Antônio Delfim Netto, um dos mais influentes economistas e políticos brasileiros do século 20, faleceu na madrugada desta segunda-feira (12), aos 96 anos.
Delfim Netto esteve internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, desde o dia 5 de agosto, e veio a óbito em decorrência de complicações no seu quadro de saúde. Ele deixa uma filha e um neto. O enterro será restrito aos familiares, sem velório aberto ao público.
Quem é Delfim Netto?
Nascido em 1º de maio de 1928, em São Paulo, Delfim Netto graduou-se em Ciências Econômicas pela Universidade de São Paulo (USP) em 1948, onde rapidamente se destacou, tornando-se professor assistente logo após sua formação.
Em 1963, alcançou o cargo de professor catedrático na Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da USP (FEA-USP), tornando-se um dos primeiros ex-alunos da instituição a conquistar essa posição após a regulamentação da profissão de economista no Brasil.
Figura central do “milagre econômico”
Delfim Netto ganhou notoriedade no cenário político brasileiro ao integrar, em 1959, a equipe de planejamento do governo de São Paulo, sob o comando de Carlos Alberto de Carvalho Pinto.
Posteriormente, durante o regime militar, tornou-se uma figura central na economia brasileira, servindo como ministro da Fazenda de 1967 a 1974. Durante sua gestão, implementou medidas que resultaram no “milagre econômico” brasileiro, período de expressivo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e atração de capital externo. No entanto, sua trajetória também foi marcada por controvérsias, incluindo sua assinatura no Ato Institucional Nº 5 (AI-5) em 1968, que intensificou a repressão política durante a ditadura militar.
O que foi o “milagre econômico”
O milagre econômico brasileiro foi um período de crescimento notável na economia do país, caracterizado por taxas excepcionais de aumento do Produto Interno Bruto (PIB). Esse fenômeno ocorreu durante a ditadura militar, começando em 1968, quando medidas autoritárias foram implementadas para promover a estabilidade política.
Esse período destacou-se por um crescimento médio de 10% ao ano, um avanço significativo na industrialização, modernização da infraestrutura e um aumento das exportações, o que impulsionou a economia brasileira. No entanto, também gerou um grande endividamento externo, manteve a desigualdade social e trouxe impactos ambientais negativos.
Durante essa fase, várias obras importantes foram realizadas, como a construção da Rodovia Transamazônica, das usinas hidrelétricas de Itaipu e Tucuruí, da Ferrovia do Aço e do Complexo Industrial de Suape.
O “milagre” começou a enfraquecer nos primeiros anos da década de 1970, devido à Crise do Petróleo, ao aumento da dívida externa e às dificuldades de refinanciamento. As consequências desse período se manifestaram em uma crise econômica prolongada, elevada dívida externa, persistente desigualdade social e na necessidade de reformas econômicas para enfrentar os desafios do período pós-milagre.
Aliança polêmica com Lula
Após o fim do regime militar, Delfim continuou sua carreira política, servindo como deputado federal por São Paulo entre 1987 e 2007. Durante esse período, foi uma voz influente no Congresso e manteve-se próximo dos governos de diferentes espectros políticos, destacando-se por sua aliança com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante o segundo mandato deste.
Em 2007, Delfim foi nomeado membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável (CDESS), o “Conselhão”, reafirmando sua influência na política econômica do país.
No campo acadêmico, Delfim Netto era um defensor das ideias da teoria neoclássica, com uma abordagem keynesiana no plano macroeconômico. Suas pesquisas e contribuições para o planejamento governamental e a teoria do desenvolvimento econômico marcaram sua carreira como economista.
Escândalos de corrupção
Contudo, sua trajetória também foi envolvida em escândalos de corrupção. Durante as investigações da Operação Lava Jato, Delfim Netto foi acusado de receber propinas na construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará. Em 2018, teve R$ 4,4 milhões bloqueados pelo Ministério Público Federal, em função das acusações de corrupção, que ele negou, alegando que os valores recebidos foram por consultoria.