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Colonizados em Squanderville: EUA vão de ilha da poupança à ilha do desperdício

Colonizados em Squanderville: EUA vão de ilha da poupança à ilha do desperdício

Outro dia me deparei com esse artigo escrito em 2003 pelo lendário investidor de ações Warren Buffett

Em tradução livre, algo como: “O crescimento do déficit comercial americano está vendendo a nação para o exterior. Aqui está uma saída para resolver o problema – e precisamos agir agora.” 

imagem manchete fortune

Alarmista demais para quem sempre defendeu que, no fim das contas, o que importa é escolher boas empresas em vez de se preocupar com o macro, não? Pois bem, vamos ao que interessa. 

Buffett ilustra sua ideia de maneira brilhante, usando o exemplo de duas ilhas isoladas, de tamanho similar, produtoras de alimentos para subsistência. Em igualdade de condições, os cidadãos das duas ilhas trabalham oito horas por dia e vivem bem. 

Ele batiza essas ilhas de Squanderville (a ilha do desperdício) e Thriftville (a ilha da poupança). 

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Em determinado momento, os cidadãos da ilha da poupança têm a ideia de continuar vivendo com os alimentos produzidos em oito horas de trabalho, mas usar outras oito horas para produzir e vender alimentos à ilha do desperdício. 

Felizes da vida, os habitantes da ilha do desperdício param de trabalhar e começam a pagar pelos alimentos importados com Squanderbonds, denominados – como Buffett sugere – em Squanderbucks. 

Com o tempo, a ilha da poupança acumula uma quantidade enorme desses Squanderbonds, que representam direitos sobre a produção futura de alimentos na ilha do desperdício. Crédito. 

Algumas pessoas começam a se preocupar: como a ilha do desperdício vai pagar essa dívida acumulada? A única solução seria trabalhar mais. Mas ninguém dá bola… 

EUA colonizados em Squanderville: lascados e mal pagos 

Na ilha da poupança, a preocupação também cresce: será que os Squanderbonds têm valor real? Como os habitantes da ilha do desperdício pagariam essa dívida? 

Para reduzir riscos, os poupadores começam a vender os Squanderbonds e, sem dinheiro, trocam o crédito por terras na ilha do desperdício. Eventualmente, tomam todas as propriedades da ilha. 

Agora, os cidadãos da ilha do desperdício precisam não apenas trabalhar para se alimentar, mas também pagar aluguel pelas terras que um dia foram deles. 

Como Buffett sugere, é como ser colonizado por meio do comércio, e não pela conquista. 

EUA tomaram caminho perigoso

O exemplo é simples, mas Buffett estava alertando que, no início dos anos 2000, os EUA estavam seguindo esse caminho perigoso. 

Após as guerras mundiais, até 1970, os EUA agiam como a ilha da poupança, acumulando superávits comerciais e aumentando seu balanço patrimonial global. Mas, há décadas, essa situação se inverteu, e os EUA passaram a agir como a ilha do desperdício. 

Charlie Munger, parceiro de Buffett, sempre defendeu uma regra simples para criar riqueza ao longo do tempo: “Nunca arrisque o que você tem pelo que você não precisa.” 

Buffett lembra, no início do artigo, que seu alarmismo com o déficit comercial vem desde os anos 80. E sim, os EUA sobreviveram e prosperaram, mas como ele mesmo reforça na carta, citando Herb Stein: “Se algo não pode continuar para sempre, uma hora vai parar.” 

Não sabemos se isso acontecerá em seis meses ou cinco anos… Mas uma hora a conta chega. Aliás, quaisquer semelhanças com os EUA de 2025 não são mera coincidência. 

Coloca na conta do meu filho, por favor… 

O exemplo do colonialismo passivo mostra como uma geração usufruiu da riqueza, enquanto as futuras pagarão por isso indefinidamente. 

A proposta de Buffett no final do artigo era a criação de certificados de importação, que, como ele mesmo sugere, funcionariam como tarifas de importação. 

Déjà vu? 

Segundo Buffett, aumentar tarifas de forma sincronizada pode até elevar os preços internos, mas permitiria reduzir déficits comerciais que drenam ativos produtivos essenciais para o crescimento de longo prazo. 

gráfico tarifas: Squanderville EUA

Para ilustrar, veja o estudo do The Budget Lab: a taxa efetiva de tarifas dos EUA está nos menores patamares dos últimos 200 anos – justamente quando a dívida pública e os déficits comerciais avançam rapidamente. 

Trump parece estar apostando nessa mesma leitura de Buffett. 

EUA, ilha do desperdício x China, ilha da poupança

Se os EUA são a ilha do desperdício, e a China é a ilha da poupança, aqui vão algumas reflexões: 

A China será o país do desperdício? 

    Economia é dinâmica. Mas com perfis demográficos parecidos e disrupções tecnológicas em curso, é impossível cravar se os papéis podem se inverter. Não me parece o caso. Países asiáticos tradicionalmente poupam mais e trabalham mais.

    Um ajuste fiscal nos EUA passa, na minha visão, por aumento da produtividade e reindustrialização. O tamanho da tarifa necessária para equilibrar a balança é difícil estimar. O mais fácil? Sacrificar essa e talvez algumas gerações para equilibrar a conta. Mas convenhamos… 

    Adeus bônus demográfico 

      Buffett acertou a análise, mas errou o timing desde 1987. Agora pode ser diferente. 

      ciclo de vida nos países: Squanderville EUA

      EUA e China estão envelhecendo rapidamente. Em 1980 e 2000, especialmente a China, tinham um bônus demográfico a explorar, o que sustentou crescimento econômico e permitiu déficits comerciais dos EUA. 

      Agora, com as economias envelhecendo e a Europa ainda mais velha, quem vai querer sacrificar as próximas gerações? 

      Squanderville EUA

      Emergentes, I love you. 

        Países como Índia, Indonésia e México possuem populações mais jovens e capacidade de absorver déficits comerciais, sem poder impor tarifas recíprocas (o que geraria inflação interna e juros elevados). São bons candidatos para sustentar parte do crescimento global. 

        Como se proteger de Squanderville? 

          O cenário nunca é binário. Buffett, em 2003, apostava que o dólar se depreciaria, promovendo exportações e reindustrialização, com inflação e juros mais altos por mais tempo. 

          Logo, ETFs de países em desenvolvimento, moedas de países desenvolvidos ex-EUA e Tips e juros norte-americanos são ativos mais razoáveis para esse cenário que se desenha.  

          Agora, em 2025, Buffett aposta em conglomerados japoneses, tendo divulgado novos investimentos nas cinco maiores empresas do Japão. Tenho minhas dúvidas, mas sigo refletindo sobre o assunto. 

          E você, o que pensa sobre isso? Como acha que o Brasil se encaixa nessa realidade? Me mande uma mensagem em [email protected]

          Não sei você, mas leituras como essa me parecem muito mais importantes do que acompanhar o noticiário no calor dos acontecimentos. 

          Aprenda com o passado. Como diziam nossos avós: o futuro a Deus pertence. 

          Ou, como diria Charlie Munger

          “Tudo que eu quero saber é onde eu vou morrer, então nunca irei lá.” 

          Felipe Paletta, analista CNPI da EQI Research

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