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Já imprimiu seu barril de petróleo hoje?

Já imprimiu seu barril de petróleo hoje?

“Você não pode imprimir um barril de petróleo ou uma tonelada de cobre.”

Essa frase foi dita por Larry McDonald, ex-executivo de Wall Street que previu a crise de 2008 e tornou-se referência quando o assunto são riscos sistêmicos ou antecipações de mudanças estruturais no mercado global. 

Em recente participação no podcast MacroVoices, ele defendeu a tese de que estamos entrando em um novo regime macroeconômico com foco em ativos reais, aqueles físicos e tangíveis que possuem um valor intrínseco. 

Esse ponto de vista é intrigante demais para passar batido, independentemente da sua corrente de pensamento ou da forma como você aloca seu patrimônio hoje. E tem me levado a reflexões diárias sobre o tema – algumas delas compartilho a seguir. 

O pano de fundo: uma economia inundada de dinheiro

Falando em imprimir, caro leitor, vale lembrar: desde a pandemia, o mundo vive uma explosão de liquidez. Houve uma expansão histórica da base monetária nos Estados Unidos, na Europa e no Brasil.  

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Em outras palavras, há mais dinheiro em circulação, com menos ativos escassos por trás. Isso fica ainda mais claro quando olhamos o próximo gráfico, que mostra o crescimento da base monetária bruta dos EUA. 

Essa é a raiz da inflação estrutural que enfrentamos hoje, mas ela não está sozinha. A atual fase de reindustrialização dos EUA, aliada à desglobalização e aos estímulos fiscais persistentes, acaba por criar um cenário ainda mais inflacionário.  

Falamos de um cenário em que produzir em território americano custa mais caro do que importar da Ásia. E os governos, em vez de cortar gastos, seguem ampliando déficits. 

Populismo, dívida e repressão financeira

O que vemos tanto nos EUA quanto no Brasil é o avanço de um populismo fiscal disfarçado de “responsabilidade social”, em que os governos gastam além da conta sem sinalizar contrapartidas. 

Assim, o endividamento explode e, para evitar crises de confiança, os governos só podem responder por dois caminhos: inflação e repressão financeira, ou seja, manter juros abaixo da inflação para reduzir o valor real da dívida. 

Nesse ambiente, por exemplo, faz cada vez menos sentido confiar cegamente em títulos públicos de longo prazo.

A migração para ativos tangíveis

É nesse contexto que entra a tese de Larry McDonald: a migração de capital para ativos reais. Estamos falando de ativos que não podem ser impressos, manipulados ou desvalorizados por decisões políticas. 

Entre os principais destaques desse ponto de vista estão: 

• Energia

Petróleo e gás natural, urânio 

• Metais industriais

Cobre (essencial para a transição energética e a reestruturação do grid elétrico dos EUA), lítio, níquel e alumínio (críticos para baterias, energia limpa e infraestrutura) 

• Metais preciosos

Ouro e prata (proteção clássica contra desvalorização monetária, preferidos por bancos centrais) 

• Terra e agricultura

Propriedades e commodities agrícolas, como milho, soja e trigo

• Infraestrutura e imóveis reais

Ativos físicos com receita regulada, resiliência inflacionária e baixa elasticidade de oferta 

Como posicionar seu portfólio?

Em resposta à própria tese, Larry McDonald propõe, nos EUA, a substituição do tradicional portfólio baseado na relação 60/40 (ações e bonds) por uma alocação mais “realista”, composta por 40% em ações, 30% em títulos e 30% em commodities. 

No Brasil, esse debate pode ganhar ainda mais relevância nos próximos anos. Talvez esteja chegando a hora em que repensaremos o excesso de exposição de nossas carteiras ao CDI, taxa que serve de referência para os investimentos em Renda Fixa no país. 

Ações de valor, como as pertencentes a empresas de energia, mineração, infraestrutura e terras, reforçariam seu protagonismo nesse novo cenário.

Falamos de empresas com ativos físicos, produção concreta e fluxo de caixa atual, muitas com Free Cash Flow Yield– ou rendimento do fluxo de caixa livre (que relaciona o fluxo de caixa de uma empresa com o seu valor de mercado) – de 10% a 15%. 

E se McDonald estiver certo… Como fica seu portfólio? 

Segundo ele, “estamos caminhando para um mundo multipolar, com inflação mais alta, juros mais altos, tensões geopolíticas… e, nesse mundo, as commodities tendem a superar as ações.” 

Independentemente do que o futuro nos reserva, com o sinal 100% verde à teoria de McDonald ou não, fica a provocação: O que você tem feito pelo seu portfólio, de olho nos próximos cenários?