Uma estimativa do Banco Central (BC), divulgada em nota técnica na segunda-feira (23), aponta que beneficiários do Bolsa Família enviaram R$ 10,51 bilhões para casas de apostas entre janeiro e agosto de 2024, utilizando o sistema de pagamento Pix.
O presidente do BC, Roberto Campos Neto, comentou o resultado da estimativa do BC nesta terça-feira (24), durante evento do Banco Safra em São Paulo, classificando o dado como “bastante preocupante” e destacando que o volume de apostas pode estar contribuindo para o aumento da inadimplência entre as famílias brasileiras. O estudo aponta que, mensalmente, os beneficiários apostaram uma média de R$ 1,31 bilhão, o que equivale a R$ 147 por pessoa.
Segundo o levantamento, mais de 8,9 milhões de pessoas cadastradas no Bolsa Família destinaram em média R$ 1.179 cada para as plataformas de apostas durante o período. Segundo o BC, um estudo mais aprofundado está em curso e a exatidão dos números é um desafio, já que muitas das casas de apostas não operam sob o nome divulgado na mídia, nem estão devidamente registradas no setor econômico correspondente (CNAE 9200-3/99, relacionado à exploração de jogos de azar e apostas).
Dentre os apostadores identificados, 5,4 milhões (60,5%) são chefes de família que recebem o Bolsa Família. Eles enviaram R$ 6,23 bilhões (59,3% do total) para as casas de apostas por meio do Pix. Homens aparecem como maiores apostadores em relação às mulheres, com 32% dos beneficiários do sexo masculino realizando apostas, contra 28% das mulheres.
Os dados analisados pelo BC se restringem às transações realizadas via Pix, excluindo outras formas de pagamento como cartões de crédito e débito. O levantamento se concentra em 36 plataformas de apostas, consideradas as principais patrocinadoras de eventos esportivos no Brasil e foi realizado a pedido do senador Omar Aziz (PSD-AM).
Bolsa Família e apostas: perfil dos apostadores
O BC estimou que, entre janeiro e agosto de 2024, aproximadamente 24 milhões de brasileiros realizaram pelo menos uma transação via Pix para casas de apostas, com valores mensais variando de R$ 18 bilhões a R$ 21 bilhões. A autoridade monetária afirmou que cerca de 15% do valor apostado é retido pelas empresas, com o restante possivelmente sendo pago em prêmios.
A maioria dos apostadores tem entre 20 e 30 anos, embora também haja participação de pessoas em outras faixas etárias. O valor médio das transferências aumenta com a idade: jovens apostam cerca de R$ 100 por mês, enquanto idosos podem transferir até R$ 3 mil mensais.
Em agosto, o BC estimou que 5 milhões de beneficiários do Bolsa Família enviaram R$ 3 bilhões para casas de apostas via Pix. A autoridade monetária observou que esse comportamento é coerente com outros estudos que indicam que as famílias de baixa renda são as mais impactadas pelas apostas esportivas, sendo atraídas pela promessa de ganhos rápidos em um contexto de vulnerabilidade financeira.
