Os fundos quantitativos, também conhecidos como “fundos quant”, são fundos de investimento nos quais a seleção de investimentos e decisões são tomadas por modelos que utilizam métodos analíticos e análise quantitativa avançada e não com a ajuda do intelecto humano.
O ser humano, obviamente, é parte do processo criativo dos modelos, mas não das decisões sobre a compra ou venda de um ativo que é autonomia do modelo, com base em todos os parâmetros colocados no modelo. Devido à melhor disponibilidade de dados de mercado e ao uso de tecnologia, os investidores preferem cada vez mais esses fundos.
As gestoras de fundos quantitativos preferem usar banco de dados personalizados, computadores avançados e muita tecnologia ao invés da análise artesanal feita pelo ser humano, nos processos tradicionais amplamente conhecidos.
Pelas parametrizações do modelo, na maioria dos casos, os fundos quantitativos apresentam relativamente menos perdas e riscos. Esses algoritmos não consideram opiniões, julgamentos ou experiências como acontece com gestores de fundos humanos. Ao invés disso, eles usam análise quantitativa para escolher os ativos certos para o período um de tempo específico.
A abordagem híbrida dos fundos quantitativos
Os fundos quantitativos podem ser considerados um cruzamento entre fundos geridos ativamente, onde sempre é necessário um gestor de fundos, e fundos de índice.
Em fundos inativos, o gestor do fundo toma decisões sobre o momento de entrada e saída dos investimentos, o que não acontece nos fundos quantitativos, onde métodos numéricos, programas automatizados e modelos quantitativos são usados para tomar decisões sobre ele.
No entanto, isso não significa que um gestor de fundos quantitativo terá suas mãos livres como um gestor de índice. Aqui, o gestor do fundo ainda seria responsável por monitorar o modelo quantitativo/ aritmético/ analítico que propõe a escolha do portfólio.
Princípios de investimento em fundos quantitativos
O investimento em fundos quantitativos é essencial para compor um portfólio, pois há uma redução dos vieses humanos na construção da carteira e eles são mais aderentes a regras fundamentais de investimento desenvolvidas através de ciclos de mercado, mantendo as regras claras, com mínima interferência humana.
No caso de fundos Multifatores, ou o conhecido “factor investing”, as regras fundamentais de investimento são comprar ações de empresas de qualidade, baratas, com boa geração de caixa, boa tendencia de preço e baixa volatilidade. Os modelos criados pelos gestores de Fundos quantitativos seguem cuidadosamente essas regras.
O processo de investimento detalhado
O processo de investimento desses fundos envolve três etapas:
- Incialmente são fornecidos dados ao sistema. Empresas com bons fatores, como dividend yield, crescimento dos lucros, retorno sobre o patrimônio líquido, yields de fluxo de caixa livre (FCF), são escolhidas sem viés, e as ações de empresas com alto risco, altas dívidas, ações com alta volatilidade e alocação de capital ineficiente são eliminadas. Isso significa que os detratores de longo prazo do alfa são eliminados, e fontes duráveis de alfa são selecionadas.
- Na segunda etapa, são desenvolvidos modelos que por sua vez passam por um processo de backtest, que consiste em verificar a performance dos modelos, gerando diversas métricas para o gestor identificar quais modelos apresentam maior potencial de ser incorporado ao fundo.
- No processo final de construção do portfólio, os modelos são avaliados conjuntamente para identificar potenciais descorrelações, exposições excessivas a riscos dentre outras métricas. Cada modelo selecionado passa por um processo de ponderação para compor a carteira do fundo. O mesmo processo acontece dentro de cada modelo, onde cada ação recebe um peso diferente para que ocorra:
- Uma maximização de retorno esperado do fundo;
- Uma minimização do risco esperado do fundo, ou
- Uma melhor relação risco-retorno para o fundo.
Desafios e Considerações
Os fundos quantitativos dependem de dados históricos para avaliação dos potenciais estratégias e desenvolvimento dos modelos. Cada característica incorporada aos modelos deve ser amplamente testada e validada, muitas vezes embasada em pesquisas acadêmicas desenvolvidas nos maiores centros de finanças do mundo.
Esses modelos usados podem ser extremamente complexos, e muitas vezes carente de transparência, mesmo para os desenvolvedores. Isso pode dificultar a avaliação do porquê um modelo não está apresentando a performance esperada.
Outro desafio são as mudanças repentinas no mercado, que acabam causando muito ruido nos dados quantitativos e que prejudicam uma correta alocação.
Por fim, existe uma grande dependência da qualidade dos dados utilizados bem como uma crescente utilização de modelos similares que podem reduzir o potencial de retorno esperado de um fundo quantitativo.
Conclusão: a promessa dos Fundos Quantitativos
O investimento em fundos quantitativas requer um entendimento das estratégias, dos potenciais benefícios e riscos, peculiaridades da alocação de ativos e seleção de fundos. Por isso, é importante que uma análise criteriosa seja feita na seleção de fundos quantitativos e os benefícios de incorporá-los a um portfólio de fundos.
Os fundos quantitativos podem superar estratégias convencionais de investimento, devido a busca por consistência na relação de risco-retorno.
Os fundos quantitativos podem não ser adequados para todos os tipos de investidores, especialmente aqueles que preferem uma abordagem mais intuitiva e manual de investir. Esses fundos exigem um bom entendimento de métodos quantitativos e a disposição para aceitar os riscos associados a estratégias orientadas por algoritmos.
Por Luciano França, economista e sócio-fundador da Avantgarde Asset Management, gestora especializada em fundos de investimento sistemáticos.