Em tempos de oscilação no mercado financeiro, a dúvida de Cláudio, ouvinte de João Neves, analista da EQI Research, ecoa entre investidores de todos os perfis: renda fixa ainda vale a pena ou já chegou a hora de apostar na Bolsa?
O questionamento é pertinente, já que 2025 começou com ganhos relevantes para quem apostou em ações, mas também trouxe uma janela de oportunidades para os investidores de renda fixa. Para Neves, a resposta não é excludente: tanto Bolsa quanto renda fixa têm espaço dentro de uma carteira bem estruturada.
Diversificação como regra
“Vale a pena sempre ter um pouco de renda fixa ali, por mais otimista que você esteja com bolsa”, afirmou o analista. O motivo é simples: estabilidade. Caso o otimismo com a Bolsa não se concretize, os títulos garantem previsibilidade e reduzem o risco de perdas mais bruscas.
Neves reforça que o erro está nos extremos: “Apostar 100% em renda fixa, 100% em ações, 100% em qualquer coisa, acaba sendo bastante arriscado. Ou pode se arriscar muito ou perder alguma oportunidade.”
A estratégia recomendada é balancear. Enquanto a Bolsa oferece potencial de valorização no médio e longo prazo, a renda fixa cumpre o papel de amortecer riscos e gerar rendimento contínuo.
2025 mantém a atratividade da renda fixa
O desempenho positivo da renda fixa em 2025 poderia sugerir que a melhor parte já passou. Mas, segundo Neves, não é o caso: “Nesse momento especificamente, a gente ainda continua vendo que vale bastante investir em renda fixa.”
A principal razão está nos títulos públicos. As taxas de juros estão em níveis historicamente elevados, o que significa que o investidor é bem remunerado mesmo em um cenário de incerteza. O analista lembra que esse cenário só foi visto em períodos críticos da economia, como em 2015 e 2016, quando a instabilidade política durante o período de impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff elevou as taxas.
Já os créditos privados, apesar de também oferecerem alternativas, exigem cautela maior. “A gente tem um nível de spread muito baixo, então os títulos de crédito privado remuneram aquele risco específico de cada empresa um pouco menos do que costumam remunerar geralmente”, alertou.
Oportunidade de carrego
Um dos pontos destacados por Neves é a característica de carrego da renda fixa. Diferente da Bolsa, que depende da valorização das ações, os títulos remuneram o investidor simplesmente por serem mantidos em carteira.
Ele exemplifica: “Se você comprou ali uma NTNB 2035 valendo IPCA +7, você vai ter 7% ao ano real só para segurar esse título na carteira, mesmo que nada mude.” Para o analista, esse retorno ajustado ao risco é um diferencial poderoso: combina previsibilidade com ganhos expressivos frente ao cenário histórico.
Bolsa em alta, mas não exclusiva
Isso não significa que a Bolsa deve ser descartada. O analista reconhece que há otimismo com as ações, especialmente em um cenário de recuperação da economia e possível melhora no sentimento do mercado. Porém, ele reforça que o investidor não pode ignorar as oportunidades da renda fixa no momento atual.
“Na minha opinião, não acho que devemos olhar só para bolsa. A renda fixa ainda tem boas oportunidades, e especialmente com essas taxas que a gente vê hoje, são coisas muito interessantes tanto para carrego como para ganhos adicionais”, concluiu.
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