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Investimento estrangeiro concentra-se cada vez mais no setor primário

Investimento estrangeiro concentra-se cada vez mais no setor primário

O volume de investimento estrangeiro no Brasil concentra-se cada vez mais no setor primário em detrimento de investimentos em atividades industriais, conforme Boletim da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (SOBEET).

A entidade destaca que a magnitude dessa concentração é atípica mesmo entre os países emergentes. Essa concentração foi acentuada desde 2019, o que traz implicações de longo prazo.

De acordo com o relatório, os ingressos de investimentos diretos estrangeiros vêm demonstrando resiliência nos últimos anos.

Sendo o maior ingresso desse investimento no Brasil em 2011, com volume de US$ 97,4 bilhões.

Em 2015, o investimento estrangeiro chegou a recuar para US$ 50 bilhões, mas voltou a se recuperar nos anos seguintes.

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No ano passado, o volume de ingressos de IDE atingiu US$ 72 bilhões

Dessa forma, a economia brasileira manteve-se na sexta posição no ranking das economias com mais ingressos de IDE no Mundo, as entradas são equivalentes a 4,7% dos fluxos globais de IDE.

Desigualdade entre setores

A resiliência dos fluxos de investimentos diretos ocorre de maneira desigual entre os diversos setores da
economia brasileira.

Conforme a SOBEET, a evolução setorial dos influxos de Investimentos Diretos no País (IDP) indica mudanças significativas em seu perfil desde 2011, quando atingiu seu volume máximo.

A fatia destinada para setores de prestação de serviços, primeiramente, manteve-se relativamente estável desde então, entre 45% e 53% do IDP total, com exceção dos anos de 2014 e 2017.

No entanto, sua composição alterou nos últimos anos. O IDP em Serviços realizado nos setores de comércio e telecomunicações perdeu participação nos últimos anos em favor dos setores de eletricidade, gás e saneamento.

Demais setores

O direcionamento do investimento estrangeiro no Brasil demonstra mudanças mais significativas nos demais setores.

A participação das entradas de IDP na indústria é decrescente ao longo dos anos.

Os principais destaques negativos ficam por conta dos setores de veículos automotores e de metalurgia, com reduções acentuadas de suas participações no total do IDP ingressado no Brasil ao longo dos últimos anos.

A exceção fica por conta do IDP no setor de papel e celulose. Não fosse a participação deste, com atividade integrada à agricultura, a participação do IDP da indústria no IDP total seria ainda menor.

Segundo a organização, a perda de participação de investimentos diretos em setores industriais do IDP ingressado no Brasil nos últimos anos deu-se em favor de investimentos diretos realizados em atividades no setor primário.

Ao longos dos últimos anos, os investimentos estrangeiros voltados ao extrativismo mineral aumentaram, em especial na extração de petróleo e gás natural.

Este é o setor da economia brasileira que mais recebe investimentos diretos.

Ou seja, há tendência de concentração de IDP no setor primário no Brasil em detrimento de entradas de
IDP em atividades industriais.

De acordo com o relatório, essa tendência se acelerou no passado recente. O IDP na indústria foi em média 2,4 vezes superior ao IDP em atividades extrativistas entre os anos de 2011 a 2018.

Em 2019, caiu para 0,9 desde 2019. Ou seja, nos últimos 18 meses o Brasil recebeu mais IDP em atividades extrativistas do que em atividades industriais, em especial no setor de petróleo e gás.

Cabe ressaltar que dados da Unctad indicam que essa concentração não é o padrão em economias emergentes.

Se a relação entre ingressos de IDP na indústria e no extrativismo é de 0,9 no Brasil, na média das economias latinas essa relação varia entre 1,9 e 5,1.

Na média das economias asiáticas em desenvolvimento essa relação varia entre 17 e 32,9.

Dessa forma, a preponderância no Brasil de ingressos de IDP no setor primário sobre ingressos de IDP em atividades industriais não ocorre na média de outras economias emergentes.

Implicações

Conforme a SOBEET, os influxos de IDP no setor primário, acentuada desde 2019, traz implicações de longo prazo para o Brasil.

A primeira implicação está na crescente condicionalidade de ciclos de investimento estrangeiros à evolução de preços de commodities.

Além disso, a geração de empregos desse novo perfil de IDP pode ser inferior ao do perfil anterior.

Isso porque as atividades de extração de petróleo, gás e minérios tendem a ser menos intensivas em mão de-obra do que atividades industriais e de prestação de serviços.

Também deve se questionar se esse novo perfil do IDP apresenta a mesmas possibilidades observadas no passado de transmissão e difusão de conhecimentos, competências e habilidades das empresas estrangeiras para empresas brasileiras.