Os investidores mais conservadores foram pegos de surpresa em setembro ao se deparar com retorno negativo do Tesouro Selic.
Tido até aqui como porto-seguro para quem não gosta de correr riscos, o Tesouro Selic, antiga Letra Financeira do Tesouro (LFT), teve queda de 0,27% no mês.
Após alguns ajustes feitos pelo Banco Central e pelo Tesouro Nacional, a expectativa é que a situação se estabilize. Até 14 de outubro, pelo IMA-S, índice da Anbima que serve como termômetro para os títulos pós-fixados atrelados à Selic, a variação das LFTs é de 0,12% (acompanhe nos gráficos abaixo a comparação entre setembro e outubro). No começo do mês, o desempenho ainda era negativo, depois mudou de direção.
No entanto, o risco prossegue enquanto não houver ajuste fiscal no país. Entenda o que vem acontecendo.

Resultado em setembro. Reprodução/Anbima

Resultado até 14 de outubro. Reprodução/Anbima
Tesouro Selic negativo não acontecia desde 2002
Uma rentabilidade negativa das LFTs (ou Tesouro Selic) era algo que não acontecia desde 2002, quando a então eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a política econômica que seria adotada assustava o mercado.
Agora, a incerteza é novamente o ingrediente que fez o ativo perder rentabilidade.
Os investidores temem, atualmente, que o governo não tenha capacidade de pagar suas dívidas, ou seja, dê um calote. Logo, para comprar o Tesouro Selic, que é uma dívida do governo, eles exigem um prêmio proporcionalmente maior pelo risco que passam a correr.
Preocupam os investidores a questão fiscal, já que o governo emite sinais contraditórios sobre respeitar ou não o teto de gastos e também o aumento significativo dos gastos públicos com a pandemia. Para complementar, a taxa Selic a 2%, em sua mínima histórica, já fazia com que a atratividade da renda fixa fosse menor.
Pedro Galdi, da Mirae Asset, aponta um outro fator que causa insegurança no mercado: o avanço da inflação. Mesmo que o Banco Central garanta que ela está sob controle, já há especulações de que a Selic possa voltar a subir em um futuro não tão distante. “Isto, mais a incerteza sobre a economia, geram volatilidade”, afirma.
BC e Tesouro fazem mudanças
Diante do risco de fechar dois meses seguidos com rentabilidade negativa no Tesouro Selic, o Banco Central e o Tesouro Nacional anunciaram nos últimos dias algumas mudanças para evitar que os títulos do governo percam investidores.
Uma das ações será encurtar a dívida. As LFTs com vencimento em março de 2023 deixarão de ser ofertadas.
Hoje (15) foi realizada uma oferta de LFTs com vencimento em março de 2022. A oferta era de até 1 milhão de papéis e foram negociados 383.200. A baixa procura liga o alerta de que os investidores ainda não se sentem confiantes em apostar no papel.
Além disso, haverá leilões de Nota do Tesouro Nacional série B (NTN-B), com vencimento em maio de 2023, em quatro terças-feiras: 20 de outubro, 3 de novembro, 1º e 15 de dezembro.
Também será limitado a R$ 600 bilhões o leilão de rolagem de compromissadas de 29 de outubro, o que deve aumentar a procura por papéis do Tesouro.
“Foi um ajuste técnico”, avalia João Pedro Brugger, assessor de investimentos e sócios da EQI Investimentos, explicando que o Banco Central precisou se adequar à demanda. Mas a causa, que é o risco fiscal, continua.
CDBs são opção mais segura no momento
De toda forma, com a rentabilidade negativa das LFTs, fica o alerta de que nenhum tipo de título do Tesouro é tão seguro assim.
Para quem deseja mais segurança no momento, a recomendação de Paulo Filipe de Souza, assessor e sócio da EQI Investimentos, são os Certificados de Depósito Bancário (CDBs) dos grandes bancos.
Os CDBs são oferecidos por corretoras e bancos e podem ser prefixados ou pós-fixados.
Eles não sofrem nenhum tipo de variação, justamente por não estarem suscetíveis à marcação a mercado, como os títulos públicos.
Para quem gosta de muita liquidez no investimento, há ainda os CDBs de liquidez diária, que garantem o resgate a qualquer momento sem perdas – mas, claro, ao custo de uma rentabilidade menor. Veja aqui nosso artigo sobre o tema.
Os CDBs de médio e longo prazo atrelados à inflação são os mais indicados, por manterem o poder de compra e oferecem os melhores rendimentos.
Os CDBs também são, em geral, investimentos bastante seguros porque têm a garantia do Fundo Garantidor de Crédito (FGC).
O FGC é uma instituição privada, sem fins lucrativos, que protege alguns tipos de ativos dos riscos de uma crise bancária sistêmica. Ou seja, mesmo que o banco “quebre”, seu dinheiro estará garantido.
Mas a proteção vai somente até R$ 250 mil por CPF em cada instituição financeira. Exatamente por isso, alguns investidores costumam manter CDBs em bancos variados, para poder ter a garantia superior aos R$ 250 mil.
Os especialistas recomendam ainda que o investidor sempre adquira CDBs de instituições mais sólidas, mesmo que as taxas de retorno sejam menores. Isto aumenta ainda mais a segurança.
Tesouro Selic ainda vale a pena?
Para quem já tem papéis do Tesouro Selic, a orientação dos especialistas é carregá-los até o vencimento. Desta forma, evita-se a volatilidade atual e as possíveis perdas na negociação no mercado secundário.
Já para quem tem como meta formar uma reserva de emergência, aquela que pede segurança e liquidez para eventualidades, o Tesouro Selic continua a ser uma possibilidade de diversificação. No entanto, no quesito liquidez sem perda de rentabilidade, os CDBs se apresentam como mais interessantes no momento.
É sempre importante frisar que, precisando do dinheiro antes do vencimento do Tesouro Selic, o investidor fica sujeito à marcação a mercado. A rentabilidade negativa no Tesouro Selic é rara, mas, como visto no mês passado, pode acontecer.