valorizada do que o próprio produto Lego”, observou o ex-executivo Smith-Meyer.

As fábricas também reduziram a complexidade dos conjuntos, tentando simplificar o processo de montagem e priorizando a brincadeira imediata. O resultado foi um produto descaracterizado, que afastou clientes fiéis e confundiu novos consumidores.

“A Lego tentou inovar em todos os pontos errados”, afirmou o cineasta Daniel Junge, diretor do documentário A Lego Brickumentary (2014).

A crise, contudo, teve um efeito transformador. Pressionados por cortes orçamentários e pelo fracasso comercial, os executivos da Lego começaram a escutar vozes antes marginalizadas dentro da empresa — entre elas, os próprios fãs adultos. McKee, um dos defensores da comunidade Afol, relembra que passou anos pedindo que a companhia valorizasse esses consumidores engajados.

“A Lego tinha uma mina de ouro de oportunidades bem à sua frente, apenas não a percebia”, disse.

A partir daí, a cultura corporativa mudou. Funcionários como Brad Justus, Tormod Askildsen e Smith-Meyer ajudaram a criar a Equipe de Engajamento de Afols, que estabeleceu uma ponte direta entre os criadores da marca e sua comunidade global. A empresa começou a participar de convenções de fãs e a monitorar fóruns online, descobrindo ali uma base sólida de apaixonados por Lego com ideias criativas, experiência técnica e disposição para colaborar em novos projetos.

Esse movimento deu origem a uma nova fase de inovação colaborativa, na qual os fãs passaram a contribuir com sugestões para novos conjuntos, temas e até softwares de design. O diálogo com a comunidade ajudou a restaurar a identidade da marca, recuperando o valor central que sempre definiu o Lego: o prazer da construção, a imaginação e a colaboração.

Ao transformar uma crise em oportunidade, a Lego reconstruiu não apenas seu modelo de negócios, mas também seu vínculo com milhões de pessoas ao redor do mundo — provando que ouvir os próprios fãs pode ser o primeiro passo para reinventar um império.

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